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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira..
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 2 de outubro de 2021

A cidade de Bragança na década de 50/60/70

Por: António Orlando dos Santos (Bombadas)
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
 
Dia de Mata Porco (macho) em minha casa, talvez em 1961/62. Destaco a presença do meu pai e minha mãe, do meu tio Zé Manuel e Senhor Joaquim Barata, compadre e grande amigo da família. O meu irmão mais velho, as suas filhas, minhas irmãs e sobrinhas e eu próprio. E o porco que regressou após alguns anos de expiação!

A manhã estava clara e reascendia o cheiro quente e húmido da horta que o meu pai plantara no quintal. Era um espaço em forma de retângulo com um passeio à ilharga, que dava acesso a um pequeno largo onde ele construiu uma "loja" para os porcos e um galinheiro para as "pitas ". Obra limpa com muro de alvenaria e uma abertura a meia altura até ao telhado de telha "Marselha.
Diga-se que para porcos e galinhas não estava mal. 
No entanto era para a família um local que trazia recordações menos agradáveis pois anos antes de eu nascer, uma porca parideira se tornara no horror de lembrança mais desconfortável para a minha mãe.
A porca logo após o parto e quando a deixaram só com os leitões, tornara-se antropófaga e comera todos os seus filhos para horror de quem de manhã entrou na "loja".
Minha mãe sofreu um golpe tal que jurou não mais criar fêmeas para matar e fazer fumeiro e cumpriu com a sua palavra até ao fim, sendo machos todos os bichos de criação e "ceva" que ela levou ao banco da matança.
Ora também é verdade que a loja esteve sem inquilino vários anos até que resolveram recomeçar com a criação. A suspensão foi extensiva ao galinheiro que esteve desabitado até ao fim. Ora quer dizer que depois de não ter criação a loja foi limpa e desinfetada e o galinheiro que tinha uma plataforma a meia altura esteve também sem "pitas ou galos até que já nos finais da minha passagem pela Escola se meteram lá de novo algumas, poucas.
Naquele tempo a Emissora Nacional passava música portuguesa da melhor que se fez em Portugal e que ainda hoje recordo com nostalgia. Em nossa casa o Philips que o meu pai comprou ao Senhor Ribeiro, começava a funcionar às 06:00 da matina e desligava-se às 23:00. O Reis da Caleja também contribuía com a sua quota parte já que música e barulho das motas era o pão nosso de cada dia.
Eu, vivia num ambiente em que a música que soava era a mais deliciosa que eu jamais ouvi; Maria Clara, Ada de Castro, Fernanda Gonçalves (Conjunto Maria Albertina) Amália, Maria de Lurdes Resende, Francisco José, Tristão da Silva, Tony de Matos, Artur Ribeiro, Max e os italianos, espanhóis ou sul americanos, franceses e africanos que seria fastidioso enumerar.
O Rock, do qual não consegui ser grande apreciador, começava a nascer e já eu tinha os meus 14/15 anos quando os Beatles apareceram. 
Como tudo o que se passou na minha vida eu fui sempre tentando não ficar no escuro, já que por razões diversas, não frequentei o Ensino Secundário e os mestres no ofício também não eram homens de letras. Mesmo assim consegui conviver com os que o fizeram e nunca deixei de ler os meus livros e ouvir as minhas músicas.
Regresso ao meu quintal e quando eu tinha seis ou sete anos resolvi montar um arremedo de uma estação de rádio. Ocupei a parte superior do galinheiro com caixas a fingir gira discos e amplificador, auto falante e demais adereços afins e aí estava a minha Felicidade. Cantava como um passarinho desde manhã aos pregos da noite. Eu lá  organizava a Emissão de tal forma que a minha irmã Milú desligava o Philips até eu suspender a emissão.  Conto-vos estas coisa que me estão na memória, porque às vezes penso nas condições de vida e nas diferenças desse tempo e as de hoje.
Passei hoje em frente ao Teatro Municipal e vi gente junto às bilheteiras, vi também um cartaz que anunciava um concerto, para hoje, de Música Clássica. A alegria que me encheu de orgulho por tal facto só é comparável a essa que eu tive quando criança ouvia a tal música que a Emissora Nacional transmitia para minha satisfação. Pode pensar-se que a bota não dá com a perdigota, mas eu explico: A vida que Deus me deu e quem sabe o abecedário, sabe o modo de interpretar o bom e o mau que a vida nos oferece. Sendo assim enquanto vivi em Portugal sem ajuda aprendi a gostar dessa música dos deuses, ou dos homens que almejam ver a Deus e em Londres onde vivi, tive ocasião de a sentir algumas vezes que fui aos vários espetáculos que ali são, não digo triviais mas sim frequentes.
Não consegui mudar os meus compromissos de hoje, mas desejo aos que assistirem ao concerto uma boa noite de música.  À direção do Teatro os meus Parabéns Não deixem ninguém no escuro. O belo é para todos usufruírem, só com o belo o homem se eleva para Deus.
E da minha forma de sentir contei-vos como a minha mãe sofreu com o drama que viveu e o escrúpulo que a fez jurar de nunca mais sentir a barbárie que ela imaginou a Natureza lhe haver imposto.
A minha mãe gostava muito de música!



Bragança 01/10/2021 
A.O. dos Santos
(Bombadas)





P.S. As palavras, pita e loja, são do vernáculo brigantino e eram as usadas naquele tempo, regularmente. Pita era galinha e loja era comércio de porta aberta.

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