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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite, Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 3 de setembro de 2020

O Augusto “Berbo”

 

Na sequência do desafio feito pelo senhor Hermínio Gama, numa publicação online, replicado no blog “Memórias e Outras Coisas”, pelo ilustre bragançano Toninho Bombadas, cujo desafio consiste em escrever uma história e/ou passagem sobre uma figura (singular) de Bragança que faça parte da nossa memória colectiva, não podia deixar de invocar, em jeito de homenagem, o nome daquele que para mim é a personagem mais carismática entre os seus “pares”, o Augusto “berbo”.

Comecei a frequentar a taverna do “Berbo” (situada no n.º 136 da Rua Abílio Beça, a 50 metros do café Chave d`Douro) na longínqua década de 80 do século passado. Ia lá com o João Pinheiro, o Tó Ferreira, o meu irmão Mário, o Guedes, o Armando Reis , o Jorge Tiago, o Zé Lopes, o Fernandinho, o Chico Patrício, o Zé Silva, o Vitorino, o Zé Gomes, o Luís Parente e outros que tais – rapazolas que fazíamos parte duma geração para quem a palavra Amizade era muito mais do que a concatenação das sete vogais de que é composta.

Era um espaço pequeno, acolhedor, intimista, como agora se diz. Ao transpormos a soleira da porta, deparávamo-nos com dois degraus que nos conduziam até ao pequeno balcão de madeira. O frigorífico vermelho (desligado nos meses de inverno) saltava à vista pela sua imponência. Ao fundo havia uma divisória (reservado) de exíguas dimensões, um espaço maneirinho, propício às tertúlias, onde os nictófilos gostavam de permanecer até altas horas da madrugada. A cerveja tinha ali uma expressão residual. O vinho (“baptizado”) era, de longe, a bebida de maior saída. As “sandes de relâmpago” - de bolacha de água e sal e chouriço finamente cortado (assim designadas, porque se via o sol através das fatias) - eram a imagem de marca daquela tasca.

O “Berbo” era um ser humano encantador, simpático, afável, honesto, um homem bom, que, na forma de tratamento, dispensava a formalidade do “senhor”. Substituía-a pelo “tu”, independentemente da idade e posição social do cliente. Era um exímio contador de estórias, narradas na 1.ª pessoa, quase todas efabuladas, qual delas a mais surreal e inverosímil, julgando, no entanto (tal era o entusiasmo com que as contava), que os seus interlocutores as tomavam por verdadeiras.

O “Berbo” não gostava nada que pusessem em causa a veracidade das suas estórias. Um certo dia, na minha presença, contou que era amicíssimo de José Sarney, o 31º Presidente do Brasil, entre 1980 e 2000. Uma “amizade” cuja “evidência” é retratada no seguinte episódio: o Artur, filho mais velho do Augusto (de quem, como é natural, muito se orgulhava), era marinheiro. O progenitor referiu que, numa missão ao Brasil, já no destino, e no momento em que o navio acabara de aproar no porto do Rio de Janeiro, o então chefe de Estado brasileiro foi receber os marujos lusos, tendo-lhes dirigido, com recurso a um megafone (quebrando, assim, o rígido protocolo), a pergunta: “Está aí o filho do meu amigo `Berbo`, de Bragança?”

Acompanhado duma gargalhada que não pude conter, e em jeito de provocação, retorqui: “Augusto, acho que estás a exagerar!”

Ele, desagradado com a minha observação, brindou-me com esta pérola: “Andas-te a pôr burro! Nem pareces um rapaz com estudos!”

Uma tirada que, a partir daí, passou a ser “obrigatória”, verbalizada maquinalmente, quando, em brincadeiras entre amigos, alguém proferia alguma alarvidade ou disparate.

É assim que recordo, com saudade, o Augusto “Berbo”. Uma pessoa a quem estou imensamente grato, por fazer parte das minhas intensas e excitantes memórias da juventude.

António Pires



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