Quando éramos mandados pelos espanhóis, na Mofreita resolveram mandar alguém para aprender a língua castelhana. Dai que todos os mais ricos e letrados queriam ser os eleitos, mas os que mandavam queriam que fosse alguém que já tivesse alguns conhecimentos da língua.
Entretanto no ajuntamento, enquanto isto se discutia, responde um da assistência:
“Eu já sei dizer qualquer cousa!”
“Então que sabes dizer?”
“Nós los outros”
Nisto responde outro lá do fundo do ajuntamento:
“Eu também sei dizer alguma cousa!”
“Então que sabes dizer?”
“Claro é”.
“Grandes estudantes! Estes já vão. Mais alguém sabe dizer umas histórias daquelas mais antigas espanholas?”
“Eu ainda sei dizer qualquer cousa.”
“ E o que sabes dizer?”
“Tem usted muita razon!”
Assim, foram os três estudar para Espanha, indo parar a Catalunha. Ao chegar tiveram logo a infelicidade de encontrar um homem morto, tiveram dó e ficaram a ver o que lhe passava. Mas, nisto veio a guarda civil espanhola que lhes perguntou:
“ Quem matou el hombre?”
“Nós los outros”
“Vossotros?”
“Claro é”
“Si, si mui claro, mas a palisa que vai levar não sabe usted no que se mete!”
“Tem usted muita razon!”
Levaram os pobres portugueses perante as autoridades, dando início à investigação:
“Quem matou el hombre?”
“Nós los outros”
“Então está visto! Não temem a palisa (porrada) que vão levar?”
“Tem usted muita razon!”
Desta forma e com a culpa formada dos portugueses os espanhóis desataram à porrada neles como era de lei naquela altura. Devolveram-nos depois à terra deles a Vinhais todos esmurrados.
Quando os da Mofreita viram os seus conterrâneos todos negros, perguntaram o que se tinha passado, tendo os guardas respondido que se encontravam naquele estado por terem confessado um crime.
Os da aldeia pediram para ver os chicotes dos guardas, aproveitando a posse destes para desatar a bater nos espanhóis. Os guardas perguntavam se o povo não tinha vergonha de bater em autoridades, tendo o povo respondido a esta provocação com uma acção: despiram as fardas dos guardas, retirando-lhes a posição de autoridades, até que estes fugiram.
RECOLHA 2005 SCMB, EURICO FERNANDES, Idade: 71.
Localização geográfica: MOFREITA – ORIGEM + 50 anos.
FICHA TÉCNICA:
Título: CANCIONEIRO TRANSMONTANO 2005
Autor do projecto: CHRYS CHRYSTELLO
Fotografia e design: LUÍS CANOTILHO
Pintura: HELENA CANOTILHO (capa e início dos capítulos)
Edição: SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE BRAGANÇA
Recolha de textos 2005: EDUARDO ALVES E SANDRA ROCHA
Recolha de textos 1985: BELARMINO AUGUSTO AFONSO
Na edição de 1985: ilustrações de José Amaro
Edição de 1985: DELEGAÇÃO DA JUNTA CENTRAL DAS CASAS DO POVO DE
BRAGANÇA, ELEUTÉRIO ALVES e NARCISO GOMES
Transcrição musical 1985: ALBERTO ANÍBAL FERREIRA
Iimpressão e acabamento: ROCHA ARTES GRÁFICAS, V. N. GAIA
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(Henrique Martins)
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segunda-feira, 27 de abril de 2020
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