sábado, 11 de abril de 2020

Para que um dia, talvez amanhã

Por: Paula Freire
(colaboradora do Memórias...e outras coisas...)



Ouve meu pequeno menino de ouro
a canção que te deixo entre as mãos.
Um cristal de pergaminhos em notas soltas,
que guardarás nas tuas memórias
com o cuidado que qualquer tesouro merece.
Um dia, talvez hoje,
vou olhar contigo a dança das nuvens
e a transparência límpida das marés
a deixar corais na areia que os teus pés descobrem,
com a surpresa da ternura que toda em ti me encanta.
Um dia, talvez hoje,
vamos correr juntos nas calçadas das ruas.
Quem sabe, atrás de pombas brancas ou de cavalos alados
nascidos pela pureza das tuas fantasias de pequeno grande herói.
E colher a serenidade dos frutos maduros com cheiro a verão
acabados de apanhar no fresco pomar da mais pura terra verde.
Um dia, talvez hoje,
vou ensinar-te a descoberta dos planetas de luzes fugazes
e dos firmamentos que os seres indomáveis percorrem.
A tocar a melodia dos sons que abraçam a terra,
a esculpir com as tuas impressões digitais
as teias da vida a acordar o teu sono de menino.
Um dia, talvez hoje,
vou mostrar-te o idioma de mil línguas que comandam o universo
e o poema dos momentos a dois
como a arte de ser mais além do tempo.
Porque por um momento, talvez amanhã,
sentirás a urgência de reinventar o avesso dos dias
sem desencantar  a doçura de um olhar 
tão cheio de esperanças e de pressas desbravadas.
E não te desconheçam as forças das causas sem leme
nem te desenganem os gestos que escravizam a alma e o corpo
e iludem as lembranças despovoadas de amor.
Porque só tu, na extensão do meu Ser
me ensinas assim a despedir-me de mim
para soletrar todos os mundos de que além serás feito.
A perceber que na exaustão das batalhas que em mim se venceram
ainda há encantos que o coração reconhece.
Meu pequeno menino de ouro…
… Que as asas da tua liberdade
sejam um dia maiores do que o vento e o egoísmo dos homens.

Paula Freire - Psicologia de formação, fotografia e arte de coração. Com o pensamento no papel, segue as palavras de Alberto Caeiro, 'a espantosa realidade das coisas é a minha descoberta de todos os dias'.

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