quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

O turismo tem sido uma aprendizagem constante ao longo da minha vida

 Anabela Pereira, Guia intérprete a desempenhar as suas funções no município de Bragança, teve a gentileza de me fazer chegar às mãos um Panfleto sobre a nossa Bragança editado nos anos 70 do séc. XX.

Não podia perder a oportunidade de lhe fazer um pedido:

- Anabela, fale-nos um pouco sobre este Panfleto e sobre a atividade que abraça com denodo, profissionalismo e um prazer que faz transparecer para quem a conhece e para quem já teve o gosto de a ver e ouvir falar da nossa terra.

Anabela Pereira, acedeu ao meu pedido e aqui estamos a partilhar mais um pouco da história de Bragança.

Muito obrigado Anabela.

----------------------------------------------------------------------------------------------------------

Henrique

Não sei bem que lhe diga, pois devido à minha profissão sou pessoa para falar muito mas escrever, pouco gosto. Tentarei elucidá-lo de modo a localizar as fotos no espaço e no tempo mas peço-lhe que, pela experiência que tem, retire das minhas palavras apenas aquilo que interessa para o assunto em causa.

A brochura  cujas fotos lhe enviei é, por si só, um convite à descoberta da nossa cidade. 

Trata-se de um folheto impresso pela Grafinor em Mirandela (não sei dizer-lhe o ano), de formato Tipo A 3, de fácil manuseabilidade, dobrado de forma pertinente. De facto ao abrir, o visitante depara-se de imediato com a sua própria localização e as distâncias que o separam das cidades mais  próximas, sendo esse um fator essencial para quem viaja.

O mapa em si, não contem o nome das ruas, contudo, está devidamente legendado e traduzido para francês, inglês e alemão, facto raro para a época. De salientar que este mapa permite-nos ter hoje uma perceção clara da enorme evolução que a nossa cidade teve desde então.

Na parte inferior do mapa encontra-se uma referência importante, mas não demasiado exaustiva, (os turistas preferem informações resumidas mas precisas, para não perderem demasiado tempo) alusiva aos pontos de interesse mais significativos e à oferta turística do concelho.

A capa e contracapa da brochura exibem uma bela pintura (desconheço o autor, embora conste a sua assinatura mas de forma ilegível) de uma parte da cidadela em que se destaca, a Torre de Menagem e a Torre da Princesa. De realçar que, quer a capa, quer a contracapa, têm na parte superior uma faixa com cada uma das cores da cidade: azul e amarelo respetivamente.

De realçar ainda que, toda a brochura apresenta fotografias de qualidade que incitam a conhecer os pontos de interesse turísticos mais relevantes, de tal modo que, embora seja simples é concisa, e torna-se uma ferramenta bem ao gosto de um turista que pretenda conhecer ao seu ritmo próprio.

Para o situar no tempo, repito que iniciei as minhas funções  a 1 de agosto de 1977, num improvisado "Posto de Turismo", situado no canto esquerdo de quem entra, no hall de entrada da antiga Câmara Municipal, hoje auditório Paulo Quintela. Cerca de um ano depois foi construído de raiz, um Posto de Turismo naquela que é hoje a Av. Cidade de Zamora, precisamente no local onde se encontra hoje a estátua de homenagem a D. Afonso Henriques. Era, para quem se lembra, um pequeno edifício em madeira, de forma arredondada e localizado num ponto estratégico, para quem entrava pela fronteira de Quintanilha. O seu funcionamento estava entregue à chamada Comissão Municipal de Turismo, constituída  pelo Sr. Manel do café Lisboa (não me lembro do apelido), pelo Sr. Valdemar Barreira da Electrónica e pelo Sr. Adérito Lhano do Banco de Fomento. Em 1983, com a criação da Região de Turismo do Nordeste Transmontano que abrangia os doze municípios do distrito, o seu funcionamento foi entregue ao Sr. Adérito Lhano, presidente da mesma, sem todavia deixar de pertencer à Câmara Municipal. A seu pedido, colaborei sempre com ele e mais tarde com todos aqueles que o sucederam, nomeadamente, o Dr. António Afonso, o Dr. António Tiza e o Dr. Júlio Meirinhos.

Desenvolvemos juntos diversas atividades, tais como participações em eventos promocionais da cidade e região. Solicitaram sempre o meu apoio nas visitas guiadas e na elaboração das novas brochuras alusivas à cidade e à região. Elaborei a parte histórica das mesmas e a respetiva tradução para as línguas inglesa, francesa e castelhana.

Foi no tempo do Sr. Lhano que foi criado o novo mapa da cidade e pouco a pouco deixou de se utilizar o mapa cujas fotos lhe enviei.

Se, em 1977, Bragança já possuía um mapa com muita qualidade para a época,  muitas cidades, pelo contrário, nem Posto de Turismo tinham e muito menos um mapa! Isso, entre outras coisas, leva-me a dizer que a nossa zona tem sido sempre injustiçada ao longo dos tempos e Bragança não merece e este povo não merece. Aprendi a conhecer-lhe os defeitos mas também as qualidades. Este povo e sobretudo o do nordeste é, como costuma dizer o meu filho, um povo duro mas puro! É um povo hospitaleiro mas não servil, desconfiado e às vezes ingénuo, simples, humilde mas avisado e lutador. Dificilmente perdemos o sentido da dignidade e a honra da palavra dada continua a fazer parte da nossa índole.

Recordo ainda as palavras que o conceituado Prof. Dr. José Hermano Saraiva me transmitiu, aquando da sua estada em Bragança para as filmagens de um dos seus programas, " horizontes da memória " e a quem tive a honra de acompanhar durante 3 dias: o povo transmontano é a nata da nata dos portugueses!

Henrique, devo dizer-lhe que quando se ama aquilo que se faz, tudo se torna mais fácil. O turismo tem sido uma aprendizagem constante ao longo da minha vida. Graças a ele adquiri conhecimentos ímpares ao desempenhar funções de intérprete, tradutora e guia, lidando e trabalhando diretamente com todo o tipo de pessoas, instituições, entidades conceituadas, grandes personalidades do mundo da cultura ou do mundo da política e tantas, tantas outras culturas. Devido aos meus conhecimentos linguísticos, servi de intérprete e tradutora, ao longo dos anos, na nossa instituição claro, mas também no Tribunal, na GNR, na PSP e no SEF entre outros. Aprendi a desenvolver um carater firme, defendendo sempre, com a garra de transmontana que sou, a minha profissão, que abrange tantas áreas. Ao defender a minha terra, estou a lutar pelos interesses  de toda uma cidade, de todo um povo e consequentemente, do futuro do meu filho e do meu neto.

Um abraço.

Anabela Pereira

Sem comentários:

Enviar um comentário