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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Aldeia de Baçal - Caracterização

Uma meia dúzia de quilómetros para nordeste da capital concelhia, fica esta freguesia de Baçal, notabilizada pelo emérito Abade Francisco Manuel Alves, sábio e erudito investigador da história, arqueologia e etnografia transmontanas. Fazendo a ligação entre a capital concelhia e os três aglomerados populacionais – Baçal, Vale de Lamas e Sacóias – que integram a freguesia, estão as estradas nacionais 218 e 218-3, bem assim como os respectivos ramais camarários de acesso.
Cortado pelos pequenos cursos de água aqui conhecidos por Ribeira de Baçal e Rio Igrejas, este razoavelmente vasto território paroquial apresenta uma topografia planáltica, onde pontificam excelentes e alargados trechos de boas terras agrícolas, por vezes a alternar com frondosos soutos de seculares castanheiros.
Para além de algumas explorações agrícolas e pecuárias de certo porte, Baçal possui já uma considerável actividade económica no sector industrial (embora em pequena escala), ligando-se este sobretudo ao ramo da construção civil.
A sua condição periférica em relação à urbe brigantina poderá estar na origem dessa relativa prosperidade, extensível também à vertente demográfica: os actuais 503 residentes (contra 685 registados nos meados do século) vão confirmando a regra de desertificação a que a esmagadora maioria das freguesias do concelho tem sido votada.
À entrada na aldeia de Baçal o visitante poderá julgar-se, por artes de sortilégio, em um qualquer rancho do velho Oeste americano, ao confrontar-se com inusitada “instalação” (em madeira e forma de baliza), dando suporte a um crânio de bovino (autêntico) e uma tabuleta indicando o nome da localidade...
Dos três presumíveis povoados castrejos aqui arrolados por A.C.F. da Silva, um – o de Atalaia – provavelmente nunca o terá sido, tratando-se com maior plausibilidade de um simples reduto defensivo de época medieval, subsidiário porventura da linha de fortalezas que assegurava a defesa desta região raiana em época medieval.
A estrutura, classificada I.I.P., situa-se no alto do monte de Urzedo. Nas proximidades fica o sítio do Facho, microtopónimo que denunciará a antiga existência de uma instalação para sinalização luminosa, por meio de fogo (e cuja utilização de recuadíssimas origens, chegaria até aos alvores da Época Contemporânea).
De relevante interesse arqueológico é o Castro de Sacóias, povoado fortificado que conheceu intensa romanização traduzida em achados epigráficos vários, numerosa cerâmica e uma valiosa e significativa peça escultórica em bronze, de pequenas dimensões e representando um vitelo. A estação encontra-se classificada como Monumento Nacional. À guarda do Museu Abade de Baçal, na Cidade de Bragança, encontra-se um conjunto de três estrelas funerárias, uma dela bem conservada e com inscrição consagrada aos Deuses Manes por um Flavo, filho de Festo, que terá sucumbido aos trinta anos (R. Colmenero). Localiza-se esta estação a umas escassas quatro centenas de metros para nordeste da povoação assim designada, em uma elevação sobranceira ao rio Igrejas (que lhe corre a leste).
Também assente junto a um pequeno curso de água (desta feita a designada Ribeira de Baçal) se acha o Castro de Baçal, distante escasso meio quilómetro para norte daquela aldeia. O sobredito Abade de Baçal, incansável calcorreador destas paragens, foi dos primeiros autores a dar a conhecer estas “antiqualhas” da sua aldeia natal, alertando ainda para umas toscas insculturas rupestres, de difícil interpretação e balizamento cronológico, patenteadas em uma laje granítica que cobria uma fonte do povoado (localizada precisamente em frente da hoje arruinada e depauperada Casa do Abade de Baçal).
Segundo o articulista da “Grande Enciclopédia”, “a actual freguesia de Baçal é constituída pelas antigas paróquias de S. Romão de Baçar e de Santa Maria de Saquóias, sensivelmente da mesma antiguidade, ambas já instituídas no século XIII, sem qualquer subordinação de uma à outra”. Não deixa de ser curiosa esta asserção, tendo em conta o papel que poderão ter tido os retrocitados povoados castrejos (e da romanização) na génese das futuras e embrionárias paróquias. Estas surgiram documentadas nas “inquirições” de 1258 sob as designações de “Sancte Marie e Soquoys” e “Sancti Romani de Basar”. Esta última “Villa” e templo respectivo constituíam-se como honra, então na posse dos filhos e sucessores de Fernado Arias, Martim Sanches e Lopo Rodrigues. Pelas “visitações” é possível apurar que, pelo último terço do século XVIII, a Igreja de Baçal se mostraria já em calamitoso estado de ruínas, sabendo-se que as obras de reconstrução se terão iniciado pouco após 1783, prolongando-se porém até 1822. O templo actual é amplo e de agradável traça.
Quanto à antiga freguesia de Sacóias sabe-se que andou anexada a Meixedo, sendo extinta talvez pela mesma época.
O antigo tempo constitui-se como belo e harmonioso exemplar de um primitivo barroco provincial, denunciando ainda, na respectiva traça, uma forte inspiração e sabor maneiristas, pese embora a data assinalada no portal da frontaria – 1765. É este último de recorte rectangular, surgindo enquadrado por dois pares de colunas torsas (alternado em “movimentos” dextrorsum e sinistrorsum); sobre o pórtico, volutas e pináculos enquadram um nicho com a imagem pétrea da Padroeira, N. Sra. Da Assunção; no remate da empena assenta, por sua vez, um pesado campanário de dupla ventana.
Não muito distante dali ergue-se, em local ermo, uma ampla e mais recente capela da mesma inovação, de incaracterísticas e pouco atraente traça arquitectónica. Embora arruinada, como frisamos já, a Casa de Abade de Baçal (outrora conhecida por Casa do Pácio, invulgar corruptela de “Paçó” termo que denunciará grande ancianidade e plausível interesse arqueológico). Em Vale de Lamas pode apreciar-se um terceiro templo paroquial, de singela mas graciosa traça, a um gosto que se nos afigura setecentista. O imóvel surge ladeado por algo inestético acrescento, adoçado do flanco setentrional, neste se inscrevendo de forma pouco ortodoxa, uma escada de acesso ao campanário instalado ao alto da frontaria. Esta é marcada por um equilibrado portal rectangular, rematado em espécie de frontão ornado de caprichoso par de volutas. Na freguesia de Baçal existe ainda a capela de S. Sebastião.
Tradições
Em geral, nas diversas terras transmontanas, os ditados são marcas do passado, bem presentes nos dias de hoje. Na freguesia de Baçal, esta realidade não é diferente, pois esses ditados de antigamente chegaram, de geração a geração, à actualidade.
A crença viva dos habitantes desta freguesia traduz-se na forma como estes narram os milagres de Nossa Senhora da Assunção.
Existe uma lenda que diz que os sinos da igreja repicaram sem ninguém os soar, por ocasião da aclamação de D. João IV, a 1 de Dezembro de 1640.
Após 28 anos, o fenómeno voltou a acontecer e o caso foi autenticado por declaração do Sé de Miranda. Com este facto, D. Luísa de Gusmão dotou a virgem local de ricas vestimentas.
Nesta freguesia praticam-se ainda rezas, por defuntos, vivos ou doentes, eram e são um costume que ainda se mantém em muitas famílias transmontanas.
Na realização da festa dos Reis ou na festa dos Rapazes usa-se um traje muito típico desta região, os caretos que representam imagens diabólicas e misteriosas.
Os caretos usam máscaras rudimentares, onde sobressai o nariz pontiagudo, feitas de couro, madeira ou de vulgar latão, pintadas de vermelho, preto, amarelo, ou verde.
A cor é também um dos atributos mais visíveis das suas vestimentas: fatos de colchas franjadas de lã vermelha, verde e amarela, com enfiadas e chocalhos à cintura e bandeirolas com campainhas.
Da sua indumentária, faz também parte um pau que os apoia nos saltos e correrias.
No que diz respeito a jogos populares, cujas origens se perdem no tempo, ainda sobrevivem graças às pessoas que, em festas ou apenas entre amigos, querem reavivar memórias do passado de forma divertida. Em Baçal, praticam-se os seguintes jogos: Corrida dos sacos, Jogo da Relha, Jogo do Ferro, Jogo do Cântaro e o Jogo do Fito.

in:cm-braganca.pt

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