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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 7 de novembro de 2020

O que procurar no Outono: a urze

 Planta de rara beleza, a urze (Calluna vulgaris) consegue transformar a paisagem numa época do ano em que a natureza se prepara para adormecer. É no outono que desperta as suas flores de forma exuberante, com cores e aromas improváveis.


Miguel Torga também foi um grande apaixonado pelas urzes, não fosse a escolha deste pseudónimo – Torga, uma homenagem a esta planta, que existia em grande quantidade na sua terra natal.

Urze. Foto: Meneerde bloem/WikiCommons

Quando questionado pela origem do nome, Torga respondeu “…eu sou quem sou. Torga é uma planta transmontana, urze campestre, cor de vinho, com as raízes muito agarradas e duras, metidas entre as rochas. Assim como eu sou duro e tenho raízes em rochas duras, rígidas.” 

Mas vamos conhecer melhor a Urze. Esta pequena planta que se destaca na paisagem das montanhas e serras, nas florestas e jardins de Portugal e que Torga tão bem descreveu, revelando a sua importância e a “personalidade” única de resistência e persistência.

A urze

Esta espécie, única do género Calluna, pertence à família das Ericaceae, e também é conhecida pelos nomes vulgares de Torga, Queiró, Queiroga, entre outros. 

Urze. Foto: Sannse/WikiCommons

A sua designação científica apresenta alguma curiosidade. O género Calluna surge do grego – Kallunein – que significa “varrer” e que está associado ao tradicional uso de vassouras artesanais e vulgaris, do latim, que indica que se trata de uma planta comum.

A urze é um pequeno arbusto perene, que pode chegar aos 40 anos de idade. De crescimento reduzido, pode atingir 20 a 100 cm de altura e formar pequenos tufos densos e coloridos. Bastante ramificada desde a base, os seus ramos crescem na vertical, apresentando tons amarelos e avermelhados. As raízes ramificam profundamente, garantindo um bom suporte e sustentação. Com o decorrer dos anos as raízes tornam-se grossas, lenhosas e retorcidas.

As folhas persistentes e muito pequenas, ligeiramente pubescentes, são verdes durante todo o ano. No entanto durante o inverno, as folhas envelhecidas que permanecem na planta, podem apresentar tons de bronze, prata, amarelo, laranja, púrpura e vermelho. Os frutos são pequenas cápsulas, redondas, com cerca de 2 mm de diâmetro e com numerosas sementes no seu interior.

As flores, de tons rosa, púrpura e lilás, surgem no outono numa tela colorida muito especial, atraindo inúmeros polinizadores. A diversidade de insectos que visitam esta planta é notável, incluindo as abelhas, moscas, borboletas noturnas e diurnas. Da atração das abelhas, pelas suas flores ricas em néctar, resulta um mel rico e escuro, descrito como sendo um mel perfumado, com odor a caramelo, doce e com um travo ligeiramente amargo. 

A urze em Portugal

Esta é uma espécie nativa da Europa e norte de África. Em Portugal ocorre um pouco por todo o território, incluindo nos arquipélagos da Madeira e dos Açores.

Urze. Foto: Bjorn S./WikiCommons

É frequente encontrar esta espécie associada a outras comunidades vegetais nativas que partilham os mesmos requisitos, e que se conseguem regenerar após a passagem de um incêndio florestal, nomeadamente estevas, rosmaninhos, giestas, tojos, carquejas e outras urzes.

Desenvolve-se em solos pobres em nutrientes, bem drenados, preferencialmente com pH ácido. Prefere uma boa exposição solar, no entanto suporta bem o ensombramento. 

Pode encontrar-se em zonas de mato, bosques degradados e em clareiras de pinhais e sobreirais. É importante na recuperação de solos secos, pobres e degradados.

Este pequeno arbusto, bastante resistente, não requer muitos cuidados. Do ponto de vista ornamental aconselha-se uma poda anual de Inverno para limpeza de flores, folhas e ramos secos e manter a conformação da copa.

Esta planta foi muito aproveitada pelas populações mais pobres do interior do país para inúmeros fins. Os seus ramos eram utilizados para o fabrico de vassouras e escovas artesanais. Das raízes e da madeira obtinha-se carvão de elevada qualidade. Tradicionalmente tinha ainda aplicações medicinais e era utilizada como aromatizante de vinhos e cerveja. Chegou a ser utilizada para tingir lã e cabedais com a tinta e corantes artesanais que se extraiam dos seus ramos e raízes, conferindo um tom amarelo aos tecidos. 

Atualmente, muitas destas aplicações continuam a verificar-se em alguns meios rurais. Mas são as propriedades melíferas e o interesse ornamental que apresenta que a tornam uma espécie muito procurada. As suas raízes mais grossas são utilizadas no fabrico de cachimbos, instrumentos de sopro e outros objetos mais artísticos.

Erica ou Calluna  

Urze também é o nome vulgar dado a outras espécies do género Erica, estando esse nome muitas vezes relacionado com a diversidade de cores que as flores apresentam e com a utilidade que lhes é dada. Ao contrário da urze (Calluna vulgaris) as espécies do género Erica florescem na primavera e no verão.

Urze. Foto: Joan Simon/WikiCommons

Curiosamente, a comercialização e plantação da urze (Calluna vulgaris) está proibida em alguns territórios onde foi introduzida (como por exemplo em algumas regiões da Austrália e da Nova Zelândia). Como acontece com algumas espécies exóticas em Portugal, a urze apresenta características invasoras nesses territórios, tornando-se um caso problemático, comprometendo o desenvolvimento das plantas nativas dessas regiões.

Carine Azevedo

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