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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 21 de abril de 2022

Germano Trancoso

Por: José Mário Leite
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)

O tórrido verão de 1975 fez parecer o escaldante verão de 1976 mais ameno. Germano Trancoso que gostava de disfrutar o frescume noturno que subia da ribeira da Vilariça em contraponto ao calor sufocante que escorregava das rochas graníticas da fragada, ouvindo os grilos, as relas e as cigarras no Barreiro que lhe prolongava o curral, nesse ano não o pôde fazer. Morreu em Maio desse ano, de causas naturais. Foi encontrado já cadáver na sua cama. Ramiro, o filho mais velho que emigrara para França e tinha regressado pouco tempo antes, de vez, diziam, regressou a terras gaulesas e Gabriel, o filho mais novo que sempre o acompanhara e assessorara nas tarefas e gestão agrícola tomou, em definitivo, conta da casa e da lavoura. Nada que pudesse suscitar qualquer notícia de relevo. 
Não fora o Ramiro suicidar-se pouco tempo depois de ter chegado a Tours onde vivera os últimos anos. Não fora a sua viúva ter escrito ao Gabriel a acusá-lo, de ter provocado a morte de ambos. Sem nenhuma referência concreta mas deixando claro a convicção de que este estaria na origem da morte do pai e na motivação do suicídio do irmão. 
Foram várias as teorias que supostamente explicavam quer as mortes quer as acusações. Teria a ver com questões de heranças, com dificuldades financeiras da mais abastada casa das redondezas, com velhas vinganças, histórias de amores proibidos e traições e houve mesmo quem recuperasse acontecimentos antigos que misturavam bruxaria, religião e estranhos sinais que apareceram gravados numa pedra em frente à Fraga Amarela. 
Na década de setenta a riqueza rural começou a deixar de ser medida e avaliada exclusivamente por carros parelhas e montes. Apareceram uns registos de papel a que davam o nome de ações se bem que poucos soubesse que atos concretos eram esses que lhe proporcionavam abundância instantânea e a entrada no seletivo clube da alta finança. Perceberam que igualmente de um momento para outro, por razões distantes e exóticas lhe arruinavam e destruíam as economias de uma vida num ápice. Germano Trancoso terá feito investimentos ruinosos nessa altura e perdeu muito dinheiro. Mas isso, seguramente, não explicaria tudo. Pelo menos muitos foram os que aduziram, com insistência e justificações fundamentadas com outros argumentos e factos ocorridos até então. Mas nada foi, nessa altura, conclusivo.
Passados quarenta anos sobre todos estes acontecimentos volta a falar-se no assunto. São levantadas todas estas questões e suspeitas. Algumas delas são agora devidamente explicadas. Outras sê-lo-ão talvez durante os próximos tempos. A começar dia 27 de maio em Lisboa, dia 1 de junho em Bragança, dia 4 em Mirandela e dia 24 em Torre de Moncorvo. Muito a propósito pois é na noite de S. João, que a princesa que está encantada na Fraga Amarela aparece na forma de cobra à procura de um beijo masculino que traga de novo à forma humana. Provavelmente a velha lenda nada tem que a ligue ao desaparecimento do velho lavrador nordestino. 
Embora haja quem pense exatamente o contrário!

José Mário Leite
, Nasceu na Junqueira da Vilariça, Torre de Moncorvo, estudou em Bragança e no Porto e casou em Brunhoso, Mogadouro.
Colaborador regular de jornais e revistas do nordeste, (Voz do Nordeste, Mensageiro de Bragança, MAS, Nordeste e CEPIHS) publicou Cravo na Boca (Teatro), Pedra Flor (Poesia), A Morte de Germano Trancoso (Romance) e Canto d'Encantos (Contos), tendo sido coautor nas seguintes antologias; Terra de Duas Línguas I e II; 40 Poetas Transmontanos de Hoje; Liderança, Desenvolvimento Empresarial; Gestão de Talentos (a editar brevemente).
Foi Administrador Delegado da Associação de Municípios da Terra Quente Transmontana, vereador na Câmara e Presidente da Assembleia Municipal de Torre de Moncorvo.
Foi vice-presidente da Academia de Letras de Trás-os-Montes.
É Diretor-Adjunto na Fundação Calouste Gulbenkian, Gestor de Ciência e Consultor do Conselho de Administração na Fundação Champalimaud.
É membro da Direção do PEN Clube Português.

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