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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

A afamada rosa

 Já não sei que escritor francês conta que uma vez um burro encontrou uma rosa, flor que não conhecia, e disse-lhe:
− Com que então tu é que és a afamada rosa, de quem os poetas dizem maravilhas?
E comeu-a. E, tendo-a comido, comentou:
− Enfim, não era má de todo. Mas já tenho comido coisas bem melhores.
Onde está a graça desta anedota? Está no equívoco. No facto de o mesmo adjectivo poder ser aplicado a coisas de naturezas muito diferentes, e, usando-o nós em relação a determinada coisa, o entendam outros como referido a coisa diferente. Ou seja, quando o poeta diz que uma flor é magnífica está a pensar na beleza dela. Mas para um burro, que não raciocina (?) em termos estéticos, mas sim em termos alimentares, uma coisa magnífica é uma coisa muitíssimo boa para comer.
Carl Sandburg, poeta americano, escreveu um poema que tem por ideia forte um equívoco semelhante ao do burro. É um poema magnífico. Ora leiam a parte final, na tradução de Alexandre O´Neil: 
«Todas estas carruagens serão, um dia, montes de ferrugem; / homens e mulheres que riem / no vagão-restaurante, nas carruagens-camas, hão-de acabar em pó. / No salão dos fumadores pergunto a um homem qual o seu destino. / “Omaha”, responde.»
Onde está o equívoco, neste poema? Está, obviamente, em que o poeta usa a palavra ‘destino’ no sentido escatológico: o destino final, ou seja, aquilo que nos espera do lado de lá da morte. Por seu turno, a pessoa com quem conversa toma ‘destino’ no sentido imediato, ou seja, o lugar para onde se viaja. A cidade de Omaha, neste caso.
Se, na anedota do burro, o equívoco faz rir, na história do passageiro do comboio, o equívoco faz pensar. Mas tudo são equívocos.
E como fiz pensar o meus Amigos FB, indemnizo-os, dando-lhes a saborear esta beleza de rosa. E pergunto-lhes: será que, em Omaha, o burro já comeu coisas melhores do que esta rosa? Duvido.

A. M. Pires Cabral

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