Por: Antônio Carlos Affonso dos Santos – ACAS
São Paulo (Brasil)
(colaborador do Memórias...e outras coisas)
Fim do ano de 2020. Ano da Pandemia do Covid-19. Talvez eu tenha ficado muito abalado coma notícia do falecimento de dois escritores transmontanos que eram colaboradores, assim como eu, do blog “Memórias e Outras Coisas”; não sei bem!
O fato é que hoje me lembrei de meu pai. E, lembrando dele, constato que muita coisa eu deveria ter dito a ele em vida; e não o disse! Até hoje acredito que Deus deveria ter deixado que ele convivesse mais com a família. Somos nove irmãos; éramos, melhor dito! Nesse dezembro de 2020, apenas seis ainda vivem. E eu já vivi dezoito anos mais que meu pai. Se eu pudesse falar com ele, diria hoje:
- Se um dia papai voltasse, eu tentaria viver com ele tudo aquilo que sempre quis e nunca aconteceu. Ah, se eu pudesse voltar o tempo! Papai iria brincar comigo, garanto! Ele não chegaria cansado, nem estressado, nem nervoso, nem dopado, nem triste. A luta, para seus filhos terem alguma coisa no futuro, não o deixou viver o presente, até seu dia derradeiro!.
Hoje ele é passado. Papai morreu quando eu tinha dezoito anos de idade; ele tinha à época, pouco mais de cinquenta. Ele nunca participou de minha adolescência e; menos ainda por Deus o ter levado tão cedo, da minha chegada à idade adulta.
Ah, se papai me abraçasse, ao menos uma única vez; eu diria a ele que o amava. Quem sabe assim ele e eu perdêssemos nossa timidez?
Se papai me abraçasse, eu lhe daria um presente fantástico: uma máquina do tempo!
Ai então, eu ligaria meu «transformador de gente» e o faria ser menino de novo. Eu próprio entraria na máquina e nós dois, meninos; finalmente brincaríamos como só as crianças sabem brincar.
Cansados das reinações, eu o olharia embevecido, enquanto nova transformação ocorreria; eu e ele, aos poucos íamos ficando velhos! Fecharíamos nossos olhos, e nos elevaríamos acima dos telhados das casas, das ruas, das luzes, das cidades, do país e do mundo. Quem sabe, finalmente, eu veria a Europa, que tanta vontade tenho de conhecer e não pude; nem poderei.
Se um dia papai voltasse, e eu pudesse conviver com ele tudo aquilo que quis e que nunca aconteceu, eu o acompanharia até a presença do Pai Eterno.
Reclamaria Dele, da falta de tempo que papai teve, e do fato dele não me ver crescer. Ah, se eu pudesse voltar o tempo!
Se eu pudesse voltar o tempo, papai iria brincar comigo até o fim dos tempos. Eu, morto que estou, finalmente brincaria com papai.
Se um dia, você leitor, ouvir cantigas de roda, ruídos de quermesses, catiras batidas na mão e nos pés, ouvir sabiás cantando numa praça da cidade grande, ou ver um caipira lavrando a terra, saudado pela natureza; saiba leitor, serão eu e meu pai, nos divertindo na eternidade; visto que na vida pouco nos divertimos.
Vocês ainda nos virão nos sorrisos ocultos dos personagens das estátuas que contam a história da terra bandeirante, em cada praça onde quer elas estejam.
Vocês nos ouvirão nos gorjeios dos canários da terra, dos coleirinhas, dos curiós, dos pintassilgos, no farfalhar das folhas dos jequitibás, nas flores dos ipês que os tornam sagrados, nas algazarras das crianças, nos curumins e cunhãs do Mato Grosso, que apreciaram um texto desse velho escrevinhador que, se não deixou filhos, foi abençoado por Deus com o dom de ver e ouvir estrelas, apreciar a natureza e entendê-la e a amar sua querida Dirce, despudoradamente.
Foi uma pena, meu pai, que não houvéssemos brincado mais com a vida, de não ter ouvido mais música caipira, de ter sorrido mais, como os duendes, curupiras e sacis que me acordaram hoje, só para que eu pudesse escrever este texto que, provavelmente, será o último deste ano tão difícil.
- Até breve, meu pai! Não se perca de mim; não me desapareça. Se puder, mande-me uma foto pelo whatsapp, como aquelas crianças que mostrei na ilustração acima! Ah, meu pai, se puder; proteja-me e à minha esposa!
O fato é que hoje me lembrei de meu pai. E, lembrando dele, constato que muita coisa eu deveria ter dito a ele em vida; e não o disse! Até hoje acredito que Deus deveria ter deixado que ele convivesse mais com a família. Somos nove irmãos; éramos, melhor dito! Nesse dezembro de 2020, apenas seis ainda vivem. E eu já vivi dezoito anos mais que meu pai. Se eu pudesse falar com ele, diria hoje:
- Se um dia papai voltasse, eu tentaria viver com ele tudo aquilo que sempre quis e nunca aconteceu. Ah, se eu pudesse voltar o tempo! Papai iria brincar comigo, garanto! Ele não chegaria cansado, nem estressado, nem nervoso, nem dopado, nem triste. A luta, para seus filhos terem alguma coisa no futuro, não o deixou viver o presente, até seu dia derradeiro!.
Hoje ele é passado. Papai morreu quando eu tinha dezoito anos de idade; ele tinha à época, pouco mais de cinquenta. Ele nunca participou de minha adolescência e; menos ainda por Deus o ter levado tão cedo, da minha chegada à idade adulta.
Ah, se papai me abraçasse, ao menos uma única vez; eu diria a ele que o amava. Quem sabe assim ele e eu perdêssemos nossa timidez?
Se papai me abraçasse, eu lhe daria um presente fantástico: uma máquina do tempo!
Ai então, eu ligaria meu «transformador de gente» e o faria ser menino de novo. Eu próprio entraria na máquina e nós dois, meninos; finalmente brincaríamos como só as crianças sabem brincar.
Cansados das reinações, eu o olharia embevecido, enquanto nova transformação ocorreria; eu e ele, aos poucos íamos ficando velhos! Fecharíamos nossos olhos, e nos elevaríamos acima dos telhados das casas, das ruas, das luzes, das cidades, do país e do mundo. Quem sabe, finalmente, eu veria a Europa, que tanta vontade tenho de conhecer e não pude; nem poderei.
Se um dia papai voltasse, e eu pudesse conviver com ele tudo aquilo que quis e que nunca aconteceu, eu o acompanharia até a presença do Pai Eterno.
Reclamaria Dele, da falta de tempo que papai teve, e do fato dele não me ver crescer. Ah, se eu pudesse voltar o tempo!
Se eu pudesse voltar o tempo, papai iria brincar comigo até o fim dos tempos. Eu, morto que estou, finalmente brincaria com papai.
Se um dia, você leitor, ouvir cantigas de roda, ruídos de quermesses, catiras batidas na mão e nos pés, ouvir sabiás cantando numa praça da cidade grande, ou ver um caipira lavrando a terra, saudado pela natureza; saiba leitor, serão eu e meu pai, nos divertindo na eternidade; visto que na vida pouco nos divertimos.
Vocês ainda nos virão nos sorrisos ocultos dos personagens das estátuas que contam a história da terra bandeirante, em cada praça onde quer elas estejam.
Vocês nos ouvirão nos gorjeios dos canários da terra, dos coleirinhas, dos curiós, dos pintassilgos, no farfalhar das folhas dos jequitibás, nas flores dos ipês que os tornam sagrados, nas algazarras das crianças, nos curumins e cunhãs do Mato Grosso, que apreciaram um texto desse velho escrevinhador que, se não deixou filhos, foi abençoado por Deus com o dom de ver e ouvir estrelas, apreciar a natureza e entendê-la e a amar sua querida Dirce, despudoradamente.
Foi uma pena, meu pai, que não houvéssemos brincado mais com a vida, de não ter ouvido mais música caipira, de ter sorrido mais, como os duendes, curupiras e sacis que me acordaram hoje, só para que eu pudesse escrever este texto que, provavelmente, será o último deste ano tão difícil.
- Até breve, meu pai! Não se perca de mim; não me desapareça. Se puder, mande-me uma foto pelo whatsapp, como aquelas crianças que mostrei na ilustração acima! Ah, meu pai, se puder; proteja-me e à minha esposa!
Antônio Carlos Affonso dos Santos – ACAS. É natural de Cravinhos-SP. É Físico, poeta e contista. Tem textos publicados em 8 livros, sendo 4 “solos e entre eles, o Pequeno Dicionário de Caipirês e o livro infantil “A Sementinha” além de quatro outros publicados em antologias junto a outros escritores.
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