Na última década, aumentou o número de explorações agrícolas bem como de superfície utilizada com este fim, em Trás-os-Montes.
Entre 2009 e 2019 a superfície total das explorações subiu 7%, o que significa que mais 45,6 mil hectares são utilizados na agricultura. Segundo dados da Direcção Regional de Agricultura e Pescas do Norte (DRAPN), a Superfície Agrícola Utilizada (SAU) aumentou 3%, ou seja, 13 mil hectares, há mais 36% de matos e florestas, mais 50 mil hectares. Também as outras superfícies cresceram 80%, ou seja, são-lhe dedicados mais 4 mil hectares.
A SAU representa 67% e matos e floresta são agora 29 % dos terrenos usados no sector. São dados que indicam uma inversão da tendência de descida de investimento na agricultura, que se vinha observando nos recenseamentos agrícolas anteriores. O número de explorações também aumentou 5% face a 2009, sendo que em 2019 o número rondava as 29500 nos 12 concelhos do distrito de Bragança.
Segundo a directora regional da DRAPN, Carla Alves, é notório nos últimos anos “uma forte dinâmica do sector”. “Os resultados do recenseamento agrícola de 2019 evidenciam uma forte resposta do sector agrícola ao estímulo das políticas, que têm sido relevantes para o aumento da superfície total das explorações, da superfície agrícola útil, do abrandamento de alguns processos de abandono”, afirma. A Comunidade Intermunicipal Terras de Trás-os- -Montes (CIM-TTM) foi o único território no Norte em que o número de explorações agrícolas aumentou na última década, sendo agora 25644 nos 9 concelhos. “Os dados evidenciam um processo de restruturação muito bom no sector agrícola”, frisa Carla Alves. Luís Carcau, de 25 anos, é um dos novos agricultores na região. Depois de terminar a formação em engenharia agronómica submeteu um projecto de jovem agricultor, para a plantação de 17 hectares de figueiras e 4 hectares de olival, tendo já plantado os primeiros 4 hectares de figueiral no início deste ano.
A nova produção vem juntar-se à exploração agrícola familiar que vai passar a ter 35 hectares de figueira instalados, além do olival e amendoal, nas localidades de São Pedro de Vale do Conde e Pai Torto, no concelho de Mirandela. Luís, natural desta última aldeia, explica que ter crescido na aldeia e a família sempre se ter estado ligada à agricultura motivou a escolha profissional. A opção da figueira prendeu-se com o potencial da cultura e porque é pouco estudada. “Temos as condições edafoclimáticas ideais para a produção de figo, temos o desafio do regadio, porque é uma cultura que precisa de água, temos explorações de água próprias para poder fazer o regadio”, explica, acrescentando que o sistema gota a gota é automatizado.
Além do projecto agrícola, também se dedica à formação, até porque a rentabilidade da nova exploração em que foram investidos 270 mil euros, financiado a 50% por fundos comunitários, só há-de chegar daqui a alguns anos, já que as primeiras colheitas de figos só deverão acontecer daqui a 4 anos. A aposta foi na cultura biológica, por “ter mais oportunidades em termos de venda e valor acrescido”. “No último ano, a procura aumentou bastante, contrariamente ao que se pensava, devido à situação pandémica e nós não produzimos figo suficiente para o nosso país, daí também a aposta nesta cultura, somos altamente deficitários quer em figo fresco, quer seco”, sublinha, notando que os consumidores “estão mais despertos para a necessidade de consumir produtos nacionais e locais e o facto de ser um produto biológico aumenta mais a procura”. Na exploração familiar, colheram cerca de 25 toneladas o ano passado, sendo que ainda não há muita área em plena produção. Também é da responsabilidade da exploração familiar tratar do escoamento do produto, figo fresco das variedades pingo de mel, figo preto tradicional e bêbera preta e seco, o que “não é fácil”, admite o jovem agricultor. “Além de produzir também fazemos a distribuição, temos alguma venda local, mas pouca, vendemos essencialmente para retalhistas e grandes superfícies”, nomeadamente na zona do Porto. Luís Carcau diz que esta é uma cultura rentável, apesar de ser exigente ao nível de mão de obra e de necessitar de investimentos, como em maquinaria e câmara de frio. O engenheiro agronómo defende que seria benéfico aumentar a comparticipação dos projectos “principalmente para os jovens agricultores, que serão os agricultores das próximas décadas”. “Acho que se devia simplificar ao máximo todo o processo administrativo relacionado com o projecto para facilitar o trabalho aos jovens agricultores e apoiar cada vez mais”, sustenta.
Luís considera que o apoio comunitário é essencial para que se continue a apostar na agricultura em especial no Interior do país. Sem o apoio comunitário que teve “não faria o mesmo investimento num curto espaço de tempo, o projecto é executado em dois anos, teriam de ser áreas mais pequenas e investimentos mais baixos”.
Culturas permanentes são as que mais crescem
O agricultor acredita que no futuro devem ser em apoiadas as culturas tradicionais, como o olival, no caso do concelho de Mirandela, e defende uma maior aposta na organização de produtores. O projecto foi mesmo um dos três premiados pelo Centro de Frutologia da Compal a nível nacional, tendo sido distinguido pela sustentabilidade, uso de energias renováveis, inovação, devido à instalação de sondas de humidade, pelo diferencial e potencialidade da cultura. O aumento da superfície agrícola utilizada deveu-se, sobretudo, ao aumento nas culturas permanentes.
Entre 2009 e 2019, há mais 30 mil hectares, um crescimento de cerca de 16%. As culturas permanentes aumentarem a sua importância, ocupando já metade da SAU de Trás-os-Montes. A CIM- -TTM tem 64% de todo o olival da região Norte, território que tem 59% dos soutos e metade do amendoal da região Norte. Em sentido contrário, verificou-se uma diminuição das terras aráveis, com 11%, ou seja, menos 11,5 mil hectares, e das pastagens permanentes, que têm menos 5,7 mil hectares. O olival é ainda a cultura permanente predominante, mas os frutos de casca rija foram a produção que mais cresceu, nomeadamente o castanheiro e amendoal, que já representam 32% das culturas permanentes e ultrapassou a área dedicada à vinha na região de Trás-os- -Montes.
Bruno Cordeiro, tem 42 anos, e desde 1996 que se dedica à agricultura. Tem vindo a aumentar produção de amêndoa em Torre de Moncorvo. “Apanhei o gosto com o meu pai, tínhamos algumas propriedades e adquirimos outras e é do que eu gosto de fazer”, confessa. Recentemente, na exploração familiar, que tem com a irmã, foram acrescentados 15 a 20 hectares de amendoal nos últimos 3 anos, nas freguesias do Larinho e Peredo dos Castelhanos, subindo para cerca de 80 a 85 hectares desta cultura em produção. “Já tínhamos alguma área, renovámos outras e plantámos mais”, explica. Também cultiva olival, vinha e tem ovinos. Quanto ao retorno da actividade agrícola, diz que é “subjectivo”, porque nunca dá o que gostaria: “vai dando, não para enriquecer, mas dá para viver”. Num ano médio colhe mil quilos de amêndoa por hectare e consegue vender toda o fruto com facilidade, mas “não é ao preço desejado”.
Bruno sublinha que, devido à situação pandémica, o preço desceu muito, “para quase metade”, e dá como exemplo que “há 2 anos o miolo estava a cerca de 5,5 euros e agora está a 2,8 euros” por quilo. O escoamento é feito através da cooperativa e para o agricultor a organização de produtores é muito valorizada para “regularizar os preços” e porque acabou “com a compra porta-a-porta”. O projecto mais recente representou um investimento de cerca de 130 mil euros. “O apoio é muito importante, sem apoio nem sequer pensaria em executar o projecto”, sublinha. Ainda assim, defende que no próximo quadro de apoio, o financiamento para o amendoal devia aumentar, por considerar que ainda não é o suficiente. O regadio deveria ser outra das áreas a apostar. “O regadio é uma mais-valia para manter uma regular produção e uma melhor qualidade, mas para se regar também é preciso água”, refere.
Distrito com mais projectos de jovens agricultores
Na região Norte, o distrito de Bragança foi aquele com mais candidaturas de Jovens Agricultores no PDR 2020, desde 2014, quando se iniciou o actual quadro comunitário de apoio. 568 projectos foram aprovados, num total de investimento de mais de 111 milhões de euros de investimento total, apoiado em 58,25 milhões de euros entre apoio ao investimento e Prémio ao Jovem Agricultor. Mogadouro é o concelho com mais projectos destes financiados, com 95 no total, seguido de Macedo de Cavaleiros com 72 e Mirandela com 64. “Temos tido vários projectos de jovens agricultores. Têm existido aqui mais jovens a fixarem-se na agricultura. Só ao nível de prémio de jovens agricultores temos um valor de apoio de 14 milhões de euros, o que demonstra que há muitos hoje em dia a dedicar-se à agricultura”, afirmou a directora Regional de Agricultura e Pescas do Norte, Carla Alves. Os frutos secos e de casca rija representam a grande maioria dos projectos financiados (365) e com o maior investimento feito, cerca de 66 milhões de euros. Segue-se o olival, os pomares, pequenos ruminantes e apicultura com o maior número de projectos.
A inversão da tendência de afastamento do sector, que parece verificar-se, justifica-se com o apoio e as políticas dinâmicas para o sector, segundo a directora regional. “Esse é um dos contributos”, afirma, dando como exemplo que, nos últimos anos, no que diz respeito ao distrito registaram- -se 2270 candidaturas e um apoio ao investimento de 181 milhões de euros. Além do financiamento comunitário, entende que “há o renovado interesse pelo sector agrícola” e que “a própria comercialização e o potencial de alguns sistemas de produção, desde a vinha aos frutos secos, têm uma dinâmica empresarial que não tinha há uns anos”. Se antes quem investia no sector enfrentava invariavelmente dificuldades no escoamento, nesta altura “têm sido criadas empresas muito mais vocacionadas para a comercialização”, o que tem “provocado que muitos invistam na agricultura, porque sabem, que os produtos são valorizados e conseguem escoá-los”. No entanto, sublinha que é preciso continuar o trabalho no que diz respeito à organização dos produtores e ainda há muito a fazer no que toca à melhoria da rentabilidade das explorações.
A directora regional de Agricultura e Pescas do Norte acredita que, com a pandemia, a região pode vir a tornar-se um local de fixação de pessoas e que além do teletrabalho a própria agricultura pode fazer regressar ou atrair pessoas para territórios menos densamente povoados, e “a agricultura, mesmo não sendo a actividade principal, possa ser um complemento”.
Carla Alves afirma que é fundamental “cada vez ter políticas mais direccionadas e bem adaptadas à região”, sublinhando que o próximo pacote financeiro de apoio, o PEPAC, está a ser preparado nestes dois anos. A nova Política Agrícola Comum (PAC) deve “apoiar mais os agricultores”, devido à “importância económica e social, de fixação de pessoas nas zonas rurais”. O programa terá ainda uma arquitectura verde em que “muitos dos apoios serão dados através de eco-regimes”.
Ainda antes de ter início, em 2023, há medidas de apoio aos agricultores, para a troca de tractores agrícolas e para colocação de redes anti-granizo para pomares. Em breve, serão ainda apoiados investimentos na instalação de painéis solares e construções de charcas nas explorações, dentro da reprogramação dos fundos (Next Generation).
Sem comentários:
Enviar um comentário