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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 1 de abril de 2022

O GESTO NOBRE DE ATEU CONFESSO

Por: Humberto Pinho da Silva 
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")

Descansem que não vou abordar o conhecido político céptico, que nos anos quentes, após a Revolução de Abril, defendeu o direito dos crentes manifestarem a sua fé publicamente; e, após a morte, permaneceu em câmara ardente, no salão paroquial da sua localidade.
Mas o ternuroso caso do antigo abade da Santa Marinha (Gaia), Dr. António D'Azevedo Maia, natural de Modivas (Vila do Conde).
 Frequentou, de pequeno, o curso liceal, em Felgueiras e Guimarães, matriculando-se em Teologia na Universidade de Coimbra.
Concluído o ensino superior, foi docente do Colégio S. Dâmaso, em Guimarães.
Por essa ocasião dirigiu-se a Leça, no propósito de falar com o Cardeal D. Américo, solicitando residir fora da diocese: " porque pretendia exercer num meio mais consoante ao seu temperamento, e não ficar na ociosidade, como acontece de ordinário aos padres da província." - Palavras quase textuais.
Ficou surpreso o Cardeal com o singular pedido, embora compreendesse que a Igreja precisasse de sacerdotes para o ensino, com a sua capacidade intelectual.
Todavia lembrou-lhe que o vigário de Modivas encontrava-se enfermo, precisando de coadjutor.
Azevedo Maia aceitou boamente o pedido, e permaneceu aí quatro anos, levando vida piedosa e zelo apostólico.
Sabedor do comportamento exemplar do sacerdote, e da sua cultura. D. António, Bispo do Porto, resolveu em dezembro de 1901, indigitá-lo para abade de Santa Marinha.
Realizaram-se rijos festejos, na presença de numerosos sacerdotes e fiéis.
Na homilia, o novo abade, versou o dever do padre, como educador e pai espiritual.
O Dr. Azevedo Maia, ofereceu, ainda, na residência paroquial, uma taça de champanhe.
Nesse informal encontro estiveram presentes: o Presidente da Câmara, o Administrador do Concelho, e figuras gradas da Vila, além de clérigos. Francisco Aranha e Caetano de Pinho, enalteceram o elevado saber e prestígio eclesiástico do novo presbítero.
Entretanto foi implantada a República, e as práticas do Dr. Azevedo Maia rechearam-se de palavras desabridas, denunciando os desmandos republicanos.
Não satisfeito com as homilias, no ambão da igreja, discursava ainda., no Círculo Católico Operário e no Salão do Grupo Democrático Cristão e Estudos Sociais de Vila Nova de Gaia, inflamando plateias, com acerbas verrinas, contra inimigos da Igreja e de Cristo.
Foi temido. Taxado de talassa. Julgado, perseguido e ultrajado.
Certa ocasião avisaram-no que o queriam matar. Aflito, lembrou-se de Américo Augusto Ribeiro Gonçalves, farmacêutico estabelecido na rua Direita (Gaia) reconhecido republicano, ateu, anticlerical, e pediu-lhe proteção.
O farmacêutico – movido de compaixão, – recolheu-o na sua residência e quando pressentiu que os ânimos se amainaram, facilitou-lhe a saída,  de noite, para a Estação Ferroviária das Devesas.
Correram os meses... Um dia surgiu no hebdomadário gaiense: " A PAZ" – que defendia o trono e o altar, – as " Cartas do Exílio", assinadas pelo Dr. Azevedo Maia.
Escusado é dizer que o jornal se esgotou, procurado pelos paroquianos de Santa Marinha e pelos republicanos e monárquicos da Vila.
É justo recordar o destemido abade, mas mormente, o gesto fraternal do farmacêutico, que o acolheu, salvando-lhe, quiçá, a vida, sendo antagonista - republicano, ateu e anticlerical.

Humberto Pinho da Silva
nasceu em Vila Nova de Gaia, Portugal, a 13 de Novembro de 1944. Frequentou o liceu Alexandre Herculano e o ICP (actual, Instituto Superior de Contabilidade e Administração). Em 1964 publicou, no semanário diocesano de Bragança, o primeiro conto, apadrinhado pelo Prof. Doutor Videira Pires. Tem colaboração espalhada pela imprensa portuguesa, brasileira, alemã, argentina, canadiana e USA. Foi redactor do jornal: “NG”. e é o coordenador do Blogue luso-brasileiro "PAZ".

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