"O projeto foi toda uma proeza que conseguiu juntar nove parceiros de Portugal e Espanha e conseguiu captar investimentos financeiros relevantes para um projeto, estritamente, ligado à conservação da natureza, o que deixou uma marca única nestas áreas protegidas transfronteiriças, apenas separadas pelas águas do rio Douro", disse à Lusa o biólogo do Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), António Monteiro.
Lançada há cinco anos por nove entidades ibéricas ligadas à conservação da natureza no Douro Internacional, a iniciativa apresentou resultados "positivos" nomeadamente no reforço da população de aves como a águia - perdigueira e o britango e na conservação de outras espécies "emblemáticas" que nidificam neste território fronteiriço do rio Douro.
O balanço deste programa tido como "emblemático" foi dado a conhecer em Mogadouro, distrito de Bragança, nas cerimónias do 23.º aniversário do Parque Natural do Douro Internacional (PNDI).
"Há todo um processo que já decorre há 23 anos, a idade do PNDI, mas o Life Rupis é corolário de todo este trabalho de conservação da avifauna deste território", vincou o especialista em conservação da natureza e biodiversidade.
António Monteiro destaca o benefício direto nas populações de aves rupículas (aves que nidificam nas escarpas rochosas) com destaque para a pequena colônia de abutre preto que se encontrava "criticamente ameaçada de extinção em Portugal".
"O abutre preto já tem um pequeno núcleo populacional junto à fronteira no território a meio do PNDI que agrega cerca de 10 a 20 indivíduos. Há o registo de dois casais que já nidificam por estas paragens", indicou o biólogo.
O PNDI é considerado como um "verdadeiro santuário europeu" de aves rupículas onde espécies como o britango já contabilizam 120 casais nidificantes.
A águia de Bonelli, que nidifica no ponto mais a norte da área protegida ibérica já soma 14 casais, "e está estável".
"Estas duas espécies estavam ameaçadas e foram recuperadas nos últimos anos", frisou o biólogo do ICNF.
O projeto Life Rupis teve início em julho de 2015 e tem uma duração de cinco anos, e foi dotado com um financiamento de 3,5 milhões de euros, comparticipado a 75% pelo programa LIFE da União Europeia e cabendo os restantes 25% aos nove parceiros envolvidos.
Os nove parceiros envolvidos neste projeto são a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), Associação Transumância e Natureza, Palombar, Instituto de Conservação da Natureza e Florestas, Junta de Castilla y León, Fundación Patrimonio Natural de Castilla y León, Vulture Conservation Foundation, EDP Distribuição e GNR.
Segundo Joaquim Teodósio, coordenador do Life Rupis e membro da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), o britango e a águia-perdigueira estiveram em perigo de extinção, tanto em Portugal como em Espanha e o Life Rupis contribuiu para "a sua estabilização"
"O britango é o abutre mais pequeno da Europa. Esteve classificado como 'em perigo' no território Europeu, onde as suas populações registaram um decréscimo de 50% nos últimos 40 anos, e uma elevada perda de 'habitat'", explicou.
Já a águia-perdigueira teve um estatuto de "quase ameaçada" na Europa, devido ao decréscimo populacional e à pressão sobre as suas populações.
"Estamos a falar de dois parques naturais ibéricos, houve articulação entre as partes envolvidas, quer do lado português, quer do lado espanhol, e que deixam registos importantes para o futuro da fauna e da flora de ambos o território", explicou à Lusa aquele membro da SPEA.
Joaquim Teodósio salientou a criação da primeira brigada cinotécnica antivenenos do Norte do país, que envolveu forças da GNR na investigação de 37 situações, com 17 em que a presença de veneno nos cadáveres das aves foi confirmada.
"Infelizmente, sem nenhum caso a seguir em tribunal", lamentou o responsável.
Outros dos projetos em destaque foi o aumento do conhecimento aplicado à conservação da natureza e do trabalho integrado e coordenado dos dois lados da fronteira onde foram identificadas as ameaças mais graves à avifauna: o uso de veneno, mortalidade em linhas elétricas, incêndios florestais.
Outra das ações foi a correção de 239 postes perigosos em mais de 51 quilômetros de linhas elétricas avaliadas como perigosas para a avifauna nestas áreas protegidas.
Foram contabilizados pelos promotores do Life Rupis um investimento total de 2, 7 milhões no território, incluindo reforço das capacidades técnicas e institucionais dos vários parceiros, nomeadamente Organizações Não Governamentais (ONG) neste território do Douro Internacional.
O programa Life Rupis também incluiu um programa de educação ambiental que envolveu todas as escolas da região onde participaram mais de 5.000 alunos e professores.
O #ParqueNatural do #Douro Internacional comemora 23 anos. Esta #áreaprotegida, com aproximadamente 87.000 ha, abrange os municípios de Mogadouro, Miranda do Douro, Freixo de Espada à Cinta e Figueira de Castelo Rodrigo.
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