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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 20 de novembro de 2018

VIRGENS OFENDIDAS

A deputada Emília Cerqueira declarou não existirem virgens. Para meu sossego verifiquei que no tocante a azeites continuam à venda os extra-virgens. Ainda bem. Para lá da ironia um pouco pesada a graçola da honorável vinda do Alto Minho deu salientes provas de desconhecer ou não querer saber o que caía sobre a rapariga desflorada antes de casar.

Na cotação bolsista denominada – honra e vergonha – a perda dos três vinténs desvalorizava-a de modo pungente restando-lhe esperar o aparecimento de um homem compreensivo, viúvo ou velho solteirão. Não há muito tempo entrevistei uma senhora de oitenta anos a qual foi enganada, logo estigmatizada. Um viúvo deu-lhe apelido e carinho, ela concedeu-lhe amor e fidelidade até o «seu homem morrer».

Não vou socorrer-me dos tremendos costumes relativa­men­te às mulheres medievais seduzidas ou forçadas, limito-me a recordar um episódio ocorrido no concelho de Vinhais, nos anos vinte do século passado, após a cerimónia de casamento o pai da noiva no decurso das libações à volta da mesa levantou a voz, chamou o genro e a filha, e disse: aqui a tens – bonita, rica e virgem –, só que passados três meses ela pariu. O pai coberto de tristeza nunca recuperou da violenta humilhação.

Os anos consumiram calendários, a evolução social provocou enormes alteridades no comportamento sexual e respectivas práticas fundamentalmente no universo feminino e abaixo dos cinquenta anos com o multiplicado contributo da Internet disseminada por tudo quanto é sítio de Portugal.

Abundam os debates acerca de sexo e sociedade, sobre as diferenças e o direito a ser diferente, raramente se analisa e discute o conceito de virgindade para lá das jocosidades grosseiras ou de salão, a sua validade para inúmeros jovens, a conflitualidade entre os conservadores e os liberais expressa em silêncios ruidosos, o nebuloso paradoxo do para mim e para os outros. Em suma: uma coisa é o pudor em falar seriamente num ambiente sério e a palrice obscena, do comentar ordinário encobridor de pulsões enterradas no sepulcro da mente.

Sim, a deputada laranjinha procurou salvar Silvano de novas explicações minimizando custos políticos, a emenda saiu pior que o soneto, «admiradores colegas deputados» da sua bancada desmentirem a prática de acessos indevidos dando claridade à luta intestina dos deputados adversários (inimigos) de Rio e os seus apoiantes. Porque nestas frondas prevalece o vale tudo brotaram como cogumelos em tempo chuvoso insinuações de falta de inocência de Maria Emília, sim de oportunismo caucionadoras sua integração em lugar elegível na lista a ser sufragada nas eleições do próximo ano.

Uma coisa é certa, modelos de contornarem crivos de controlo na Assembleia da República sempre existiram e vão continuar a existir, desde o esquema das viagens ao de quatro deputados viajarem no mesmo automóvel e cada qual apresentar a folha de quilómetros vão sendo conhecidos quando as comadres ficam zangadas ou o prevaricador é descoberto oferecendo aos eleitores motivos de gáudio e crítica acesa.

A cupidez não é exclusivo de uma casta, é extensiva a todas as castas, nem os réis, nem infantas e demais nobreza escapam, o dinheiro é engodo triunfante, só que se algumas mulheres e homens detêm liames motivadores de cederem à tentação, outras pessoas, a maioria, repele-a, sendo sustentáculo ou trave mestra da democracia. Há dias pessoa minha conhecida sofreu condenação a pesada pena de cadeia dado o seu envolvimento em negócio desastrado de oitenta milhões de euros, penaliza-me, não deixarei de o cumprimentar e falar com ele se o encontrar, no entanto, obrigo-me a pensar na razão de pessoas donas de vidas desafogadas enveredarem por caminhos tão tortuosos concedendo substância moderna ao velho anexim – quem tudo quer, tudo perde –, levando a chistes de uns, a manifestações de tristeza de outros. As mães de antanho constantemente lembravam aos filhos o preceito de não caírem em tentação. Alguns tinham os ouvidos cheios de cera e afundam-se no poço do opróbrio. Talvez não existam virgens ofendidas no circuito do comportamento político, porém ainda as há virgens na causa pública permitirem-lhe rasgar as vestes.



Armando Fernandes
in:jornalnordeste.com

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