João Eusébio garantiu, em entrevista ao Nordeste, que nunca recebeu qualquer remuneração no Grupo Desportivo de Bragança. Segundo o ex-director-geral dos brigantinos o moçambicano Junaid Lalgy investiu cerca de 100 mil euros no GDB.
- João Eusébio a sua ligação ao Grupo Desportivo de Bragança terminou com a demissão do presidente, Milton Roque?
A minha ligação ao GDB, para as pessoas perceberem, nunca terminou nem vai terminar em termos de gostar do clube.
O que se passou é que na altura que o GDB foi a eleições precisava da certificação e como eu era director de certificação de dois clubes, o Varzim e o Rio Ave, já tinha “know how” suficiente para certificar o Bragança. Dei meu contributo, já há dois anos com o Óscar e o Milton, mas por carolice, tal como agora, e quero frisar isso.
Esta temporada, é evidente que nós tínhamos propósitos. Eu vi o GDB com algumas dificuldades para participar no Campeonato de Portugal. Para ter um clube nesta competição é necessário ter cerca de 200 mil euros para não descer. Como eu tenho um amigo em Moçambique, que foi meu presidente, o Junaid Lalgy, que tinha alguns jogadores espalhados pelo país eu pensei, para ajudar o clube, que poderia ser um projecto muito interessante para o GDB. Ou seja, nós centralizámos os jogadores, que foram cinco, e o Bragança só teve que pagar a estadia. O investidor pagou os ordenados, a segurança social, os seguros e os certificados internacionais.
- Isso quer dizer que os ordenados desses cinco jogadores estão em dia. Certo?
São jogadores do investidor e o Bragança nunca teve essa responsabilidade. Aliás, o investidor no dia 6 de Agosto de 2019 depositou na conta do clube 10 mil euros, 4750 para a inscrição dos cinco jogadores mais 4750 para impostos, no dia 9 de Setembro depositou mais 4170 euros para a segurança social, depois 800 euros para a inscrição e seguro do Abbas (jogador). No dia 26 de Novembro depositou mais 10 mil euros. Para além disso, o senhor Junaid deu 20 mil euros para pagar à equipa técnica e mais 15 mil de patrocínio.
- Esses 20 mil euros para treinadores eram para a equipa técnica inicialmente liderada por Frederico Ricardo?
Não. Ele deu esse dinheiro para a equipa técnica …
- Mas sabe-se que a última equipa técnica ainda têm ordenados para receber tal como o Frederico Ricardo ….
Eram 20 mil euros para a equipa técnica independentemente de ser o Frederico ou o André e mais 15 mil euros de patrocínios, tanto que as camisolas dos sub-17 tinham o patrocínio do investidor. Estamos a falar só aqui de 35 mil euros mais os ordenados e todos os custos suportados pelo investidor com cinco jogadores (Abbas, Evaristus, Soares, Ousmane e Chamboco).
No dia 27 de Janeiro deste ano, o investidor pagou ao GDB mais 3250 euros para impostos até ao final da época. Eu dei a cara pelo investidor e o clube não se portou bem com ele.
- O João Eusébio foi sempre apresentado como director-geral do Bragança …
Não.
- Então qual era a sua posição no GDB?
A minha posição no clube era zero. Sabe qual foi a minha responsabilidade? Eu vou explicar. Eu tinha um propósito, como é óbvio. Eu ia pegar no GDB e fazer uma gestão profissionalizada. Eu sou apologista que ninguém tem que dar nada aos clubes. Por exemplo, pegamos num patrocinador, o orçamento do GDB é de 200 mil euros e o patrocinador dá 20 mil euros ao clube. No fundo não tem que dar, tem sim que ter retorno e numa futura venda ter dez por cento do investimento que fez. Conseguir dez patrocinadores com este suporte e criando um “know how” com qualidade o clube não tinha que andar a pedir. Eu tive um ano e meio no Bragança a custo zero e nem as despesas que ficaram de me pagar me pagaram. Eu vinha todos os fins-de-semana e era eu que pagava todas as minhas despesas.
Você pode perguntar-me, mas gosta do Bragança? Gosto. Mas o futebol não é para se dar é para se trabalhar e as pessoas têm que ser recompensadas pelo fazem. As pessoas dizem que eu era remunerado. E se fosse? Não era porque não queria. O meu objectivo era pegar no clube e tentar gerir o clube de uma forma personalizada e com enfoque na formação, na certificação. Quem não estiver certificado não pode faze contratos de formação. Para o clube ganhar e melhorar.
- Já que fala nisso. Há muita especulação à volta disso e há quem diga que era remunerado …
Não era e nem as minhas despesas de ir a Bragança me pagaram. O meu vínculo ao Bragança terminou no dia 13 de Fevereiro. Quando vi que o Bragança não tinha gente responsável e que estava a ser gerido de ânimo leve. No dia 13 de Fevereiro, quando terminou o protocolo com o investidor, decidi que não tinha que estar a gastar dinheiro do meu bolso em deslocações. Eu ajudei o clube, mas o clube nem um obrigado. Ajudei a injectar no clube cerca de 100 mil euros se contabilizarmos todo o dinheiro que o investidor colocou lá.
- Estava a par das dificuldades do clube e das contas do GDB?
Não.
- Então pensava que estava tudo em dia. É isso?
Repare se o dinheiro que entregou do investidor, que pagava a cinco jogadores, eu não tinha que me preocupar. Outra coisa, eu não tive nada a ver com a formação do plantel. Apenas trouxe cinco jogadores do investidor. Os restantes jogadores foram escolhidos pelo Frederico Ricardo consoante o orçamento que lhe foi comunicado. Eu tive, entre aspas, o cargo de director geral por causa da certificação do clube. Só isso.
- Teve responsabilidade nas contratações do David Carvalho, do Yoshi e do Jahfort?
Não. Zero. Nem na contratação do André David. Perguntaram a minha opinião, mas eu sempre disse que eles é que sabiam.
Nesta última fase o único jogador do qual sou responsável, que o investidor é responsável, é o Yoshi. E porquê? É evidente que o investidor não dava só dinheiro. Ele tinha direito em futuras vendas de jogadores dele como o Bragança tinha uma percentagem. Saiu o Rodrigo e o Ousmane, o Rodrigo do clube e o Ousmane do investidor, para o Leixões. O canal, quem arranjou as saídas, fui eu. Não estou a ver pessoas com capacidade em Bragança, com todo o respeito, para ter os canais e colocar os jogadores.
Em relação ao Ousmane não houve verba para o GDB. O Bragança ganhou apenas com o Rodrigo. No caso do Ousmane não houve venda, não houve dinheiro. O que foi? O investidor estava com uma despesa de cinco jogadores no GDB e aliviamos a despesa do Ousmane que foi para o Leixões através de uma parceria. Mas, se houver, futuramente, uma saída do Ousmane o GDB vai buscar uma percentagem, mas o investidor também irá buscar numa futura venda do Rodrigo. Do Rodrigo o Leixões vai pagar 30 mil euros e desse dinheiro o investidor tem direito a 40 por cento. O investidor ainda não recebeu qualquer quantia, mas o GDB já recebeu uma tranche.
E neste negócio consegui trazer o Yoshi da equipa A do Leixões a custo zero. Eu só arranjei coisas que o GDB não teve que pagar nada. Até um exame médico paguei eu a um jogador, que não havia dinheiro, mas o Bragança nunca me pagou nada.
- Surpreendeu-o a demissão do presidente?
Sim. E só o soube pela comunicação social. Eu senti que ele estava sozinho e que só podia contar com mais dois ou três elementos.
- Tem mantido contacto com Milton Roque?
Não. Já liguei três ou quatro vezes e tem o telemóvel desligado. Há qualquer coisa que se passou e não consigo perceber.
- Fazendo uma análise global da época o que é que acha que falhou?
Alguma falta de qualidade dos jogadores e com isto não estou a dar a responsabilidade ao Frederico porque ele fez o plantel com o orçamento que tinha disponível. Eu não sei quanto ganhavam todos os jogadores, mas havia jogadores a ganhar 1100, outro 1000 e outros 900 euros. Temos que ver que Bragança é longe e tem que se pagar mais alguma coisa para cativar os jogadores. Havia jogadores da terra, embora para mim não jogadores da terra nem de fora, mas sim bons e maus jogadores, a ganhar bem porque mereciam. Isso não está em causa.
Para entrar no Campeonato de Portugal há cada vez mais exigências. Na minha opinião para este campeonato, que é já bastante competitivo, faltaram verbas para ter um plantel com mais qualidade. Eu disse que eram necessários reforços para alguns lugares, mas não indiquei jogadores.
Eu quero frisar aqui uma coisa, os melhores amigos que tenho são de Bragança e magoa-me algumas pessoas apontarem-me coisas e não sabem do que estão a falar. Ouvi algumas coisas desagradáveis e muitas vezes pensei “se não fosse gostar tanto do clube e cumprir com as minhas responsabilidades, mesmo a não ganhar nada, ia-me embora”.
Acho que o Milton Roque pagou pela inexperiência. Ser director dá trabalho e não se ganha nada. Ter um clube no Campeonato de Portugal é uma despesa enorme e se não houver parceiros não tem hipótese.
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