Em 57 inquiridos 39 narram “situações nas quais mostram terem sido alvos de atitudes discriminatórias”.
Apesar de no inquérito serem destacados também aspectos positivos como o acolhimento e o apoio de IPSS e outras entidades, os inquiridos referem que já foram alvo de discriminação, nomeadamente racial, no acesso ao emprego, a habitação e mesmo em serviços, destaca Ivone Florêncio da EAPN. “A mesma pessoa referia como aspecto positivo, por exemplo, o bom acolhimento por parte das pessoas da comunidade, mas referem como aspecto negativo, simultaneamente, preconceito relativamente ao acesso à habitação, ao emprego e até por parte dos serviços públicos, no que toca ao atendimento. Mostra que existe preconceito ao nível do acesso aos direitos de qualquer cidadão. São pilares fundamentais para uma vida digna e para a inserção”.
O testemunho de cerca de 37% dos inquiridos indica que “o preconceito racial não é subtil, mas totalmente aberto e rude”. A responsável desta entidade diz que apesar de a amostra do estudo não ser muito grande, os resultados mostram que ainda há um caminho a percorrer nesta matéria. “é sempre significativo porque nem que fossem quatro ou cinco mostra na pele que sentiram atitudes discriminatórias e preconceituosas. Permite conhecer a sua percepção relativamente à sua integração no nosso concelho e servir de reflexão para a comunidade e para os serviços, no sentido de melhorar práticas e medidas, que permitam garantir os direitos a estes cidadãos”.
Para a professora do IPB, Rosa Novo, que analisou os dados, os relatos não são surpreendentes porque vão ao encontro de outros estudos noutras zonas do país e considera que esse tipo de trabalho deve servir de base para uma reflexão sobre o que ainda é preciso mudar. “O que nos leva a reflectir é que a modificação de mentalidades, o apelo ao respeito reciproco, as questões de empatia perante o outro, significa que temos que dar saltos qualitativos, quer do ponto de vista educativo, quer do ponto de vista laboral, a aceitar o outro diferente de mim. Nesse campo, creio que, independentemente das questões da imigração, temos um longo caminho a percorrer”.
A discriminação e o preconceito existentes, a eterna burocratização da legalização e a carência de emprego que reforçam as dificuldades e o não reconhecimento de direitos desta comunidade são algumas das conclusões do primeiro estudo feito em Bragança sobre a comunidade imigrante.
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