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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

Lembras-te Francisco?

 No Paraíso… em Brunhoso

(Ao meu bom amigo Francisco Ribeiro, como um irmão. Subimos juntos ou pelo menos à vista as ladeiras da vida.)

Lembras-te Francisco!

- Lembras-te Francisco, quando éramos tão piquenos e íamos com as vitelas por esse termo fora à procura do fnanco para elas comerem!

- Lembras-te de irmos para a Malhada, para Francos, para a Lagariça! Sempre atrás delas e aguardá-las para não irem a fazer mal aos lameiros, onde se estava a criar a erva para o feno! Lembras-te de só as deixarmos comer a erva das bordas dos trigos da Malhada.

- Lembras-te Francisco quando entrámos à escola, com a saquitinha com a lousa, o giz e os livrinhos. Logo no primeiro dia fiquei de castigo porque no Livro da 1ª Classe tinha as figuras do cão, do gato …, e quando abri o livro comecei logo a imitar as vozes desses animais. Ão, ão … miau… quá-quá! Isto tudo alto e bom som, o que provocou a risada geral da escola da professora Fernanda, da sala dos rapazes. E quando perguntou, que animal é este?, e em coro todos respondemos – É um parreco! E ficámos todos de castigo, porque era um pato, é assim que se devia dizer! E da novidade da retrete, lembras-te Francisco!

- Lembras-te Francisco, quando faleceu o Sr. Padre Zé, que fomos em cruzada até Soutelo ao seu enterro! Lembras-te quando lhe ajudávamos à missa e nos responsos nos dava sempre uns tostõezinhos para arrebuçados! E na catequese com a Teresa Piquena! Lembras-te Francisco?

- Lembras-te da segunda classe com a Dona Carminda, que a meio do, ano nos deixou para ir para a África. Lembras-te Francisco da Dona Adriana, tão brava, que a veio substituir e uma vez nos marcou os deveres da tabuada – Uma vez a tabuada do um, duas vezes a tabuada do 2, três vezes a tabuada do três e sucessivamente…

- Lembras-te Francisco, da régua e da vara da Dona Amélia… E daquela surra que deu ao Joaquim Coleila, por não saber, já não sei o quê! E do Joaquim Pitreca, que também levou tantas vezes, sem falar do falecido António Miguel, do António Pitotas, do Francisco Marcos, do António Garruncha, só para falar dos da nossa idade! Lembras-te do Francequinho Cordeiro, do Emídio, como éramos tão pequeninos e já levávamos pela medida grossa.

- Lembras-te Francisco quando íamos à Serra a esperar a professora! E quando plantámos as árvores no recreio, que algumas ainda hoje lá estão!

- Lembras-te Francisco, quando antes das nove horas, no tempo das castanhas irmos à Serra a dar a volta e apanhar as castanhas que havia no chão. E que quando aparecia a Guarda, todos fugíamos para o povo, apesar de andarmos nos nossos castanheiros e por conseguinte não andarmos a roubar.

- E quando fizemos a quarta classe, que fomos à vila, a cavalo nas bestas. E no intervalo de duas provas, a minha mãe levou-me aos Casimiros e comprou-me um fato para ir bem apresentado.

- E depois fomos a estudar para padre, eu e o Emídio para a Régua e tu para Mogofores. E a pena que teve a D. Amélia por o António Pitotas também não ir a estudar, porque, dizia ela, o rapaz ia longe.

- E lembras-te Francisco nas férias, como ajudávamos os nossos pais nas lides agrícolas – Nas férias do Natal era a azeitona. E quando esta acabava, ainda íamos a botar o estrume às oliveiras, botar a água à regada… Havia o mata-porco, a missa do galo, cantar as janeiras e ala p’ros estudos. Lembras-te Francisco das carruagens do gado a que a CP recorria para fazer o trajecto até ao Pocinho, porque as outras não chegavam!

- No Carnaval vestíamo-nos de Caretos, eu tu e o Emídio, e íamos às casas dos familiares a meter medo! Lembras-te em casa da tia Melânia, sermos quase corridos, por não nos ter conhecido, e que quando tirámos a máscara nos tratou como príncipes!

- Lembras-te Francisco, do Entrudo, com os homens todos pelo povo atrás do boneco de palha, a tisnar tudo com cinza, e dos barulhos que sempre havia por se emborracharem.

- Nas férias da Páscoa, havia que desmamonar a vinha, cavar marradas da lavra das oliveiras, tirar-lhe os bravos do toro…

E assim nos criámos e nos tornámos homens!

(Publicado no Fórum de Brunhoso em 12 de Maio de 2006)

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