Por: Humberto Pinho da Silva
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
Hoje de manhã, ao ler crónica escrita em 1915 – há cento e cinco anos! - por Agostinho de Campos, na passagem em que se refere a antigo Professor da Universidade de Coimbra, - o Doutor Calisto, - mestre, que se orgulhava de entreter, os estudantes, durante um ano inteiro, só com meia dúzia de tretas; lembrei-me de políticos, figuras públicas, e até intelectuais e escritores, que tantos esticam os assuntos, que de punhado de nada, realizam “brilhante” discurso e até grosso livro, de centenas de páginas! …
Eu sei, como dizia Nietzche, que certos filósofos: turvam a água para parecer profunda…
Eu sei, como dizia Nietzche, que certos filósofos: turvam a água para parecer profunda…
Se nos dermos ao trabalho de espremer o “sumo” da dissertação ou livro, verificamos, que não chegam a meia dúzia de ideias! …
Pretendem deslumbrar o leitor ao rebuscar palavras rebuscadas, apresentando textos, revestidos de rígida couraça, para que só os entendidos consigam decifrar; e os não versados, afirmem: “ muito interessante! …”, para não serem taxados de ineptos.
Voltemos ao professor loquez:
Agostinho de Campos, escreve, com leveza e graça, o que corria no meio universitário, quando o mestre das “tretas” foi, uma noite, à ópera:
Agostinho de Campos, escreve, com leveza e graça, o que corria no meio universitário, quando o mestre das “tretas” foi, uma noite, à ópera:
“ Estando em S. Carlos (…) o seu vizinho, na plateia lhe dissera, arrebatado pelo canto e pela música:
- Parece incrível, que apenas com sete notas se possa deliciar a gente uma noite inteira!
- Parece incrível, que apenas com sete notas se possa deliciar a gente uma noite inteira!
Ao que logo replicou o nosso mestre:
- Não se admire Vª Exª, por tão pouco. Eu, que aqui estou, intrujo os meus caloiros com sete ideias durante um ano.”
- Não se admire Vª Exª, por tão pouco. Eu, que aqui estou, intrujo os meus caloiros com sete ideias durante um ano.”
Para que se tolda a água do charco? Para parecer profunda…
Há professores e até pregadores, tão herméticos, que não saem da sólida torre de marfim, onde vivem e desejam viver. São tão obscuros, que a maioria dos mortais, não consegue “digerir” seus textos.
Há professores e até pregadores, tão herméticos, que não saem da sólida torre de marfim, onde vivem e desejam viver. São tão obscuros, que a maioria dos mortais, não consegue “digerir” seus textos.
Tornam-se inacessíveis, com o fim de deslumbrar, com sapiência, os alunos; e pregadores, que encontram mais interesse em mostrarem a eloquência do seu saber, do que difundir o Evangelho.
Humberto Pinho da Silva nasceu em Vila Nova de Gaia, Portugal, a 13 de Novembro de 1944. Frequentou o liceu Alexandre Herculano e o ICP (actual, Instituto Superior de Contabilidade e Administração). Em 1964 publicou, no semanário diocesano de Bragança, o primeiro conto, apadrinhado pelo Prof. Doutor Videira Pires. Tem colaboração espalhada pela imprensa portuguesa, brasileira, alemã, argentina, canadiana e USA. Foi redactor do jornal: “NG”. e é o coordenador do Blogue luso-brasileiro "PAZ".
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