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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

domingo, 7 de agosto de 2022

Ribeiros: Estudo alerta para efeitos do desaparecimento de pequenos invertebrados

 Uma equipa internacional de cientistas, que incluiu uma investigadora da Universidade de Coimbra, concluiu que haverá um grande impacto para a reciclagem dos detritos vegetais nestes cursos de água, caso as espécies associadas às areias, pedras e plantas aquáticas sejam dizimadas pelas alterações do clima.


Este estudo foi realizado por 13 investigadores de sete países, liderados por dois cientistas da Fujian Normal University, na China, Kay Yue e Fuzhong Wu. Da equipa fez também parte uma investigadora do MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente, Verónica Ferreira, ligada à Universidade de Coimbra (UC).

Os cientistas avaliaram “os efeitos dos invertebrados na decomposição de detritos vegetais em ribeiros a nível global”, explica um comunicado da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC (FCTUC). Os resultados foram publicados na revista científica Biological Reviews.

Em causa estão pequenos animais característicos dos ambientes húmidos associados aos ribeiros, incluindo larvas de dípteros (moscas) e de tricópteros. Estes últimos são insectos aquáticos da ordem Trichoptera, que enquanto são larvas vivem dentro da água.

Larvas de tricópteros (ordem Trichoptera), excepto as duas larvas de dípteros (ordem Diptera), ambas do género Tipula, no canto inferior esquerdo. Imagens: Andreia Ferreira

Para obterem resultados, os investigadores recorreram à técnica de meta-análise, que permite a “integração de evidência científica publicada para abordar questões a larga escala e até mesmo novas questões que ainda não tenham sido abordadas empiricamente”, explica Verónica Ferreira. “Foram considerados 141 estudos que cumpriam critérios específicos, que contribuíram com 2707 observações em ribeiros não poluídos distribuídos principalmente pela América do Norte, América do Sul, Europa, Ásia Oriental e Oceânia”, acrescenta o comunicado.

Processo fundamental está em perigo

No geral, os estudos analisados pela equipa compararam o que acontece aos restos de folhas e outros detritos vegetais quando estão presentes e quando estão ausentes os pequenos invertebrados dos ribeiros que tratam da sua decomposição. Para isso, os cientistas costumam colocar os restos de vegetação em redes dentro dos ribeiros. Algumas redes têm uma malha mais larga e deixam entrar os invertebrados, enquanto que outras são de malha muito fina e impedem essa passagem.

Foto: FCTUC

Ao comparar os resultados dos 141 estudos realizados, a equipa verificou que a nível global a presença dos invertebrados “estimula a decomposição de folhadas em média em 74%, sendo o efeito mais forte quanto maior a densidade, biomassa e diversidade de invertebrados”, indica a FCTUC.

“Este resultado sugere que o eventual desaparecimento dos invertebrados dos ribeiros, em resultado de alterações ambientais induzidas pelas atividades humanas ou alterações climáticas, terá um grande impacto na decomposição das folhadas, com efeitos nos ciclos dos nutrientes e do carbono”, sublinham.

A importância dos detritos nos ribeiros

Mas porque é que estes investigadores se dedicaram aos ribeiros? A questão é que estes formam a maioria das linhas de água numa bacia hidrográfica, recebendo “grande quantidade de detritos vegetais produzidos pela vegetação circundante”, explica Verónica Ferreira. “São estes detritos que vão sustentar em grande parte as cadeias alimentares nestes ecossistemas e também a jusante, incluindo grandes rios e zonas costeiras.”

No entanto, para isso, esses restos de vegetação têm primeiro de ser decompostos.

De acordo com a investigadora, “é especialmente importante compreender quem são os organismos intervenientes” nessa decomposição e também “como é que reagem a alterações ambientais”, pois este é um “processo fundamental” no que respeita aos ribeiros. São esses detritos que sustentam “as cadeias alimentares aquáticas”, sendo também “parte integrante dos ciclos de nutrientes e de carbono a nível global”.

A maior surpresa

Ainda assim, o que mais surpreendeu a equipa foi quando verificaram que o papel destes pequenos invertebrados na decomposição das folhas e de outros restos é especialmente maior na fase inicial deste processo, ao contrário do que se pensava.

“Isto é surpreendente porque tem sido demonstrado que os invertebrados trituradores preferem consumir folhada que já foi colonizada pelos decompositores microbianos, que a enriquecem em nutrientes e a tornam mais palatável. No entanto, o maior papel dos invertebrados durante a fase inicial do processo sugere que os invertebrados podem estar menos dependentes da pré-colonização microbiana da folhada do que se pensava”, afirma Verónica Ferreira.

O estudo mostrou ainda que, à escala global, “características ambientais como a acidez da água, a concentração de oxigénio e temperatura e as características das folhas são igualmente importantes para regular o papel dos invertebrados na decomposição”.

Face aos resultados, os investigadores salientaram “a importância de se considerar os invertebrados em modelos globais de decomposição de detritos vegetais em ribeiros, para melhor descrever e antecipar os fluxos de carbono a nível global”, indica ainda a FCTUC.

Inês Sequeira

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