Por: Antônio Carlos Affonso dos Santos – ACAS
São Paulo (Brasil)
(colaborador do Memórias...e outras coisas)
Boneca de papelão, típica da década de 1950 |
No dia de Natal, viam-se crianças sorrindo, brincando com os novos brinquedos que o Papai Noel trouxera durante a noite. Nas carinhas, o sorriso franco por terem ganhado um brinquedinho simples.
Pelo Natal, minha irmã, pouco mais nova que eu, ganhou uma boneca, daquelas feitas em papelão branco, com rosto desenhado à tinta.
Os leitores nem podem imaginar a minha felicidade e a felicidade da minha irmã, quando recebeu seu presente, que o bom velhinho havia deixado no sapato, sob o presépio. Havia um brilho intenso nos olhos dela; que se encantou com a bonequinha.
O ruim da história, que marca tal dia na minha lembrança, foi que minha irmã, na ansiedade de fazer carinho para a boneca, quis dar café para a boneca, o qual acabou caindo na cara da boneca, desfigurando-a.
Chorosa e aflita, tentou lavar a cara da boneca com água e sabão; tentou! As feições foram sumindo, sumindo, sumindo, sumindo; .... sumiu! A boneca ficou sem olhos, boca, nariz e orelhas; e ainda ganhou um enorme borrão azul, resquício da tinta de má qualidade com que foi feita a feição da boneca.
Mais minha irmã olhava; mais chorava!
Raciocinei: a cidade mais próxima ficava há 25 km, porém não havia condução para ir até lá; dinheiro para comprar outra boneca não existia... .
Resolvi: eu próprio fui ao milharal, escolhi uma espiga/boneca do pé de milho, com longos cabelos avermelhados, que enrolei num lenço de seda da minha mãe e entreguei à minha irmã. Ela parou de chorar!
Essa foi a boa ação mais bonita que fiz na minha vida!
Essa minha irmã faleceu em 2008, no exato dia em que completava 60 anos de idade! Essa quarentena devido ao Covid-19 e a proximidade do Natal fez-me lembrar dela, com profunda emoção. Fique com Deus minha irmã.
Entre a fartura na mesa e a mesa em que tudo falta, há a presença do Menino Jesus. Que Ele esteja em todos os lares, seja do rico ou do pobre. O importante é que a Sua presença possa ser vista e sentida, pois a comemoração é para Ele. A comemoração é pelo Seu nascimento. O nascimento do Nosso Salvador.
Antônio Carlos Affonso dos Santos – ACAS. É natural de Cravinhos-SP. É Físico, poeta e contista. Tem textos publicados em 8 livros, sendo 4 “solos e entre eles, o Pequeno Dicionário de Caipirês e o livro infantil “A Sementinha” além de quatro outros publicados em antologias junto a outros escritores.
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