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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Um dó li tá

Por: Fernando Calado
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)

Amanheceu. O tempo serenou. Abrimos a janela e um pássaro canta na frescura da árvore vestida de ouro, em tempo outonal. Desligamos a Televisão… deixamos de entender o mundo. As certezas de ontem são as incertezas de hoje. Não há passado porque se perdeu no desrespeito pela tradição... e se ignorou a dignidade humana instituída. Não há presente porque se afoga nos calabouços do medo e do tempo incerto. Não há futuro porque não se pode planear…prever…a lógica da incerteza fragiliza os mais frágeis que vivem o presente sem horizontes de amanhã, sem a frescura renovadora da esperança.
Hoje, ainda tomamos o pequeno-almoço pela manhã no recato da nossa casa… Quantos dias poderemos tomar o pequeno-almoço pela manha? Não sabemos… vivemos no sobressalto… no medo do saque consentido… na eminência da pobreza planeada. Tudo legal. Quem duvida da legalidade do Despacho, da Portaria, do Decreto-Lei, da Lei que todos os dias…pela calada da noite nos delapida o património…nos saqueia as magras reformas…nos retira serviços de proximidade… nos comprometem a saúde…nos fragilizam as escolas.
Gostava de saber de um sítio onde não houvesse Estado… onde as Leis assentassem na honradez dos vizinhos…regressar ao Comunitarismo… cultivar a horta…criar o porco e as galinhas… viver em paz com os vizinhos na esperança que não me saqueassem o renovo, nem me assaltassem a capoeira.
Mas não vale a pena sonhar…os velhos comunitarismos são uma miragem… o reino maravilhoso do Torga… morre paulatinamente… grande é o deserto!
O Povo continua a votar no seu Partido… a comprar o tractor maior do que o do vizinho… a assistir resignadamente à morte dos idosos… as crianças deixaram de jogar ao pião e ao giroflé… giroflá na cerca da escola… E um dia breve... talvez a última criança, do tal reino maravilhoso que morre duma forma ignóbil, legal e consentida às mãos do Poder de Lisboa dirá sozinha a última lenga-lenga, na imensidão dos destroços dos casebres abandonados:

Um dó li tá
Cara de amendoá
Um segredo
Colorido
Quem está livre, livre está. 
Em cima do piano está um copo de veneno, 
quem bebeu morreu, 
o azar foi mesmo teu!

...não acreditem... hoje acordei mais cinzento... não acreditem... temos que agarrar a esperança... nem que seja a ultima esperança!
Nos dias mais cinzentos é quando se ouve, duma forma mais vibrante e clamorosa o Hino sagrado da Maria da Fonte:

"É avante Portugueses 
É avante sem temer 
Pela santa Liberdade 
Triunfar ou perecer"


Fernando Calado nasceu em 1951, em Milhão, Bragança. É licenciado em Filosofia pela Universidade do Porto e foi professor de Filosofia na Escola Secundária Abade de Baçal em Bragança. Curriculares do doutoramento na Universidade de Valladolid. Foi ainda professor na Escola Superior de Saúde de Bragança e no Instituto Jean Piaget de Macedo de Cavaleiros. Exerceu os cargos de Delegado dos Assuntos Consulares, Coordenador do Centro da Área Educativa e de Diretor do Centro de Formação Profissional do IEFP em Bragança. 
Publicou com assiduidade artigos de opinião e literários em vários Jornais. Foi diretor da revista cultural e etnográfica “Amigos de Bragança”.

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