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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2022

Os três presidentes das áreas protegidas

O que esta resolução do Conselho de Ministros faz é destruir a estrutura operacional dos serviços do Estado, e não promove descentralização nenhuma, porque descentralizados já os serviços estão.
Há dias o presidente da CAP (Confederação dos Agricultores de Portugal) queixava-se nestas páginas da “Machadada final no Ministério da Agricultura”, por via da resolução do Conselho de Ministros que determinou “o início do processo de transferência e partilha de atribuições dos serviços periféricos da administração direta e indireta do Estado, para as comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR).”

Partilho a preocupação do engenheiro Oliveira e Sousa, mas, infelizmente, não é só o Ministério da Agricultura que está em risco – é o do Ambiente, o da Cultura, o da Educação, entre outros. Ou melhor, os ministérios não, porque sem ministérios não há lugares para ministros, secretários de Estado, assessores, etc.; o que está em causa são os serviços públicos distribuídos pelo território e o know-how acumulado, por vezes há séculos.

Mas o serviço público não importa, importa é centralizar o poder e uniformizar o pensamento. Ora a missão das CCDR é, e deve ser, outra, que não andar a colocar brincos no gado mirandês, contar os lobos do Alvão ou preservar castros.

O que esta resolução do Conselho de Ministros faz é destruir a estrutura operacional dos serviços do Estado, e não promove descentralização nenhuma, porque descentralizados já os serviços estão – promove o inverso da descentralização e da democracia.

E o mais grave é que, se os presidentes das CCDR têm sido escolhidos pelo perfil de gestores, em breve começarão a ser presidentes de câmara, eleitos pelos pares. Ora o perfil de presidente de câmara é muito variável, desde os quase analfabetos aos vigaristas arguidos e condenados, desde os democratas aos que assumem uma postura autoritária, por vezes quase fascizante.

Mas, no geral, os presidentes de câmara não gostam do ambiente, porque não podem construir e cortar sobreiros à vontade, não gostam da cultura, porque não podem deitar abaixo o castro ou a mamoa que estorvam um qualquer projeto municipal, nem gostam do ensino, porque não gostam de quem saiba mais do que eles.

No que diz respeito ao ambiente e à conservação da natureza, esta é a mais profunda machadada. A primeira sempre foi o desinteresse dos sucessivos governos pela conservação da natureza, o que se demonstra ad nauseam com o estado calamitoso das áreas protegidas e das espécies ameaçadas.

Seguiu-se a integração das florestas industriais (eucaliptos e pinheiros) no ICNF, Instituto de Conservação da Natureza, que passou a Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas, florestas que não existem a ponto do termo “incêndio florestal” ter sido recentemente substituído por “incêndio rural”!

Como se não bastasse misturar eucaliptos com sobreiros, tiraram à Agricultura os animais de companhia e “meteram-nos” no ICNF, não percebendo que um gato é um animal de companhia e um animal selvagem é outra coisa, e desperdiçando mais de um século de experiência dos Serviços Veterinários.

Gerada a confusão nas florestas e nos animais de companhia, com evidente perda de eficiência, faltava baralhar as áreas protegidas; e foi isso que fez a insana ideia, convertida em decreto-lei, da cogestão das áreas protegidas.

Produto de um ministério que não tinha a mínima noção de como funcionam – ou devem funcionar – as áreas protegidas e que julgou que a cogestão era uma invenção sua, quando, na realidade, existia há 50 anos e só não era mais visível por manifesto desinteresse da maioria dos autarcas dos concelhos que integram os parques e reservas naturais.

Com o cortejo fúnebre da conservação da natureza em bom andamento, só faltava a anunciada “descentralização” para as CCDR, com o que se vai conseguir que, por exemplo, o Parque Nacional da Peneda-Gerês, que há anos não tem um diretor, como tem qualquer parque do mundo, passe a ser tutelado por três presidentes: o da CCDR-N, o da (inútil) comissão de cogestão e o do ICNF. Ai se o ridículo matasse!

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

Nuno Gomes Oliveira

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