terça-feira, 29 de dezembro de 2020

Continuamos na Rua dos Oleiros

Por: António Orlando dos Santos (Bombadas)
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...") 


Passava-se o estabelecimento dos irmãos Gomes que tinha duas portas de duas folhas e passadas estas que me pareça era a Pensão Internacional.
Sempre vi esta Pensão como uma peça chave da infraestrutura de hotelaria, pois no meu tempo de miúdo estava sempre cheia e o seu proprietário era um Senhor a quem chamavam, Guarda Rios e do qual me recordo como um adepto dos mais amantes do Velho G.D.B., que seguia a equipa por todo o Norte de Portugal, ou outras terras onde o Desportivo fosse jogar.
Era um personagem já de uma certa idade mas que participava na vida cívica da Cidade com entusiasmo e frequência.
A casa de habitação do Senhor João Cazão havia sido construída pouco tempo antes e sendo ainda nova, era um regalo ver a D. Julieta à varanda ou à janela sempre elegante e sorridente como era seu apanágio. Grande dama esta senhora que derramava simpatia onde se apresentasse. Tinha uma filha e um rapaz mais ou menos da minha idade de quem continuo grande amigo a quem chamávamos Micky. Vive em Lisboa ou arredores e tem uma particularidade que eu aprecio. Sempre que vem a Bragança faz questão de jantar com o Armando Fernandes ex funcionário do Notário que na sua juventude foi empregado do seu pai e a quem vota uma grande amizade e noutro dia também com a Ritinha, antiga empregada lá de casa que ele nunca esqueceu.
Belos sentimentos que demonstra este Bragançano, tão à maneira transmontana, que diz que vinho e amigo "o mais antigo”.
E passada a residência do Snr João Cazão encontrava-se no meu tempo de menino uma casa que tinha sempre Santos velhos na montra. Era a morada e loja de dois irmãos chamados Cepeda que negociavam em antiguidades. Havia também a mãe, Senhora já idosa mas que me parecia ser quem decidia o que eles deviam ou não fazer. Era uma loja pouco apresentável mal cuidada até mas que exercia fascínio sobre mim. Eu perguntava a mim próprio de onde viriam tantos Santos velhos que ali se expunham e que se vendiam com facilidade.
Foi nessa loja ou devido à sua existência que eu comecei a dar atenção ao recheio de capelas e igrejas e a deliciar-me com a beleza de certas imagens e outros ornamentos da arte sacra. O fim que levaram os ditos irmãos desconheço-o mas tenho bem presente o rosto de ambos e uma ideia insegura de que eram oriundos de Izeda, herdeiros de dinheiro Velho e obedientes à mãe que era como uma versão dos anos 50's da Vechia Signora.
Após esta casa onde o Snr Tavares teve o Escritório, abriu no meu tempo de rapaz uma Drogaria denominada Luso, cujo proprietário era o Senhor Eduardo Luso que esteve ali para servir os seus clientes até há relativamente pouco tempo. O Senhor Eduardo Luso faleceu e não imagino qual é a situação actual da sua Drogaria.
E está muito sumariamente visitado o lado ascendente da Rua dos Oleiros, faltando mencionar o Restaurante Cura, que foi por mim propositadamente deixado sem menção, pois tenciono escrever um texto acerca deste marco da cozinha bragançana e dos seus proprietários Senhor Cura e Amelinha.



Bragança 22/12/2020
A. O. dos Santos
(Bombadas)

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