Número total de visualizações do Blogue

Pesquisar neste blogue

Aderir a este Blogue

Sobre o Blogue

SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

segunda-feira, 12 de outubro de 2020

Mina junto à fronteira ameaça solos e espécies protegidas

 Governo português aguarda resposta de Espanha sobre o impacto ambiental de uma mina de volfrâmio e estanho a 5 km de Bragança.


Sempre que chega à aldeia de Aveleda para passar o fim de semana, Fábio não resiste a espreitar o caudal do rio Pequim, manso e baixo no verão, propenso a cheias no inverno, desde que o desabamento das escombreiras da antiga mina de estanho de Portelo, desativada na década de 90, assoreou a também chamada ribeira de Aveleda. 

Aos 13 anos, a frequentar o 8º ano em Bragança, onde reside durante a semana, Fábio anda apreensivo. Já habituado a ver mais areia do que água no rio onde outrora o bisavô Dinis pescava trutas, escalos e bogas, “cada vez mais raras”, agora tem uma nova preocupação: a reativação, quase 30 anos depois, da mina de volfrâmio e estanho de Calabor, em Pedralba de la Pradaría, do outro lado da fronteira.

“É uma mina muito grande, que vai ser um veneno para quem vive aqui. O meu bisavô está superfrustrado, pois há alturas em que já se anda no rio de sapatilhas sem molhar os pés”, conta Fábio. E questiona: “Onde irão os Canadair buscar água se houver incêndios?

”A causa da inquietação do filho de Marta Lima, representante da Junta de Freguesia de Aveleda, é a anunciada exploração mineira a céu aberto, da empresa espanhola Valtreixal, que detém licença para operar até 2039, apesar de o empreendimento estar localizado na área protegida da Rede Natura 2000. O projeto, ainda em avaliação pelo Governo espanhol, divide os autarcas do lado de lá da raia, apesar da contestação acesa das associações ambientalistas de Portugal e da província de Zamora. 

Entre os detratores da mina de Calabor conta-se Hernâni Dias, presidente da Câmara de Bragança. Teme que a mina venha a causar novos assoreamentos provocados pelo transporte de inertes nas linhas de água da região, como a do Pepim ou do rio de Onor, que cruza a aldeia comunitária com o mesmo nome. O autarca adverte de que a exploração confina com o Parque Natural de Montesinho, reserva ambiental que “é a principal atração local dos amantes do turismo de natureza”. Em tempos de pandemia, diz que o turismo rural registou uma procura “nunca vista” nos territórios do interior, considerados destinos mais seguros. “No meio desta crise, foi uma alavanca económica para as casas de turismo rural e hotéis aqui da cidade, com lotação quase esgotada no verão”, refere Hernâni Dias, receando ver “a oportunidade perdida se a mina avançar”. 

Sem orientações do Ministério do Ambiente sobre a posição a assumir pelo município, o autarca garante ter feito o legalmente possível: “Demos parecer negativo ao projeto no período de consulta pública, em agosto, e alertámos para que o mesmo deve ser revisto. ”Mário Gomes, líder da União de Freguesias de Aveleda/ Rio de Onor, partilha a angústia, acrescentando que o rio Igrejas, em Varge, é outro dos cursos em risco. Não poupa, por isso, nas críticas à avaliação de impacto ambiental das autoridades espanholas, “omissa quanto às sequelas na paisagem, complacente quanto à minimização dos riscos sonoros devido à utilização de explosivos”, pouca clara quanto aos malefícios na fauna e na flora. “Estes já são territórios de baixa densidade populacional, e não tenho dúvidas de que os efeitos da mina na agricultura, por força da contaminação dos solos, irão levar a um êxodo maior, afastar os turistas e o retorno dos emigrantes.

”Do lado espanhol, as opiniões dividem-se: o alcaide de Puebla de Sanábria reprovou o projeto, mas o de Pedralba já mostrou disponibilidade para viabilizar a operação, que irá criar 600 postos de trabalhos diretos e indiretos. 

Toupeira-de-água, águia-real, lobo-ibérico e urso-pardo são algumas das espécies mais vulneráveis à ação mineira

APA ‘esconde’ dúvidas. Há um mês, a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) colocou um conjunto de questões à tutela espanhola, ainda sem resposta. Ao Expresso, o presidente da APA, Nuno Lacasta, não revela, contudo, que “dúvidas” foram suscitadas, resumindo tratar-se de informação de “aspetos não detalhados no estudo prévio”, após consulta à CCDR-N, Direção-Geral de Energia e Geologia, Instituto de Conservação da Natureza e Laboratório Nacional de Energia e Geologia. Lacasta frisa que Portugal não pode decidir sobre a exploração de minas noutro país, mas “apenas dar parecer negativo se os impactos forem preocupantes”. 

A pronúncia final será dada após os esclarecimentos adicionais do Estado espanhol. As conclusões das associações ambientalistas Rionor, Quercus, Fundo para a Proteção dos Animais Selvagens (FAPAS) e Palombar — Conservação da Natureza e do Património Rural são demolidoras, desde logo por a mina de Valtreixal estar localizada em território da Rede Natura 2000 e da Zona Especial de Conservação da Sierra de la Culebra.

João Branco, da Quercus, alerta para que, tratando-se de uma exploração a céu aberto de materiais pesados, é impossível conter a contaminação do ar e dos solos, ameaçando a saúde pública e espécies em risco de extinção, como a toupeira -de-água, a águia-real, o lobo--ibérico, “com impacto direto na alcateia de Montesinho” e no urso-pardo. Na flora, o ambientalista aponta o perigo de deterioração de oito habitats, como os bosques de castanea sativa ou os carvalhos-galego- -portugueses. José Pereira, da Palombar, e Nuno Oliveira, da FAPAS, destacam ainda a afetação de massas de água na Bacia Hidrográfica do Douro. Contra a mina estão também os Ecologistas en Acción, de Zamora, que exigem que a Junta de Castilla y León cumpra as diretivas europeias para acautelar a destruição de 250 hectares da Rede Natura 2000.

Texto: Isabel Paulo - Foto: Fernando Veludo/NFactos

Sem comentários:

Enviar um comentário