Após um longo período de incerteza quanto ao futuro do Grupo Desportivo de Bragança, eis que, em meados do mês de Julho, após realização duma Assembleia – Geral Extraordinária, foi encontrada uma solução (transitória) para assegurar os destinos da entidade desportiva mais representativa do distrito, com a tomada de posse da Comissão Administrativa liderada pelo brigantino e ex treinador do clube, Frederico Ricardo, que, diz-se, recebeu a pesada herança de um clube falido e descredibilizado, pela gestão irresponsável dos seus dois últimos antecessores.
Quase todos os finais de época – que coincidem com finais de mandato (forçados ou não) – são marcados pela incerteza de quem assumirá, em termos directivos, a responsabilidade de dirigir o Grupo Desportivo de Bragança. E é precisamente nestas situações de “bater no fundo”, de ruptura, que surgem os “oportunistas”, aceites com base no estapafúrdio argumento do “alguém tinha de pegar no clube”. Nem sequer me refiro aos tais “paraquedistas”, porque há pessoas que, não sendo de Bragança, são tão brigantinos de coração como os que cá nasceram. Ou seja, nada tem a ver com bairrismos, mas com o carácter e a formação ética de cada um.
Recentemente estive com um amigo de longa data - daqueles que, desde miúdos, apoiam incondicional e ferverosamente, como sócios pagantes, o clube da cidade -, que me confessou não ir ver o GDB há mais de dez anos, porque, segundo ele, não se identificava com estes tipos que tomaram de assalto, arruinaram e descredibilizaram o clube.
No desporto como em qualquer outra actividade, são sempre os inevitáveis termos de comparação que fazem com que estabeleçamos diferenças entre os bons e os maus exemplos, entre aqueles a quem compraríamos um carro usado e os eticamente pouco recomendáveis. É tudo uma questão de confiança. E quando se diz que os bragançanos não vão ao futebol ( ao contrário dos eternos rivais mirandelenses, sempre com o estádio bem composto), não é porque o bichinho da “redondinha” tenha esmorecido, mas simplesmente porque a maioria das pessoas não se revê nesta gente que nos últimos 10/15 anos, ao que consta, dirigiu o clube como se de coutada sua se tratasse, quais plebeus com tiques de aristocratas.
Quando dizemos que fulano a ou b foi um bom dirigente desportivo, daqueles que, na sua passagem, deixam a indelével marca pela positiva, referimo-nos a alguém que pôs o clube acima dos interesses pessoais, que o serviu abnegadamente e com espírito de missão. Sempre que, em conversa sobre o tema Desportivo, se fala em Presidentes exemplares, vem-me involuntariamente à memória Senhores como Zé Tiago, Telmo Lopes (da sapataria Boémia), Romeu Gomes, Raul Fernandes, Armindo Pais e Domingos Lico.
É aqui que está a diferença: estes Senhores, nessa honrosa qualidade, sentiam visceralmente o GDB. Serviram-no; não se serviram dele. Todos eles “enterraram” dinheiro no clube, numa espécie de “empréstimo a fundo perdido”, sem nunca o terem reclamado. Na gestão do emblema canarinho, não se sujeitavam apenas ao “subsídio garantido” da autarquia. Faziam pela vida, trabalhavam, arregaçavam as mangas, porque era preciso pagar os salários aos jogadores no fim do mês, bem como as Letras ao banco, que venciam no dia seguinte. Calcorreavam a cidade, indo de porta em porta pedir dinheiro para honrar os compromissos. Pelo muito respeito e consideração que granjeavam em Bragança, ninguém tinha a coragem de não lhes abrir a porta. Pouco ou muito, todos contribuíam para a Causa GDB.
É esta e não outra a razão (a ausência destes Homens) pela qual o meu amigo, os filhos dele e tantos outros bragançanos se afastaram do clube da terra, que tanto amam.
Porque a honestidade e a credibilidade são valores intemporais, não exclusivos, pois, desta ou daquela geração, ainda é possível recuperar o prestígio daquele que, desde 1943, tem sido um dos maiores símbolos da cidade, o Grupo Desportivo de Bragança.
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