Por: José Mário Leite
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)
O tórrido verão de 1975 fez parecer o escaldante verão de 1976 mais ameno. Germano Trancoso que gostava de disfrutar o frescume noturno que subia da ribeira da Vilariça em contraponto ao calor sufocante que escorregava das rochas graníticas da fragada, ouvindo os grilos, as relas e as cigarras no Barreiro que lhe prolongava o curral, nesse ano não o pôde fazer. Morreu em Maio desse ano, de causas naturais. Foi encontrado já cadáver na sua cama. Ramiro, o filho mais velho que emigrara para França e tinha regressado pouco tempo antes, de vez, diziam, regressou a terras gaulesas e Gabriel, o filho mais novo que sempre o acompanhara e assessorara nas tarefas e gestão agrícola tomou, em definitivo, conta da casa e da lavoura. Nada que pudesse suscitar qualquer notícia de relevo.
Não fora o Ramiro suicidar-se pouco tempo depois de ter chegado a Tours onde vivera os últimos anos. Não fora a sua viúva ter escrito ao Gabriel a acusá-lo, de ter provocado a morte de ambos. Sem nenhuma referência concreta mas deixando claro a convicção de que este estaria na origem da morte do pai e na motivação do suicídio do irmão.
Foram várias as teorias que supostamente explicavam quer as mortes quer as acusações. Teria a ver com questões de heranças, com dificuldades financeiras da mais abastada casa das redondezas, com velhas vinganças, histórias de amores proibidos e traições e houve mesmo quem recuperasse acontecimentos antigos que misturavam bruxaria, religião e estranhos sinais que apareceram gravados numa pedra em frente à Fraga Amarela.
Na década de setenta a riqueza rural começou a deixar de ser medida e avaliada exclusivamente por carros parelhas e montes. Apareceram uns registos de papel a que davam o nome de ações se bem que poucos soubesse que atos concretos eram esses que lhe proporcionavam abundância instantânea e a entrada no seletivo clube da alta finança. Perceberam que igualmente de um momento para outro, por razões distantes e exóticas lhe arruinavam e destruíam as economias de uma vida num ápice. Germano Trancoso terá feito investimentos ruinosos nessa altura e perdeu muito dinheiro. Mas isso, seguramente, não explicaria tudo. Pelo menos muitos foram os que aduziram, com insistência e justificações fundamentadas com outros argumentos e factos ocorridos até então. Mas nada foi, nessa altura, conclusivo.
Passados quarenta anos sobre todos estes acontecimentos volta a falar-se no assunto. São levantadas todas estas questões e suspeitas. Algumas delas são agora devidamente explicadas. Outras sê-lo-ão talvez durante os próximos tempos. A começar dia 27 de maio em Lisboa, dia 1 de junho em Bragança, dia 4 em Mirandela e dia 24 em Torre de Moncorvo. Muito a propósito pois é na noite de S. João, que a princesa que está encantada na Fraga Amarela aparece na forma de cobra à procura de um beijo masculino que traga de novo à forma humana. Provavelmente a velha lenda nada tem que a ligue ao desaparecimento do velho lavrador nordestino.
Embora haja quem pense exatamente o contrário!
Não fora o Ramiro suicidar-se pouco tempo depois de ter chegado a Tours onde vivera os últimos anos. Não fora a sua viúva ter escrito ao Gabriel a acusá-lo, de ter provocado a morte de ambos. Sem nenhuma referência concreta mas deixando claro a convicção de que este estaria na origem da morte do pai e na motivação do suicídio do irmão.
Foram várias as teorias que supostamente explicavam quer as mortes quer as acusações. Teria a ver com questões de heranças, com dificuldades financeiras da mais abastada casa das redondezas, com velhas vinganças, histórias de amores proibidos e traições e houve mesmo quem recuperasse acontecimentos antigos que misturavam bruxaria, religião e estranhos sinais que apareceram gravados numa pedra em frente à Fraga Amarela.
Na década de setenta a riqueza rural começou a deixar de ser medida e avaliada exclusivamente por carros parelhas e montes. Apareceram uns registos de papel a que davam o nome de ações se bem que poucos soubesse que atos concretos eram esses que lhe proporcionavam abundância instantânea e a entrada no seletivo clube da alta finança. Perceberam que igualmente de um momento para outro, por razões distantes e exóticas lhe arruinavam e destruíam as economias de uma vida num ápice. Germano Trancoso terá feito investimentos ruinosos nessa altura e perdeu muito dinheiro. Mas isso, seguramente, não explicaria tudo. Pelo menos muitos foram os que aduziram, com insistência e justificações fundamentadas com outros argumentos e factos ocorridos até então. Mas nada foi, nessa altura, conclusivo.
Passados quarenta anos sobre todos estes acontecimentos volta a falar-se no assunto. São levantadas todas estas questões e suspeitas. Algumas delas são agora devidamente explicadas. Outras sê-lo-ão talvez durante os próximos tempos. A começar dia 27 de maio em Lisboa, dia 1 de junho em Bragança, dia 4 em Mirandela e dia 24 em Torre de Moncorvo. Muito a propósito pois é na noite de S. João, que a princesa que está encantada na Fraga Amarela aparece na forma de cobra à procura de um beijo masculino que traga de novo à forma humana. Provavelmente a velha lenda nada tem que a ligue ao desaparecimento do velho lavrador nordestino.
Embora haja quem pense exatamente o contrário!
José Mário Leite, Nasceu na Junqueira da Vilariça, Torre de Moncorvo, estudou em Bragança e no Porto e casou em Brunhoso, Mogadouro.
Colaborador regular de jornais e revistas do nordeste, (Voz do Nordeste, Mensageiro de Bragança, MAS, Nordeste e CEPIHS) publicou Cravo na Boca (Teatro), Pedra Flor (Poesia), A Morte de Germano Trancoso (Romance) e Canto d'Encantos (Contos), tendo sido coautor nas seguintes antologias; Terra de Duas Línguas I e II; 40 Poetas Transmontanos de Hoje; Liderança, Desenvolvimento Empresarial; Gestão de Talentos (a editar brevemente).
Foi Administrador Delegado da Associação de Municípios da Terra Quente Transmontana, vereador na Câmara e Presidente da Assembleia Municipal de Torre de Moncorvo.
Foi vice-presidente da Academia de Letras de Trás-os-Montes.
É Diretor-Adjunto na Fundação Calouste Gulbenkian, Gestor de Ciência e Consultor do Conselho de Administração na Fundação Champalimaud.
É membro da Direção do PEN Clube Português.
Sem comentários:
Enviar um comentário