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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 26 de dezembro de 2020

Parte II - Festa dos Caretos em Torre de Dona Chama

 Dia 26 de Dezembro


A Festa dos Caretos em Torre de Dona Chama desenrola-se em dois dias: 25 e 26 de Dezembro. Na crónica anterior tratámos do evento, e seus pormenores, relativo ao dia 25; hoje, vamos concentrar-nos no dia 26 de Dezembro.

Durante toda a noite de 25 para 26 de Dezembro, ninguém vai à cama. Junta-se o povo à volta da fogueira, no Largo do Pelourinho e do Berrão, festejando, convivendo e aconchegando o estômago, não há falta de comida e bebida, todos quantos apareçam, sejam da terra ou forasteiros, comem e bebem com os demais. Os burros continuam sendo roubados toda a noite.

Neste dia, 26 de Dezembro, as tradições festivas subdividem-se em várias manifestações que elenco por ordem cronológica de execução:

Desfile da Ciganada
Desfile das Madamas
Missa de Santo Estêvão e Bênção do Pão
Correr a Mourisca
Conquista do Castelo
Ovelha Ferida
Arruada de Bombos

De manhã cedo sai o Desfile da Ciganada, onde são exibidos os burros roubados, cujo objetivo é mostrar aos Mouros que não têm montarias e, assim, feri-los no ego. Os Cristãos que vão desfilar com os burros passam pela fogueira onde, com carvão, enforretam[1] a cara para não serem identificados.

Assim que termina a Ciganada, segue o Desfile das Madamas. Gente travestida, satirizando através do exagero o género oposto, participa no desfile. Vêm de cara tapada, com panos de renda; trazem no braço um saco de farinha e água para atirar ao povo; empunham nabos e rabas[2] que usam como falos para provocar risada por onde passam. Este desfile é uma espécie de Carnaval antecipado e encaixa na encenação teatral como uma representação do profano.

A Missa de Santo Estêvão tem por objetivo a conversão do rei Mouro. Nela participam os reis de ambos os lados, Cristão e Mouro, e a forma de os distinguirmos é pela vara que empunham, sendo que o Mouro tem uma laranja espetada no cimo da vara e o Cristão, uma maçã. No final da missa faz-se a Bênção do Pão que cada participante leva à cerimónia religiosa e uma pequena procissão em volta da Igreja. O povo, quando chega a casa, reparte o pão por toda a família, pelos animais domésticos e do campo, como sinal de proteção para todo o ano.  

Terminadas as cerimónias religiosas dá-se início ao Correr a Mourisca apoiada pelos Caretos que se colocam do lado dos Mouros. Esta encenação da dura batalha entre Mouros e Cristãos começa no adro da Igreja Matriz e termina no Largo do Prado, culminando com a vitória dos Cristãos sobre os Mouros.

A Conquista do Castelo é assinalada com a sua queima. Previamente foi construído um castelo, em cenário, que será queimado. Todo o povo se junta em volta para festejar a vitória.

Em tempos idos, Ti Cacherra vestindo uma pele de ovelha com marcas de sangue, representando a Ovelha Ferida, aparecia com um saco de cinza que espargia em cima do povo, afugentando-o.

Estas representações ligadas aos animais ovinos – o Pastor e seu Rebanho, dia 25 à noite; a Ovelha Ferida, dia 26 após a queima do castelo - têm caído em desuso mas urge revitalizá-las.

Para assinalar a vitória dos Cristãos e assegurar que não restam Mouros sai uma Arruada de Bombos, rufando bem alto, percorrendo toda a localidade.

Papel do Careto nas festividades

O Careto de Torre de Dona Chama apenas sai à rua no Natal e tem um papel interessante neste ritual, pois simboliza o rapaz solteiro, transgressor, fazendo cabriolagens por todos os lados e tomando o partido dos Mouros. O fato é confecionado em tecido nobre, ornamentado com franjas de seda, composto por duas peças: calças e um casaco com capuz do qual pende uma borla.

Queima do Castelo em Torre de Dona Chama - 2019 / Teresa A. Ferreira

Esconde o rosto atrás de uma máscara de lata, cabedal, cartão ou ferro, sendo sempre pintada.

E assim terminam as Festas natalícias cheias de alegria e vontade de no próximo ano voltar.

Os meus agradecimentos ao conterrâneo Nuno Nogueira, Presidente da Junta de Freguesia de Torre de Dona Chama.

Fontes: O Inverno esconde o Careto, Telmo Carvalho, 2001 

[1] Enforretam – pintam
[2] Rabas – tubérculo que está entre o nabo e a beterraba e só se cultiva em Trás-os-Montes. Faz parte da ceia de Natal.

Texto, foto e vídeo: Teresa A. Ferreira, 25-12-2020

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