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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

domingo, 3 de abril de 2022

Pode o esturjão regressar aos rios de Portugal?

 O leitor da Wilder Daniel Veríssimo, um economista maravilhado com a vida selvagem, escreve sobre o declínio e o eventual regresso do esturjão, o calmo gigante que precisa de rios livres.

Esturjão. Ilustração: British fresh water fishes. (1879)/WikiCommons

O esturjão (Acipenser sturio), também conhecido pelo nome de solho, pode medir entre 2 e 3 metros, pesar até 300 quilos e tem uma grande longevidade; os machos podem viver cerca de 65 anos e as fêmeas podem atingir os 120 anos.

Acipenser é um dos géneros mais antigos de peixe no mundo e, por essa razão, o esturjão é considerado um peixe fóssil. 

No passado tinha uma distribuição vasta, desde os rios que encontram o oceano nos fiordes da Noruega, aos rios na fronteira do deserto do Norte de África. Dos rios que desaguam nas costas bravas do Atlântico aos deltas e estuários abrigados do Mar Mediterrâneo e do Mar Negro.

Os três grandes rios de Portugal já foram casa do esturjão. No Guadiana, na vila de Mértola, era tão abundante que moedas eram cunhadas com a imagem do solho, no século I a.c.. No Tejo, em Montalvão no ano de 1321, foi pescado um peixe tão grande que o rei D. Dinis deu ordem para ficar registado nas crónicas. Media 3,75 metros e pensava 275 quilos! No Douro, era relativamente comum até ao início do século XX mas depois da construção de várias barragens, o último exemplar foi pescado em Foz Côa em 1972.

Hoje desapareceu de vastas áreas da distribuição histórica, está extinto na Península Ibérica e é uma espécie considerada Criticamente em Perigo. Pode apenas ser encontrado como reprodutor no delta do Girone, em França. 

Várias razões contribuíram para o declínio da espécie. A pesca excessiva (o esturjão é famoso pelas ovas que dão origem ao caviar) teve um impacto forte numa espécie com um ciclo de reprodução longo; a construção de barragens bloqueou migrações antigas de que a espécie precisava para completar o ciclo de vida; a simplificação do habitat com a regulação de caudais e a remoção de zonas de areias e seixos diminuiu as condições para a espécie prosperar e, por fim, a poluição degradou os habitats.

Nos últimos anos, com o objetivo de recuperar a espécie, foram feitas várias soltas de juvenis no Girone para reforçar a população existente e no Elbe e no Reno para começar novas. Em Espanha, o Rio Ebro já foi alvo de um plano para o regresso do Esturjão e já se discutem planos para voltar a mais rios.

Em Portugal poderá, numa fase inicial, voltar ao Lima, Minho e talvez Vouga. Medidas como restaurar os ciclos naturais dos rios, demolir barreiras obsoletas e excessivas e melhorar as passagens de peixes existentes são chave para criar as condições para o regresso da espécie. Ações de conservação para o esturjão podem devolver os ritmos naturais aos rios, garantir um compromisso longo e duradouro para a conservação de habitats marinhos, costeiros e fluviais e beneficiar muitas outras espécies de peixes migradores. 

Economicamente é um bom investimento em conservação e restauro da natureza, tem escala, as ações dedicadas a uma espécie têm o potencial de beneficiar muitas outras e garantem a proteção a longo prazo de uma grande variedade de habitats.

Os peixes são a categoria de animais mais ameaçados mas também os mais esquecidos, principalmente os andrónomos, peixes que migram entre rio e mar. Estas migrações são importantes pois transportam nutrientes entre diferentes locais e dão vida à paisagem. 

Os rios de Portugal já não são rios. Mas para o esturjão regressar podem voltar a ser. 

Para quando o regresso do Esturjão a Portugal?

Daniel Veríssimo

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