Os dez mandamentos dos bêbados, em Mogadouro (1)
2º – Esgotar os copos até o fundo.
3º – Fazer da garganta um ribeiro.
4º – Beber até ficar farto.
5º – Beber do branco e do tinto.
6º – Beber a qualquer pretexto.
7º – Beber do seu e de empréstimo.
8º – Beber até ficar como um cravo.
9º – Beber no Inverno, Primavera, Estio e Outono.
10º – Beber até ficar em créscimo.
Já agora, fique a conhecer os “dez mandamentos do vinho” em verso, ditos e recolhidos na freguesia de Lousa, concelho de Torre de Moncorvo, e na freguesia de Baçal, concelho de Bragança.
Mandamentos do vinho, ditos em Lousa, concelho de Torre de Moncorvo (2)
O vinho de Portugal,
Água não lhe deitarás,
Que te pode fazer mal.
Pela folha da parreira,
Pois grande ofensa se faz
À sua mãe, a videira
Bacalhau, pão e queijo,
Beberás com todo o jeito
Até fartar teu desejo.
Com respeito adorarás;
Quando a encontrarás no caminho
O chapéu lhe tirarás.
Só se for chibo ou carneiro,
Para fazeres dele um odre
Que seja teu cabaçeiro.
Comer salada de pepino,
Que dizem certos autores
Ser veneno contra o vinho.
Só se for para beber;
Se te fores confessar
Sempre te hão-de absolver.
Ver a medida pequena;
Beber por um cangirão
Que faça a vista morena.
Beber o vinho alheio,
Quando estiver turvo
Ou já muito vinagreiro.
A aguardente e o vinho
E ser sempre um bom devoto
Do advogado S. Martinho.
Que a todos convém saber:
É pôr a boca à torneira
E … deixá-la correr!
Mandamentos do vinho, ditos na freguesia de Baçal, concelho de Bragança (3)
O vinho de Portugal,
Auga le num botarás
P´ra que te num faça mal.
Pela folha de laranjeira,
Que é ofensa que fazes
À sua primeira parreira.
Pão e queijo na algibeira,
Co ele beberás
Quando te der na goteira.
O odre do vinho,
O chapéu le tirarás,
Se o encontrares no caminho.
Só se for cabra ou bode,
A chicha le comerás
E da pele le farás um odre.
Só se for bilha grossa,
A boca le apararás,
P´ra que verter-se não possa.
Só se for p´ra beber,
Porque, se te fores confessar,
Sempre te hão-de absolver.
Odre que seja deitado,
Antes te deitarás
Do outro lado.
Beber por vasilha pequena,
Desde que bota a escuma fora,
Logo lhe fica a cor morena.
A salada do pepino,
Porque é muito fresca no Verão
E mui contrária ao vinho.
Se encerram em dois,
Vem a saber:
Comer bem e beber depois
Fontes: (1) Etnografia Portuguesa – vol.VI, J. Leite de Vasconcelos, p.392
(2) Informação enviada pelo abade José Tavares. Etnografia Portuguesa – vol.VI, J. Leite de Vasconcelos, p.392
(3) Informação enviada pelo reitor de Baçal, Francisco Manuel Alves, em 1933. Etnografia Portuguesa – vol.VI, J. Leite de Vasconcelos, p.392
Imagem de destaque: Os bêbados ou Festejando o S. Martinho | Quadro de José Malhoa | Museu José Malhoa – Caldas da Rainha
Sem comentários:
Enviar um comentário