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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 22 de dezembro de 2020

O presunto comido por engano

Em 1975 eu e o meu irmão José éramos professores em Mogadouro, ele no Ciclo Preparatório e eu no Liceu, a funcionar no espaço do antigo colégio criado pelo Sr. Padre Varizo e que também era nessa altura o seu Director.

Desses tempos guardo as melhores recordações, seja pelo facto do companheirismo e amizade que nutríamos pelos nossos colegas professores, seja pela nossa juventude com a vida à nossa frente ao virar da esquina, seja pelas das grandes esperanças que alimentávamos para o nosso país, recentemente renascido pela revolução dos cravos, ocorrida um ano antes.
Eram outros os tempos e os costumes. Apesar de tão perto de Brunhoso, pelo facto de não termos carro, tínhamos alugado um quarto na casa que um conterrâneo, ali para os lados do hospital.
E a vida corria com toda a normalidade.
Custa-me a relatar este acontecimento por quase todos os seus intervenientes terem falecido e no decorrer do tempo me ter tornado seu amigo. Não creio trair a sua memória nem ter o boçal preconceito de faltar ao respeito só por relatar uma situação que é bastante caricata.
Devíamos estar em Maio, perto do final do ano
Um belo dia o chegar a casa veio a Senhora Alice, nossa hospedeira, dizer-me que estava ali uma lembrança, que pela forma do embrulho devia ser um presunto, deixado pela mãe de um aluno da aldeia de ….
- Antoninho (era assim que a D. Alice me chamava), está aqui uma lembrança para si, deixada pela mãe de um aluno seu, a ver o que pode fazer por ele.
- Como é que a senhora aceitou ficar com isso, D. Alice? A senhora conhece-me, conhece os meus pais, como é que pode sequer pensar que vou passar um aluno que não mereça. Nunca devia ter ficado com isso!
- Não foi por mal, Antoninho, mas a senhora queria tanto que aceitasse. Ela nem o conhece, mas o filho fala-lhe tão bem do senhor, que ela achou por bem recompensá-lo.
- Ora diga-me lá então Dona Alice, quem foi que deixou isto para eu lho levar e a dar-lhe um bom raspanete.
- Olhe foi a senhora …, esposa do Sr. João Gomes (nome fictício).
Isto deu-me que pensar. O filho do Sr. João era efectivamente meu aluno, só que era o melhor aluno da turma, rapaz estudioso, bem comportado e inteligente. Que gesto bonito! Um aluno que não precisava absolutamente nada, estar a lembrar do seu professor!
- Dona Alice, deixe ficar, o filho dessa senhora é o melhor aluno da turma, bem comportado, não precisava de nada disso. Mas se ele se lembrou de mim e quer assim tanto que aceite, olhe Dona Alice, este presunto vais ser comido por mim e pelos meus colegas.
E assim foi, combinei com os colegas professores do Liceu e do Ciclo e por todos comemos o presunto.
Estávamos nestes preparos quando o meu irmão veio a saber quem nos tinha dado o presunto. E então é que foram elas! Mas já nada havia a fazer! Do presunto já só se aproveitavam os ossos!
A razão do rebuliço é que a tal senhora tinha outro filho que era aluno do meu irmão, sendo ele o director dessa turma! Esse outro aluno era fracote nos estudos e parece que tinha o ano comprometido. Está-se mesmo a ver que o presunto não era para mim e nem era por causa do meu aluno! O objectivo era outro!
Não me recorda se o objectivo do presunto foi alcançado, o que sei é que o presunto foi comido por bem, em atenção a um aluno que não precisava nada daquilo.
A prova provada que aquele aluno não precisava de favores é que hoje é um distinto professor, com uma bela carreira académica.

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