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O Solstício de Inverno é um momento místico celebrado por vários povos antigos como homenagem ao astro rei – o sol, pois simbolizava a vitória da luz sobre a escuridão. E as plantas, o que andarão a fazer durante este período em que os dias são curtos e frios?
O inverno muda radicalmente o comportamento das plantas, pois estas sentem e expressam as mudanças que ocorrem nesta época do ano. Com menos luz disponível, fundamental para a fotossíntese, com as temperaturas mais baixas e até com a possibilidade de ocorrência de geada, algumas entram em repouso vegetativo. Este processo, onde parecem adormecer, permite-lhes poupar e acumular energia suficiente para voltarem a brotar na primavera.
No entanto, existem plantas que continuam a brindar-nos com a sua beleza ímpar. O Teixo (Taxus baccata), por exemplo, é uma árvore com grande simbolismo nesta época do ano, pois representa o final do ano solar, que culmina com o Solstício de Inverno.
O Teixo
O teixo é uma espécie perene, de porte arbustivo ou arbóreo, que pode atingir os 20 metros de altura. Com ramos desde a base, tem uma copa densa em forma de pirâmide, por vezes irregular. As suas folhas, em forma de agulha e bastante flexíveis, são de cor verde-escura na página superior, glabra na página inferior e com uma nervura central, saliente, que termina num pequeno mucrão – ponta curta e aguçada.
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É uma espécie de floração dioica, o que quer dizer que tem flores masculinas e femininas, que ocorrem em indivíduos diferentes. As flores masculinas são numerosas, arredondadas, de cor amarelada e surgem solitárias nas axilas das folhas. As flores femininas são menos vistosas, ovóides, de cor verde e surgem aos pares ou isoladas, na extremidade dos ramos. A floração ocorre entre o final do inverno e o início da primavera.
O fruto surge nos exemplares femininos, a partir do final do verão e estendendo-se a sua maturação até ao início do inverno. Na verdade, o teixo produz um falso-fruto, ovóide, constituído por uma estrutura carnuda – o arilo, que envolve a semente. O arilo apresenta cor vermelha ou alaranjada, com um sabor adocicado e muito nutritivo. É bastante vistoso, atrativo e apreciado pelas aves frugívoras, que ao alimentarem-se, ajudam a disseminar as suas sementes.
São estas características morfológicas que dão origem à sua designação científica Taxus baccata. O nome do género Taxus é o nome latim para o teixo, deriva do grego Taxis, que significa “linha” pela disposição das suas folhas. Taxus pela dureza, resistência e flexibilidade da sua madeira para fazer taxon – “arcos”, ou de toxicos – “veneno”. O restritivo específico baccata provém do latim bacca – “baga” em referência ao tipo de fruto.
Espécie relíquia
De crescimento muito lento e de grande longevidade, o teixo pode viver 2000 anos ou mais. De acordo com alguns registos fósseis, que datam do Miocénico inferior, acredita-se que este seja o género de árvore mais antigo da Europa.
É uma espécie nativa na Europa, Cordilheira do Atlas e Ásia menor. Em Portugal, surge confinada às altas montanhas da Serra da Estrela, Gerês e dos arquipélagos da Madeira e dos Açores. Os povoamentos de teixo são considerados verdadeiras relíquias da floresta portuguesa, por surgirem em vales profundos, encostas íngremes e apertadas, geralmente junto a linhas de água e de difícil acesso. Locais únicos, que parecem saídos de um conto de fadas.
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O teixo prefere zonas de sombra, embora prospere em locais com exposição solar plena. Pode crescer em quase todos os tipos de solos, desde que bem drenados, húmidos e preferencialmente ricos em húmus e com pH baixo. Suporta bem o frio, mas é sensível às geadas, sobretudo se prolongadas.
Venenosa e medicinal
Pertencente à família das Taxaceae, o teixo é uma espécie altamente venenosa. Todas as partes da planta contêm elevados níveis de toxicidade, excepto o arilo – característica que explica a sua destruição sistemática desde a antiguidade. O flagelo dos incêndios florestais e a procura desta espécie pela madeira são outros motivos que levaram ao seu desaparecimento. De tal forma que se encontra atualmente com estatuto de conservação de espécie em perigo, integrando a lista de espécies com estatuto de proteção especial – Directiva Habitats 92/43/CEE do Conselho, de 21 de Maio de 1992, relativa à preservação dos habitas naturais e de fauna e da flora selvagens.
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Os níveis de toxicidade do teixo devem-se a um alcalóide produzido por todas as partes verdes da planta – a taxina, que o torna altamente tóxico. No entanto, se a taxina é tóxica para o homem e para os outros animais, esta substância também tem tido um papel muito importante na medicina. Da taxina extraída e usada em laboratório produz-se o taxol, uma substância que tem sido utilizada, de forma eficaz, na luta contra diversos tipos de cancro. Atualmente são inúmeras as investigações e os produtos farmacêuticos obtidos a partir desta planta.
Além da utilização na medicina, esta espécie é também muito utilizada como ornamental, isolada ou em sebe. A sua madeira avermelhada tem diversas aplicações – incluindo o fabrico de pequenas peças de mobiliário e esculturas, entre outras – pois é dura, resistente e elástica.
No passado, a madeira de teixo foi muito utilizada pelos egípcios no fabrico de sarcófagos de alguns faraós, na estacaria das fundações de Veneza, no fabrico de instrumentos musicais e na produção de arcos e flechas para a caça e para a guerra. As flechas eram ainda embebidas por uma solução tóxica retirada da própria planta, para aumentar a eficácia.
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São muitas as histórias e mitos que envolvem o teixo. Segunda a lenda, o arco de Robin Hood, o mítico herói inglês que roubava aos ricos para dar aos pobres, era feito de madeira de teixo. Na Europa, pela sua longevidade e associação à imortalidade, foi durante muitos anos utilizada para ornamentar cemitérios, como símbolo de morte e de vida. Na história do cristianismo, e de acordo com alguns investigadores, a cruz onde Cristo foi crucificado terá sido feita da madeira de teixo.
Mesmo nos dias mais frios do inverno podemos apreciar o que a natureza nos tem para oferecer. Se estivermos atentos, encontraremos algo diferente em cada caminho que fizermos. Por exemplo, o teixo não vos transporta para esta época natalícia? A mim, o verde-escuro das folhas e o vermelho escarlate dos arilos fazem-me pensar que a natureza também celebra o Natal com a beleza natural desta árvore.
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