No início da década sessenta do século passado chegou a Bragança o lisboeta Machado, mais tarde Machadinho para os amigos em dias e noites de feéricas exaltações a arrancarem estrídulas gargalhadas aos convivas.
Instalado no burgo bragançano a exercer a (na altura) o quase desconhecido múnus de professor do ensino especializado de crianças descapacitadas, depressa conquistou a generalizada simpatia das pessoas, dada a sua bonomia e integração numa terra na qual os forasteiros eram olhados e escrutinados pormenorizadamente.
Vivíamos em ditadura, a cidade também enfermava da execrável acção gerada no coio dos bufos (Legião Portuguesa), a PIDE morava em Quintanilha, por isso todos os cuidados eram poucos.
O professor praticava a modalidade de futebol, depressa passou a envergar a camisola do Desportivo, o seu estilo viril agradava aos «tifosos», a tal integração era completa.
Porém, António Machado ensaiou com pleno êxito o dificultoso papel de animador das noites de uma cidade embiocada, bafienta, invejosa e dotada de baias conservadoras no que tange às diversões nocturnas. Logo de seguida aventura-se no intrincado universo das artes culinárias, na restauração, constituindo uma auspiciosa revelação a presença do restaurante Académico no Festival Nacional de Gastronomia em Santarém.
O Académico firmou raízes, granjeou fiel clientela, milhares de pessoas conheceram várias especialidades da magnifica cozinha transmontana, António Machado passou a ser figura emblemática no e do Festival da sápida cozinha tradicional portuguesa. Nas últimas edições do certame gastronómico, o Machadinho fez-se representar pelo filho Nuno.
A representação tem sido briosa, mesmo exemplar, no entanto, porque ele faz muita falta tenho tentado saber qual a causa do afastamento para lá das etéreas respostas de circunstância. E, o Nuno informou-me dos padecimentos de saúde que o têm apoquentado desde há tempos a esta parte. Em face deste informe decidi escrever esta crónica, com o intuito de o poder alegrar incentivando-o a resistir com todas as ganas à maleita, de maneira a regressar rapidamente ao nosso pleno convívio em que possamos revisitar o passado, revolvendo a memória dos momentos de ampla plenitude dos sentidos que encerro na Carmina Burana.
Forte abraço para ti querido Machadinho, Bragançano de gema como se tivesses nascido na Vila ou no bairro de Além-do-Rio.
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