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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

domingo, 16 de maio de 2021

Guerra Junqueiro: "Um nome inscrito no céu" - O PRIMEIRO PECADO DE MARGARIDA

 Chamava-se Margarida, e estavam à espera dela no céu, porque Deus tinha dito: - É uma boa alma, e, como lá em baixo no mundo lhe pode acontecer alguma desgraça, vou trazê-la um destes dias para o paraíso.

Margarida era uma virgem cândida, matinal como a aurora, fresca como ela; todos os dias ao acordar rezava as orações, que sua mãe lhe tinha ensinado, e vestia-se depois na sua pequenina alcova. E, como não tinha joias preciosas nem ricos adornos, dispensava o espelho.

Depois disto, para viver honradamente, punha-se a trabalhar.

E, ao mesmo tempo cigarra e abelha, trabalhava cantando uma bela canção de amor e de glória, que já embalara muitos berços, e que podia sensibilizar uma alma inocente, sem lhe perturbar a limpidez.

Numa tarde de verão, estava ela sentada à porta de casa fiando linho, à hora em que as estrelas começam a aparecer, uma a uma no firmamento.

Estava Margarida cantando a sua canção, quando passou por ali uma das suas vizinhas, que ia a uma romaria, muito asseada, com um vestido novo. Parou diante de Margarida, para que lhe admirasse os seus brincos e o colar de ouro que levava ao pescoço; apertou-lhe a mão para que visse bem o anel que brilhava no seu dedo, e foi-se embora a rir, toda contente. E Margarida foi-a seguindo com um olhar de inveja, o que inquietou no Paraíso o seu anjo da guarda.

O fio de linho já não passava tão rapidamente entre os dedos de Margarida, a roda cessara o seu barulho monótono, e o fuso caíra-lhe das mãos.

Ao cair o fuso despertou do êxtase, abriu os olhos, e viu diante de si um cavaleiro magnificamente vestido, tendo na mão um gorro de veludo preto, com uma pluma vermelha, da cor do fogo. O cavaleiro saudou-a respeitosamente, e, com uma voz harmoniosa e galanteadora, perguntou-lhe:

- Qual é o caminho da cidade?

Margarida estendeu a mão para lh'o indicar, e o forasteiro inclinando-se tirou do dedo um anel de ouro com um diamante, que brilhava como uma estrela, e meteu-o no dedo de Margarida, que o achou mais belo do que o anel da sua companheira. O rosto do cavaleiro alumiou-se então com um sorriso estranho e diabólico.

Nisto passou por ali um mendigo coberto de farrapos, parou diante de Margarida, e pediu-lhe uma esmola.

Margarida tirou do dedo o anel, e ofereceu-o ao pobre desgraçado.

O cavaleiro então, soltando um grito de cólera, ia lançar-se sobre Margarida, mas o mendigo - que era o seu anjo da guarda disfarçado - cobriu-a com as azas. E o cavaleiro, isto é Satanás, que tinha vindo para a tentar, recuou aniquilado diante do espírito celeste.

Fonte:
Guerra Junqueiro: "Contos para a Infância", Publicado originalmente em 1877

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