Número total de visualizações do Blogue

Pesquisar neste blogue

Aderir a este Blogue

Sobre o Blogue

SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

O campo é bom enquanto houver humor

 O campo é bonito para passear nas férias e levar lá os putos (como quem os levava dantes ao zoológico) para verem como se vivia antigamente, coisa que eles decerto nem vão acreditar.
A única diferença é que este zoo já não teria bípedes em exposição por detrás das grades, mas reproduções e filmes deles no habitat natural. Sempre se aproveitava para manter a tradição viva e ensinava-se a história dos antepassados. Este método de ensino é mais económico e proveitoso que ir a um museu, que, como sabem, fecha nas férias, feriados, dias santos e ao fim de semana. Se os turistas querem ir aos museus portugueses é meramente para cobiçar o que lá existe. Quiçá para tentar roubar umas peças sagradas para contrabandearem para as terras deles, que nada têm de valor, comparado ao que existe em Portugal...
Querem-se políticos a pensar no país, a congelar deputados inúteis, a desburocratizar, a pensar na Nação sem betão nem alcatrão. Queremo-los num hospital, repartição, tribunal, transportes públicos, a tirarem o número na fila sem privilégios nem mordomias, sem médico de família, como milhões de portugueses. Ando há meses a matutar neste tema. Devaneei que o país tinha deixado de ser Lisboa. Idealizei aldeias, crianças em escolas reativadas, campos cultivados e os mais idos, mas o que encontrei?
Como acabam com as escolas, maternidades, e outros serviços no interior, fica mais barato mudá-los todos para a cidade pois aí terão um nível económico, qualidade de vida mais elevada do que se continuassem a viver em aldeias de casas de pedra sem condições, para onde a energia elétrica custa milhares a ser transportada, mais as linhas de telefone fixo, mais o saneamento e o abastecimento de água, e tudo isto já existe nas cidades e no litoral. Toda a população podia desfrutar do ótimo clima à beira-mar plantado. Mudam-se, de vez, para a costa mesmo que desapareça em breve. Nos últimos anos a Europa já ensinou que a agricultura portuguesa não dava nada e o melhor era importar de Espanha onde fazem agricultura a sério. 
Por que é que isto não foi pensado nem feito antes? Tinham-se poupado milhões de euros em estudos e em comissões que nunca epilogaram nem propuseram nada digno de ser aplicado. Deve ser por isso que o país se atrasou tanto. Mas com tanto betão a mexer-se para os lados do novo aeroporto e com a velocidade do TGV, ninguém se apercebeu de que os últimos exemplares do comboio Foguete (anos 1960) apodreceram em Elvas pois não há dinheiro para os recuperar. As linhas de caminho-de-ferro para o interior vão desaparecendo, seguindo a lógica racional e pragmática de que lá só existem os velhos que não contam nem votam.
 Anda o Estado a gastar dinheiro, a construir estradas, pontes, viadutos e túneis para o interior, de custosa manutenção, quando lá não vive ninguém (ou quase). Vai-se a qualquer aldeia e são só meia dúzia de velhos. Já transferiram as crianças para as cidades, logo na escola primária. Basta fazer o mesmo aos velhos. Depois de verem o progresso urbano nunca mais querem regressar para o atraso e provincianismo das aldeias. As aldeias parecem agradar aos turistas que começam a ir mais regularmente conhecê-las, desviando-se da rota universal do Algarve, a floresta de betão implantado em praia ou nesga de areia. Assim, o mais lógico é trazer os velhos para a cidade, pois, entretanto, morrem. Depois, lá nas terras deles, plantam-se uns campos de golfe. Como sabem, é o desporto de milhões de portugueses. Sempre dá mais dinheiro do que plantar batatas, dado haver um excesso de produção da variedade portuguesa da semilha.
A Europa decidiu o mesmo quanto à pesca portuguesa, que tão boa fama tivera em tempos saudosos. O melhor era aboli-la para que ficasse mais barato aos espanhóis virem cá pescar, levar e tratar o peixe na terra deles. Depois, voltavam para o colocar na lota mais barato do que se tivesse sido pescado em Portugal por portugueses, tratado em lotas portuguesas e vendido por varinas portuguesas. Romanticamente, tentou-se manter a agricultura de subsistência sem rentabilidade à custa do sacrifício dos pobres agricultores iletrados, que. tiveram de fazer inúmeros sacrifícios, levantarem-se pelas 5 da manhã e trabalharem até ao pôr-do-sol, para receberem uns tostões pelos legumes que os hipermercados vendem por euros. Toda a gente já sabia que se esses agricultores vivessem na cidade não precisavam de se esforçar tanto. Não vale a pena cultivar uma couve-galega na varanda ou na “marquise” para fazer um caldo verde. Além do mais é proibido.
Não podia continuar silente, este era o rumo que o futuro nos indicava, seguido na península ibérica, as ilhas estão a ficar desertas? Vamos juntá-los todos e trazê-los para as cidades, só assim os Açores serão rentáveis.

Chrys Chrystello, Jornalista, Membro Honorário Vitalício nº 297713 [Australian Journalists' Association] MEEA]
Para o Diário dos Açores (desde 2018) Diário de Trás-os-Montes (desde 2005) e Tribuna das Ilhas (desde 2019)

Sem comentários:

Enviar um comentário