A partir de meados do século XIX, os governadores civis de Bragança e a sua Câmara Municipal começaram a preocupar-se com os transportes e comunicações da Cidade com o país vizinho. O Governo reforçou tais preocupações, dando instruções quanto aos estudos que urgia fazer, para se construir a estrada de Bragança à fronteira.
As autoridades bragançanas fundamentavam, em 1864, a opção pelo troço de Bragança a Puebla de Sanabria, considerando tal ligação como mais estratégica e vantajosa face à ligação a Alcanizes, além de reunir, segundo eles, as condições necessárias para uma mais rápida execução.
A estrada de Bragança a Sanabria – refere-se –, “satisfaz valiosas condições económicas, quando puser a capital deste Distrito em comunicação não só com a fronteira de Espanha, mas também com alguma povoação importante que lhe fique próxima. Julgo, depois de ter ouvido a opinião mais autorizada de alguns negociantes desta Cidade, que ela deve ser dirigida a Calabor, primeira povoação do país vizinho e, por um acordo feito com o Governo de Espanha, continuada pelo mesmo Governo até Puebla de Sanabria, vila de uma certa importância e que tem relações comerciais com a Cidade de Bragança. Esta estrada há de, inevitavelmente, apressar o desenvolvimento destas relações, se a reforma das alfândegas espanholas se verificar, onde se acharão mercados vantajosos para muitos dos excelentes produtos agrícolas deste Distrito. É também em Puebla que passa a estrada de macadame que de Valladolid segue até Vigo, e o caminho-de-ferro que liga Madrid com esta última cidade passará também na proximidade daquela povoação”.
As autoridades portuguesas consideravam, assim, a ligação a Puebla de Sanabria como a mais proveitosa em termos económicos, sendo a de Alcanizes relevante apenas quanto ao serviço de correio – três anos mais tarde, porém, já propunham, além da estrada internacional entre Bragança e Puebla de Sanabria, a ligação de Bragança a Alcanizes.
Em 1869, foi criada uma comissão mista de engenheiros portugueses e espanhóis para definirem o traçado entre Portugal e Espanha, ligando Bragança a Zamora. O governador de Zamora dirigiu uma comunicação ao Governador Civil de Bragança, dando continuidade ao assunto que o anterior magistrado português lhe apresentara sobre viação pública na fronteira. Informou esta entidade que o Governo espanhol tinha convidado o Governo de Portugal a participar na criação de uma comissão mista, para se determinar o ponto da fronteira onde deviam encontrar-se as estradas de comunicação internacional.
O Governo Civil de Bragança enviara, entretanto, ao Ministério das Obras Públicas uma exposição urgente sobre a vantajosa abertura de comunicações para Espanha, com prioridade para a ligação a Puebla de Sanabria, fundamentando que a mesma “deve realizar-se, não só porque os trabalhos de viação seriam mais fáceis e de muito menos dispêndio do que por Alcanizes, mas também porque desta vila, mais insignificante, vai apenas concluída a estrada que leva a Zamora e daí para o interior, estando … por muitos anos vedada toda a imediata comunicação para a importantíssima província da Galiza, e ao passo que na Puebla de Sanabria iria a nossa entroncar na estrada real que vem dos últimos confins da dita província de Zamora, primeira estação de ferro-carril e conseguintemente a todas as terras espanholas”. Mas as autoridades espanholas insistiam que a mais fácil ligação dos dois países deveria ser por Alcanizes e não por Puebla de Sanabria.
Em 1875-1876, iniciaram-se os trabalhos da estrada da fronteira de Bragança a Alcanizes, os quais compreendiam a ponte sobre o Rio Sabor, a ligação até Quintanilha para a entroncar com a estrada espanhola que, partindo de Zamora, estaria a ser construída até Alcanizes, e daí até à ponte e margem esquerda do Rio Maçãs/Manzanas.
No relatório oficial de 1876, o Governador Civil de Bragança solicita ao Governo para este insistir junto do Governo de Espanha quanto à necessidade da conclusão da estrada de Zamora à vila de Alcanizes, a expensas da diputación provincial, e refere-se a visita que fez à cidade de Zamora, “a fim de determinar que esta corporação representante da província que nos é limítrofe, a tomasse em consideração e realizasse um melhoramento que a ambos os países interessava em larga escala”.
Porém, nos inícios do século XX, Bragança continuava a reclamar a construção de uma estrada que ligasse a Cidade a Zamora, uma vez que até à fronteira, ou seja, até à ponte internacional sobre o Rio Maçãs, faltavam ainda dez quilómetros. A ligação de Bragança a Zamora por Alcanizes acabou, deste modo, por ser privilegiada, como sabemos, até ao presente.
Título: Bragança na Época Contemporânea (1820-2012)
Edição: Câmara Municipal de Bragança
Investigação: CEPESE – Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade
Coordenação: Fernando de Sousa
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