Pantomina publicada no site de Brunhoso em 07-01-2006, acerca da particularidade do falar da zona de Mogadouro. Tentou-se escrever do modo como falamos.
- Deus nos dê boas tardes, cumpadre !
- Boas tardes nos dê Deus, cumpadre!
- Atão já comiste?
- Atão num haberade. A minha cozeu-me um chabilano cum batatas e cum couves. Atão e tu?
- Olha c’mi umas casulas co bulho e uma selada de merujas p’ra desinfastiar..
- Onte ias a caminho da Lagariça, stava eu a atorar uma lanha ali no Crasto, qué que ias a fazer? Num digas que fuste a botar a a água à regada?
- Nãomassim fui, num tinha nada que fazer e s’habia de andar por aí de bagueiro, lá fui a botar a auga. E amanhã bou a carregar o estrume da corriça da Coba dos Lobos p’ra lo botar olibeiras do Figueiredo.
- Olha tamém eu, amanhã tenho qu’ir à Perdigosa a estrumar as estacas.
- Bamos ó café Chico Barranco a jogar o chincalhão ou uma suecada?
- Nem é tarde nem é cedo. Sempre lá encontramos o Toino do Couço e ó Abilho da Hortelã. A até habia de falar co’eles a ber me querem ir a limpar as olibeiras do Cachão. Temos que le dar as desforra, da outra bez saiu-lhes a porca mal capada, a pinsarem que nos dabam tareia e lá tiberam que encostar a barriga ao balcão. Mas cautela co’eles, ara só macetes e falseiras.
- Olha, bem ali a c’madre !
- Foi a casa do Sr. Júlio, ficou de t’lefonar a tua afilhada.
- Atão comadre, como é que bai?
- Bou bem co’a graça de Deus, T’lefonou a nha Céu, fai anos o meu netinho. Diz a nha Céu que stá munto relamposo e manda besitas p’ra todos.
- Manda-le tamém saudades do padrinho, aquilo é o bosso ai Jasus!
- Atão undé qu’ides a estas horas, compadre maiso meu marido?
- Bamos ali ó café do Chico.
- Num bos demorendes, qu’a noite bem fria. Até amanhã cumpadre, se Deus quiser!
- Bá , bai lá, num demoramos.
- Até amanhã, c’madre.
- Bem, lá bamos. Bõ gabinardo tens. Num há frio que t’entre. Und’é co cumpraste?
- No sóto da Senhora Marquinhas. A minha já me tinha dito que a jaqueta estaba belha e que até parecia mal na missa. Íamos-la a cumprar umas alparagatas ao garoto e a minha biu lá aquilo e trouxe-o. Estaba para esperar p’la feira, para ir à bila a comprar uma samarra ou uma jaqueta, que o frio ainda aí bem, biste o sinceno que habia hoje de manhã?
- Oh, o ribeiro dos Olmos até staba tralhado c’o carambelo. Ó passar esbarou-me um pé qu’até ia caindo.
- Olha, atão qué que le aconteceu ao Chico do Barriguinho, que bem de jagata e a mancar.
- Pois tu num sabes, o pantomineiro do Joaquim dos Lameirões fez-le uma tranquila e olha, estornilhou um pé. Foi preciso lebá-lo ao endireita do Bariz.
- São uns tramplineiros. E tudo por causa duma carunha de azeitona que o Chico, na brincadeira, le atirou. Mas o outro também tinha feito caçoada dele por causa duns bulhacos!
- Um bô lafrau é o qu’ele é.
(No Café do Chico)
- Ora cá bem o saco e ó baraço!
- Ora Chico, já incertaste o pipo? Trai aí dois copos, e ali pró Toino e pr’ó Martinho.
- Deus nos dê boas tardes, cumpadre !
- Boas tardes nos dê Deus, cumpadre!
- Atão já comiste?
- Atão num haberade. A minha cozeu-me um chabilano cum batatas e cum couves. Atão e tu?
- Olha c’mi umas casulas co bulho e uma selada de merujas p’ra desinfastiar..
- Onte ias a caminho da Lagariça, stava eu a atorar uma lanha ali no Crasto, qué que ias a fazer? Num digas que fuste a botar a a água à regada?
- Nãomassim fui, num tinha nada que fazer e s’habia de andar por aí de bagueiro, lá fui a botar a auga. E amanhã bou a carregar o estrume da corriça da Coba dos Lobos p’ra lo botar olibeiras do Figueiredo.
- Olha tamém eu, amanhã tenho qu’ir à Perdigosa a estrumar as estacas.
- Bamos ó café Chico Barranco a jogar o chincalhão ou uma suecada?
- Nem é tarde nem é cedo. Sempre lá encontramos o Toino do Couço e ó Abilho da Hortelã. A até habia de falar co’eles a ber me querem ir a limpar as olibeiras do Cachão. Temos que le dar as desforra, da outra bez saiu-lhes a porca mal capada, a pinsarem que nos dabam tareia e lá tiberam que encostar a barriga ao balcão. Mas cautela co’eles, ara só macetes e falseiras.
- Olha, bem ali a c’madre !
- Foi a casa do Sr. Júlio, ficou de t’lefonar a tua afilhada.
- Atão comadre, como é que bai?
- Bou bem co’a graça de Deus, T’lefonou a nha Céu, fai anos o meu netinho. Diz a nha Céu que stá munto relamposo e manda besitas p’ra todos.
- Manda-le tamém saudades do padrinho, aquilo é o bosso ai Jasus!
- Atão undé qu’ides a estas horas, compadre maiso meu marido?
- Bamos ali ó café do Chico.
- Num bos demorendes, qu’a noite bem fria. Até amanhã cumpadre, se Deus quiser!
- Bá , bai lá, num demoramos.
- Até amanhã, c’madre.
- Bem, lá bamos. Bõ gabinardo tens. Num há frio que t’entre. Und’é co cumpraste?
- No sóto da Senhora Marquinhas. A minha já me tinha dito que a jaqueta estaba belha e que até parecia mal na missa. Íamos-la a cumprar umas alparagatas ao garoto e a minha biu lá aquilo e trouxe-o. Estaba para esperar p’la feira, para ir à bila a comprar uma samarra ou uma jaqueta, que o frio ainda aí bem, biste o sinceno que habia hoje de manhã?
- Oh, o ribeiro dos Olmos até staba tralhado c’o carambelo. Ó passar esbarou-me um pé qu’até ia caindo.
- Olha, atão qué que le aconteceu ao Chico do Barriguinho, que bem de jagata e a mancar.
- Pois tu num sabes, o pantomineiro do Joaquim dos Lameirões fez-le uma tranquila e olha, estornilhou um pé. Foi preciso lebá-lo ao endireita do Bariz.
- São uns tramplineiros. E tudo por causa duma carunha de azeitona que o Chico, na brincadeira, le atirou. Mas o outro também tinha feito caçoada dele por causa duns bulhacos!
- Um bô lafrau é o qu’ele é.
(No Café do Chico)
- Ora cá bem o saco e ó baraço!
- Ora Chico, já incertaste o pipo? Trai aí dois copos, e ali pró Toino e pr’ó Martinho.
(Continuará?)
07-01-2006
Linda escrita...faz me lembrar minha infantilidade em BRUNHOSO, anos 1940 / 1947.
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