Fernanda Pires tem 84 anos e a vida presenteou-a 10 filhos, 15 de netos e uma bisneta. Casou aos 23 e pouco depois ficou logo grávida. Tempos em que os métodos contraceptivos não existiam e a probabilidade de engravidar era muito grande. “Havia um mês que estava casada e fiquei de bebé. Queria ser mãe mas não era de tantos. Nunca tomei nada para não ser filhos. Vinham. A vida de antes era muito dura, muito escrava”.
Criar os filhos há cerca de 60 anos não era tarefa fácil. Não existiam fraldas descartáveis, nem infantários onde deixar as crianças e, por isso, a solução era levá-las para o campo. “Não havia fraldas. Era só panos que fazíamos de bocados de roupa que sobravam, que já não usávamos. Depois já havia fraldas mas eram de pano, nada a ver com o que é agora. Trabalhei sempre muito, nunca fiquei parada em casa. Leva os filhos comigo. A mais velha levava sempre. Íamos por lá a segar o pão. O meu marido fazia dois ou três molhos para a deitar e de vez em quando ia espreita-la para ver se estava tudo bem”.
A alimentação ficava aquém da ideal, mas Fernanda Pires diz que nunca faltou comida na mesa. “Tinha uma vaca que dava leite. Tirava leite à vaca. Tirava leite à fartura, eles gostava. De manhã tomavam sempre uma malga de leite. Nunca tiveram fome. Fazia até queijo do leite. Gostavam também muito daquele queijo”.
As crianças iam sozinhas para a escola e brincavam na rua. São algumas das diferenças que Fernanda Pires nota em relação à maneira como são agora educados os seus netos. “Leva-o à escola ela e o pai. A escola não é longe mas não se pode deixar ir o menino sozinho. Antigamente não era assim. Não havia esse medo”.
Já Elisabete Trigo tem 44 anos e uma filha de 21. Cresceu numa família com 8 irmãos, ainda assim as circunstâncias da vida não lhe permitiram ter mais filhos, apesar de ter sido um desejo. “Foram circunstâncias da vida, não foi opção. Gostava de ter tido mais filhos. Sempre tive intenção de ter, pelo menos, dois”.
Ainda que só tenha uma filha, diz que foi a melhor coisa que lhe aconteceu na vida, ser mãe. “Para mim ser mãe foi o melhor que me podia ter acontecido. As mães fazem tudo pelos filhos. Já cheguei a fazer 800 quilómetros para ir apenas comer com a minha filha a Coimbra. Nunca estamos cansadas para os nossos filhos. Tiramos forças não sei de onde”.
Antigamente, as mulheres eram donas de casas ou trabalhavam no campo. Hoje em dia, a mulher tem um emprego e horários a cumprir. Elisabete Trigo acredita que a falta de tempo é um dos motivos que levam os casais a ter menos filhos nos dias de hoje. “Uma mãe trabalha, tem que trabalhar. A qualidade de vida pode ser melhor num aspecto mas é pior por outro. Tem que se trabalhar, o pai e a mãe tem que trabalhar. Os salários não permitem que uma mãe fique em casa a tomar conta dos filhos. Ao não ter tempo, muita gente opta por não ter filhos”.
Mães em tempos diferentes, com vidas diferentes, mas com o mesmo amor para dar.
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