Estamos a chegar ao fim do primeiro terço do malfadado ano de 2020. Pelos vistos, vamos continuar a lidar com o vírus. Estamos à espera, como do pão para a boca, da tão desejada pica (vacina).
Até lá temos de ter muito cuidado. Vamos ter de andar de nariz e boca tapados para estarmos mais protegidos e dar mais segurança a quem se cruza connosco. A vida só irá voltar à normalidade quando estivermos vacinados.
O nosso programa está no topo, cada vez temos mais artistas do povo que, com os seus instrumentos musicais, muito animam a gente que está triste, deprimida e com medo. Muitos dos nossos tios e tias dizem que esta família é um antibiótico diário e uma vacina de amor e de amizade.
No meio agrícola anda-se nas hortas a fazer pelo renovo, outros continuam a estrumar as terras embora algumas ainda estejam encharcadas, porque o mês de abril tem sido um pingão.
O Tio Alcino Silva, de Vinhais, contou-nos que para evitar o pulgão e o escaravelho da batata deve pulverizar-se com um líquido feito com água, ortigas ou ortigões. Devem estar num bidão no mínimo oito dias, mas há quem os tenha todo o ano, mas tem que se pulverizar o renovo antes de chegarem as pragas, porque não as tira, apenas as evita. Outra maneira de não pegar o pulgão no feijão é semear uma fava a cada metro e meio do feijão, desta forma só a fava é atingida.
No dia 23 de Abril, quinta-feira, assinalou-se o dia mundial do livro. Por isso mesmo, nesta edição, achei interessante dar-vos a conhecer o terceiro livro de Mónica Ferreira, de Genísio (Miranda do Douro), com o título “Artes e Ofícios Ancestrais”.
Quem também vai publicar em breve um livro é o nosso poeta Belmiro dos Santos «Valdemar», de Grijó de Parada (Bragança).
Aproveito para vos oferecer os últimos versos com que ele nos brindou no programa.
O nosso ministro dos parabéns, o João André, cantou os parabéns a Marco Póvoa e à sua esposa Isabel, ambos (44), António Póvoa (68) ,Tinhela (Valpaços); Carlos Alberto (49), Vilarandelo (Valpaços); Nuno Tomeno (77), Babe (Bragança); Joaquina Pires (70), S.Julião (Bragança); Domingos Meirinhos (83), Bragança; Catarina Domingues (78), Genísio (Miranda do Douro); Ana Maria (83), Alimonde (Bragança) e Maria Vieira, de Seixo de Ansiães.
A todos muita saúde e paz porque o resto a gente faz.
Já lá vai o tempo em que a biblioteca passava nas aldeias e o Sr. Castro nos mostrava os livros que trazia expostos nas prateleiras de uma carrinha vermelha; a doceira com a sua banca cheia de doces marcava presença nas festas de verão e de inverno; o barbeiro cortava barba e cabelo com navalha e tesouras e usava uns alicates para arrancar dentes; o cesteiro encostado à parede da sua casa, entrelaçava, em dias solarengos, as vimes para fazer os cestos; a lavadeira ensaboava os trapos, esfregava-os e colocava-os a secar ao sol; os ceifeiros, já cansados e debaixo de um calor abrasador, faziam o transporte do cereal em carros de bois para as eiras e eu, da janela da casa dos meus pais, podia ver as trilhas, a limpa, a recolha do grão em sacos para depois serem guardados no interior de casas domésticas; o endireita e a curandeira com as suas rezas e mesinhas tratavam-nos da saúde; a fiadeira, o moleiro, a padeira, o propagandista realizavam também tarefas relacionadas com a sua profissão. São, estes e outros ofícios que recordo com saudade e partilho convosco através deste livro.
É curioso vermos qual a relação do homem com o meio, pelos instrumentos que constrói e o ajudam no processo de produção em cada ofício que desenvolve e como é que em três décadas a maior parte destas profissões desenvolvidas com arte e de forma manual, desapareceram.
Esta obra, escrita em português e em mirandês, presta homenagem a todos os profissionais que nas áreas aqui referenciadas, laboraram: administração; agricultura, animação de festas, artesanato, construção, exploração mineira, pastorícia, saúde e bem-estar, sector livreiro, segurança pública, vendas, profissões generalizadas. Apresenta-se também como um jogo: assim, após o leitor expor a quadra, os ouvintes tentam adivinhar a que profissional ela se refere.
Convido-vos a recuar no tempo e a entrar nesta viagem ao mundo das artes e ofícios ancestrais.
Mónica Ferreira
Mudança do Tempo
A terra está alerta,
Pois nunca tremeu tanto,
Está completamente coberta
Com um negro manto.
Nasceu lá para os lados da China,
Chamam-lhe Covid-Dezanove,
A esta pandemia assassina
Que tantos mata e nos comove.
Há uma faixa negra
Que chega do Sol á Lua,
Pedem-nos para cumprir a regra
E para não sair à rua.
Cada dia que passa
Maior é a escuridão,
Nunca uma desgraça
Afetou tanta Nação.
Só o poder Divino
Nos poderá valer,
E acudir a este povo Latino
Que tanto está a sofrer.
Esta maldita pandemia,
Já percorreu milhares de léguas,
Roubou-nos toda a alegria
E não os quer dar tréguas.
Daqui para a frente
O mundo não será igual,
E talvez seja para muita gente
Uma lição moral.
Com o povo a chorar
E tantos a partir sem despedida,
Assim não vou festejar
Os meus 74 anos de vida.
Minhas filhas genros e neta,
Também não podem cá estar,
Andam nesta guerra que nos afecta
Com outros mais a batalhar.
Se pró ano estiverem à minha beira,
E eu ainda cá estiver,
Faremos a festa à nossa maneira,
Se Deus quiser.
Belmiro dos Santos
Tio João
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