A EAEC de Vila Chã da Ribeira foi estabelecida ao abrigo do Projeto Estações de Esforço Constante (PEEC), desenvolvido pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), pela Associação Portuguesa de Anilhadores de Aves (APAA) e pelo Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO). Esta EAEC é coordenada pela Palombar e o anilhador responsável é o técnico de ecoturismo da organização Luís Ribeiro.
As EAEC realizam, todos os anos, no período de 25 de março a 22 de julho, um máximo de 12 sessões de captura e anilhagem de aves com recurso a redes verticais durante a época de nidificação. A realização dessas sessões permite obter dados de elevada importância para fazer estimativas fiáveis da densidade de adultos e juvenis de espécies de avifauna presentes numa determinada região em cada época de nidificação, de forma a avaliar as suas tendências populacionais.
“Este é um projeto que vai ao encontro da missão da Palombar para o território onde atua, e é certamente um bom contributo para a ornitologia nacional. Estando esta estação localizada em duas áreas protegidas da Rede Natura 2000, nomeadamente a ZPE e SIC Rios Sabor e Maçãs, permite-nos aprofundar a importância deste corredor ecológico para os passeriformes, e, com isso, continuar a contribuir para o estudo, e consequente proteção e valorização dos valores naturais aqui presentes. Esperamos, em breve, poder abranger outros projetos relacionados, e alargar a nossa atuação a outras espécies e habitats, especialmente numa região do país que carece deste tipo de trabalhos mais direcionados", destaca Luís Ribeiro.
O objetivo principal do PEEC é estimar a abundância de adultos e juvenis de várias espécies nidificantes no território nacional e contribuir para a monitorização da biodiversidade em Portugal, com informação relevante sobre as suas dinâmicas populacionais. Visa ainda fornecer dados para o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal e para o Atlas das Aves Nidificantes em Portugal, informação imprescindível para o conhecimento sobre o estado atual de abundância e distribuição das aves silvestres no país.
Chapim-real (Parus major). Fotografia Luís Ribeiro. |
“A criação desta EAEC é importante, pois permite conhecer melhor a dinâmica populacional dos passeriformes que ocorrem na região e saber, de forma mais aprofundada, que espécies utilizam a zona. Esse conhecimento também poderá ajudar-nos a direcionar e adaptar as medidas de gestão dos habitats, no sentido de favorecer, de forma mais eficaz e direcionada, as espécies identificadas e, eventualmente, numa fase mais avançada, poder perceber a influência das medidas já implementadas nas tendências populacionais de determinadas aves, algo que só será possível a médio/longo prazo”, explica o biólogo da Palombar Américo Guedes.
Na EAEC de Vila Chã da Ribeira foram realizadas, até ao momento, cinco sessões de captura e anilhagem, nos dias 8 e 19 de abril e 2, 13 e 23 de maio, tendo sido anilhados 125 indivíduos de 22 espécies diferentes.
Entre as espécies já anilhadas, destacam-se a toutinegra-real-ocidental (Sylvia hortensis hortensis), uma ave migradora que está “Quase ameaçada” de extinção, segundo o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal, apresentando uma população reduzida e uma distribuição muito fragmentada no território nacional, e a rola-brava (Streptopelia turtur), espécie igualmente migradora que, apesar de já ter sido muito abundante e de ter um estatuto de ameaça “Pouco preocupante” em Portugal, tem registado um declínio nas suas populações há várias décadas e, atualmente, os seus efetivos são reduzidos, sobretudo no sul do país. Tem um estatuto de ameaça “Vulnerável”, segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês).
Toutinegra-real-ocidental: a maior das toutinegras que ocorrem em Portugal
A toutinegra-real-ocidental passa o período estival na Europa e a invernada a sul do deserto do Saara, no continente africano. O maior efetivo reprodutor desta espécie na Europa está presente na Península Ibérica.
Toutinegra-real (Sylvia hortensis). Fotografia Luís Ribeiro. |
É a maior e menos comum toutinegra que ocorre em Portugal e a sua densidade populacional no território nacional é muito reduzida. Mais fácil de identificar pelo tamanho e pelo canto, o macho apresenta o distintivo barrete preto, que começa ao nível do bico, passa por baixo do olho e envolve toda a cabeça, o qual contrasta com a garganta branca. As fêmeas e os juvenis são acastanhados.
O seu habitat preferencial é composto por zonas florestais de caducifólias, tais como montados de sobro e azinho, matos e matagais em encostas montanhosas e rochosas, ocorrendo também em áreas com lameiros e galerias ripícolas e ainda em pomares e olivais. Geralmente o coberto arbustivo nas áreas de ocorrência é reduzido ou inexistente. Alimenta-se essencialmente de insetos.
Esta espécie nidifica sobretudo em arbustos ou árvores e pode colocar entre três a cinco ovos por ninhada.
Os fatores de ameaça para a toutinegra-real-ocidental ainda não são bem conhecidos.
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Rola-brava: a espécie mais pequena da família dos pombos
A rola-brava é também uma espécie migradora que, vinda de África, depois de percorrer distâncias que podem ser superiores a 10 000 km, chega a Portugal em abril, onde fica até agosto/setembro, voltando novamente para o continente africano na época de invernada.
Rola-brava (Streptopelia turtur). Fotografia Luís Ribeiro. |
Também conhecida por rola-comum, é a espécie mais pequena da família dos pombos (Columbidae) na Europa e a única migradora de longa distância. Distingue-se da rola-turca (Streptopelia decaocto) por apresentar uma plumagem mais vistosa, com zonas castanhas mais marcadas na asa, o que lhe dá um aspeto malhado, o abdómen branco e, de cada lado do pescoço, riscas brancas e pretas. As zonas à volta dos olhos e as patas são avermelhadas. Em voo, é possível observar um padrão mais marcado na cauda com uma transição entre tons de branco e preto bastante definida.
O seu habitat preferido são zonas florestais, pequenos bosques e zonas abertas, com ligação a culturas cerealíferas e pastagens. Alimenta-se principalmente de grãos e sementes, tendo, por isso, uma dieta essencialmente granívora.
É uma espécie monogâmica e o seu ninho é feito sobretudo na copa das árvores ou arbusto altos, e ainda no meio da vegetação. Põe entre um a três ovos por ninhada, com uma média de dois ovos.
A rola-brava é uma espécie cinegética e, apesar das medidas de proteção já adotadas na área da caça, como a redução dos quantitativos diários de abate, as suas populações continuam a registar um decréscimo significativo ao longo dos últimos anos. Devido a esse contexto, e com o objetivo de reforçar ainda mais a proteção da espécie, o Memorando de Entendimento para a Preservação e Recuperação da Rola-brava, subscrito pelas três principais organizações do setor da caça, por seis organizações não governamentais do ambiente (ONGA), pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) e pelo Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV), considerou a necessidade de se restringir a quatro dias a caça à rola-brava na época venatória de 2020-2021.
Os principais fatores de ameaça para esta espécie são a perda de habitat devido às alterações no uso do solo, a pressão cinegética e a captura e o abate ilegal, principalmente nas zonas de invernada ou quando está em migração para os territórios de reprodução na Europa.
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A Palombar pretende também realizar futuramente na EAEC de Vila Chã da Ribeira ações de formação na área da anilhagem científica, um método de investigação baseado na marcação individual das aves que constitui uma ferramenta indispensável para o estudo científico da avifauna e das suas migrações. A organização tenciona igualmente desenvolver atividades de sensibilização e educação ambiental abertas ao público nesta EAEC e contribuir, desta forma, para aumentar o conhecimento, por parte da comunidade, sobre a biodiversidade do Nordeste Transmontano, tendo como foco a promoção de uma atitude cidadã pró-ativa em prol do desenvolvimento sustentável do território.
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