Decidiu o Governo, em traços largos, manter (e reforçar) o ensino à distância e retomar apenas as aulas presenciais no 3.º período para os 11.º e 12.º anos quando houver garantias de segurança, assim como adiar os exames nacionais.
Muito já foi dito e escrito sobre as medidas do 1.º ao 12.º ano. Tempos de excepção exigem medidas extraordinárias. Quando vejo jornalistas perguntar ao Ministro da Educação se o ensino presencial não era preferível ou se não é pouco tempo para organizar ensino à distância, sinto uma revolta brutal. Claro que a resposta é sim! Mas é o mesmo que perguntar se não era preferível o país não passar pela crise originada pelo Coronavirus e manter a sua actividade normal. Ou se não seria melhor nunca ter havido sequer que equacionar o Estado de Emergência. Todos sabemos que a comunidade educativa está a fazer um esforço brutal para isto ser possível: desde a preparação realizada pelos Professores em contra-relógio e com o material pessoal que cada um dispõe, para os Pais que tentam criar um espaço e condições para o acompanhamento do ensino possível, passando pelo restante pessoal escolar. Mas sinceramente aplaudamos também este esforço hercúleo que estou certa que vingará, como dignos de aplauso são tantos e tantos esforços que estão a ser feitos neste momento, desde os profissionais de saúde, às forças policiais e militares, passando por tantos outros que estão com fortíssimos cortes de rendimento no agregado familiar fruto das contingências, mas que continuam a fazer o que nos é pedido: ficar em casa pela protecção de todos.
Gostaria de, em particular, frisar a decisão do Governo relativamente às creches e pré-escolar, por ser um nível de ensino que tem sido menos falado e que me é, por ter neles as minhas duas Filhas, particularmente caro. São duas etapas escolares repletas de especificidades, mas sem dúvida fundamentais, não só para a aquisição de alguns conhecimentos básicos para a faixa etária, mas sobretudo pela aprendizagem de competências sociais, comportamentais, emotivas e educacionais que moldam aquilo que cada um de nós é ao longo da vida, não de uma forma limitativa, mas construtiva. São também idades em que a telescola é impossível de existir, ainda que, com recurso a um ou outro programa, se possa fomentar alguma actividade adequada à faixa etária. Os Educadores e Auxiliares, cuja manutenção de contacto se mostra essencial para as crianças não sentirem um corte abrupto no que é o seu quotidiano e conseguirem perceber o que se passa e viver o dia-a-dia com a normalidade possível, ajudam os Pais nesta época com propostas de actividades e vídeos, mas pouco mais podem fazer. E é exactamente pelas características particulares das crianças até aos 6 anos, que todos quantos lidamos com elas facilmente reconhecemos, que me parece essencial que o Governo mantenha a decisão de não abrir creches e pré-escolar durante este 3.º período.
É impossível que crianças dos 0 aos 5 anos mantenham práticas essenciais, mesmo depois do afrouxamento das medidas, como preservar certo distanciamento dos amigos ou utilizar máscara diariamente. É impossível dizer a uma criança de um ou dois anos que não leve à boca um brinquedo que acabou de ser babado pelo colega, não por incompetência de quem os acompanha em sala, mas porque é inevitável; ou dizer a uma criança de três ou quatro anos que não partilhe uma bolacha com o amigo ou não abrace os colegas. Aliás, penso que nem isso seria aconselhável. Claro que é nestas idades que se criam regras e estabelecem comportamentos, mas não façamos das crianças mini-adultos que não são, pois a realidade contraria quem assim pensa e os resultados podem ser nefastos.
Claro que tenho noção da brutalidade de sacrifício que isto implica para os Pais (nos quais me incluo), para o Estado (pela manutenção dos apoios entretanto criados), para as escolas (em particular para as privadas e IPSS, que têm de participar do sacrifício e perceber que menos custos tem que se traduzir nos custos que (não) continuarão a imputar aos Pais) e por aí fora. Não é fácil perder rendimentos, quando o normal já chega bem contadinho para todas as obrigações familiares existentes. Falo por mim. Depois de tudo isto passar mergulharemos certamente num dificilíssimo período económico, mas façamo-lo, pelo menos, com a certeza que salvámos o máximo de vidas possível e com o mínimo contágio, obviamente retomando a normalidade de forma faseada, assim que seja possível. Mas não ponhamos todos os sacrifícios que temos feito em causa por estes motivos. Quanto vale uma vida? Quanto vale termos, de acordo com a DGS, 470 óbitos em Portugal e não os 19.468 de Itália ou 16.353 de Espanha (ainda que atendendo ao diferente número de população e estado da pandemia)? Sim, os nossos números ainda vão aumentar, mas é inegável que a “precipitação” com que muitos rotularam as medidas tomadas está a dar frutos e a salvar vidas. E que é necessário mantermos as decisões tomadas por mais algum tempo e, quando pudermos começar a afrouxar medidas de contingência, que o façamos de forma pensada e gradual, para não desperdiçarmos todos os sacrifícios que todos estamos a fazer por um bem maior.
Vai tudo correr bem? Quanto ao Covid sim – se mantivermos os esforços – quanto à economia não. É certo. Mas façamos o melhor com o que temos disponível, e não percamos a guerra quando temos vindo a ganhar a esmagadora maioria das batalhas. Por todos nós.
Ana Soares
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