O dia ameaça com a chuva miudinha, que vai aparecendo por entre alguns raios de sol. No parque de estacionamento dos bombeiros de Macedo de Cavaleiros, dois carros aguardam a vez de entrar por entre as grades colocadas para delimitar o espaço, ao melhor jeito drive in.
Não se trata de um qualquer restaurante de comida de plástico nem o regresso ao passado num cinema ao ar livre. É mesmo o "covidrive", como foi carinhosamente batizado pelas duas médicas responsáveis pelo espaço, Catarina Pires e Joana Vicente, onde se fazem recolhas de amostras para testar a covid-19. O Mensageiro de Bragança acompanhou o trabalho de várias equipas - pois todos frisam que nos últimos meses se tem feito um verdadeiro trabalho de equipa - numa altura em que se ultimavam os preparativos para a reabertura das creches.
"Envolve muita gente. É um trabalho de segunda a domingo. Testámos os lares, agora estamos a testar as equipas de Serviço de Apoio Domiciliário e os funcionários das creches que vão reabrir", explicaram ao Mensageiro as duas médicas, enquanto um dos dois 'Antónios' [são dois funcionários com o mesmo nome] organizava a entrada das viaturas, uma a uma e com marcação prévia. "As pessoas têm respeitado os horários. Até chegam mais cedo muitas vezes", notam.
O serviço iniciou-se a 20 de março e tem decorrido sem interrupções desde então, incluindo fins de semana, feriados civis e religiosos.
Os mais de 200 testes feitos na semana passada aos funcionários das creches revelaram-se todos negativos.
Ao todo, já se fizeram mais de 12 mil testes no distrito de Bragança desde o início da pandemia, que revelaram 258 casos de infeção. Os últimos dois surgiram no final da semana passada, em Vila Flor (uma mulher de 45 anos) e Vinhais (uma mulher de 36 anos).
Em sentido contrário, já recuperaram 140 dos 258 infetados desde o início da pandemia, havendo 23 óbitos a lamentar, o último já registado há mais de uma semana.
Na quarta-feira, duas profissionais de saúde que já tinham testado negativo duas vezes e voltado ao serviço tiveram sintomas novamente, foram testadas e acusaram positivo outra vez (serão casos de falsos negativos).
No 'covidrive' trabalham, para além das duas médicas, os dois Antónios que organizam o espaço, um enfermeiro e um auxiliar que executam os testes. "Aqui inserimos uma zaragatoa em ambas as narinas e na orofaringe. Nalguns sítios apenas testam uma narina ou na orofaringe", explicou Joana Vicente.
Mas nem sempre é fácil. Já houve uma situação de uma pessoa que, por medo, "se recusou a fazer o teste". "Medo da experiência, não do resultado", explica. A Autoridade de Saúde Pública foi avisada e o teste acabou por se fazer.
Entretanto, juntam-se à conversa mais três médicas internas da Unidade Local de Saúde (ULS), que pertencem à equipa de Saúde Pública, o cérebro do combate à covid-19 no distrito de Bragança.
Carolina Maganete, Luísa Pinto e Cristiana Silva. São os três rostos de uma equipa mais vasta, que inclui 11 técnicos de saúde ambiental, dois enfermeiros, dois administrativos, sete médicos (três especialistas e quatro internos).
António G. Rodrigues
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