"Em tempos e ocasiões festivas tudo se transfigura e a banda sonora convida à alegria e ao divertimento, ao convívio e à celebração comunitária, invertendo a dominante de praticamente todo o ano", indica o autor, que acrescenta que "a proposta de abordagem não podia ser mais claramente apresentada: demandar as aldeias, em tempos de realização de rituais com máscaras, sobretudo durante o período do Solstício de Inverno, para ‘ouver’, ou seja para ouvir e ver a festa das máscaras”, explicou o autor do trabalho e diretor da Sons da Terra, Mário Correia.
Este novo livro, com um CD incluído, será apresentado no sábado, no Centro de Música Tradicional Sons da Terra, em Sendim, no concelho de Miranda do Douro, no distrito de Bragança, e contará com a presença de várias personalidades ligadas à etnografia e ao estudo das máscaras no Nordeste Transmontano.
De acordo com Mário Correia, em tempos de rotinas determinadas pelos ciclos vitais de trabalho são sobretudo as tarefas agrícolas que conformam e determinam as matrizes dominantes do ambiente sonoro vivido ao longo dos dias que se organizam no quadro das estações do ano.
"Entendemos que esta deve ser vivida e experimentada na sua totalidade expressiva sob pena, a não ser assim, de ser amputada a sua compreensão, sem fragmentações artificiais", vincou.
Segundo o autor, a matriz sonora da festa foi, de um modo geral, preterida ou secundarizada, quando não mesmo menosprezada ou desvalorizada na sua função estruturante. As máscaradas do Solstício de Inverno foram sobretudo abordadas pela componente das máscaras, não raro as descontextualizando ou isolando do conjunto dos sentidos e significados do ritual festivo.
“O quadro de contextos e de vivências da festa constitui uma moldura de significantes e, nesse propósito, as matrizes das paisagens sonoras são elementos que de modo algum podem ser desvalorizados”, concretizou.
Para Mário Correia, importa "(re)conhecer" a paisagem sonora da festa, na qual as sonoridades musicais desempenham um papel central e estruturante. "Não sendo, no entanto, estas sonoridades dissociáveis de muitos outros sons que convergem no espaço acústico que constitui o território performativo da festa e que constituem elementos que importa percecionar", vincou.
Uma vez compreendidos os contextos e as vivências das festas das mascaradas do Solstício de Inverno em terras de Miranda do Douro, importa estudar e "percecionar" as respetivas paisagens sonoras, defende.
A proposta passa por uma análise de quem quer abrir novos caminhos para a compreensão da totalidade expressiva destas festas tradicionais, integrando as respetivas paisagens sonoras num quadro de matrizes caracterizadoras.
"O futuro nos dirá, com certeza, sobre a validade e interesse desta nossa proposta. Fica, no entanto, a certeza de que nos moveu a vontade de abrir uma janela nova para a sua abordagem e compreensão, tarefa nem sempre fácil em tempos de volatilidade superficial e “espetacularização mercantilista” das expressões das culturas populares e tradicionais", concluiu o autor.
O livro é acompanhado por um disco compacto, com elementos sonoros registados durante a concretização das três festas com mascaradas realizadas no Solstício de Inverno no concelho de Miranda do Douro: Silva, Constantim e Vila Chã de Braciosa.
Apresentação do livro "As Mascaradas do Solstício de Inverno em Terras de Miranda do Douro. Contextos, Vivências e Paisagens Sonoras", de Mário Correia.
Local: Centro de Música Tradicional Sons da Terra
Rua da Ermida, 55 - Sendim
Hora: 15h30
Apresentação: Antero Neto
Sem comentários:
Enviar um comentário