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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 1 de outubro de 2020

Os escombros dos nossos valores

 
É mau de mais. As notícias que nos chegam dos Estados Unidos da América, é muito mau. Mesmo. Uma pessoa do lado de cá do mar pode pensar que lhe não respeita o que se passa do lado de lá e encolher os ombros, mas engana-se redondamente.

O mundo é pequeno, mesmo muito, e tudo que se passa ali ou além, tem consequências seja onde for. Muito mais, quando os desmandos se desenrolam no país que para o bem e para o mal, tendo sido desde há um século a matriz do mundo ocidental.
No entanto, e antes de mais, há que comparar as realidades históricas que tendo muito em comum, têm ao mesmo tempo diferenças abissais no que toca à origem de cada Nação deste nosso lado do globo, sem dúvida alguma a parte onde se foi mais longe em termos de evolução e de civilização.
Venha quem vier, temos muito pouco a aprender com outros. O problema, contudo, é que tendemos a esquecer. Repare-se que a velha Europa com âmago na civilização grega e na civilização romana andou desde quase sempre em guerra entre si, mas consolidou-se com a harmonia possível depois da Segunda Grande Guerra.
Pelo seu lado, a América que se fundou como Estado independente há trezentos anos, mais coisa menos coisa, a contragosto do colonizador, nasceu igualmente a ferro e fogo consolidando no seu seio gente muitas vezes do pior e de muitas partes. Pioneiros de revólver em punho contra índios de arco e flecha na mão. Escroques feitos heróis e heróis feitos escroques em todas as partes.
Desenhou-se e concretizou-se como país, à força de muita bala, de muita porrada, de muito roubo, mas inquestionavelmente de muita coragem, de muita insegurança, de muito medo vencido e de muita fome, naquilo que resultou num povo diferente, com anseios e valores muito próprios, e com maneiras de valorizar muito lá deles.
Por isso, nós com os olhos de cá, tendemos a não perceber o que vai por lá, apesar de termos sido formatos pelo que se lá passa. Resulta pois então disto a questão de não nos podermos alhear. Temos inclusivamente de nos preocupar, quando inequivocamente por lá falta a lucidez e escasseia a racionalidade.
Não é uma questão de inteligência ou de falta dela. As circunstâncias das coisas do mundo resultantes da forma como fomos avançando, mas não evoluindo, podem explicar apoios a líderes sem qualificação, sem formação, com muita ignorância, mas com toda a arrogância.
Os assuntos da política deixaram de ser entregues a cavalheiros, para serem entregues a coveiros da decência, da verdade e da democracia, porque se deixou diluir a linha separadora da verdade e da mentira, da doçura e da amargura, barreira última em qualquer mundo civilizado.
Os bárbaros andam à solta e estão prestes a chegar. Por isso é que as eleições de novembro na América são se calhar as mais importantes desde que há memória. Se os trogloditas ganharem, pode dar o trangalomango à Democracia Liberal que nos orienta e nos sustenta o cariz e o carácter civilizacional.
Existe o risco evidente de ela politicamente não ter pés, por serem de barro, para aguentar os empurrões e os atropelos. Poderemos ir para um tempo em que todos sabem de tudo sem que alguém saiba a sério de alguma coisa, para um tempo em que a espuma antes de se esfumar esconde e ilude, para um tempo em que tudo vale sem que todos se importem.
Podemos estar perante o dealbar de uma época em que das ruínas de um império, surge pela primeira vez na História dos homens, um outro muito pior, mais perigoso e muito mais injusto.
Enquanto isso, os “inimigos “à espreita por entre os escombros dos nossos valores, sorriem. Vão apanhar-nos com tudo o que temos, mas ainda lhes não demos. Depois, calcam-nos e seguem. Mas não nos vencerão.
Estou em crer que haverá sempre alguém que resiste e diz NÃO.

Manuel Igreja

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