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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira..
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

Cydonia Oblonga - “Marmeleiro”

 Já vos relatei que as minhas aptidões para as lides do campo nunca foram realmente desenvolvidas! Não por falta de oportunidade, mas sim por me faltar o jeito e a vontade! De maneira que o marmeleiro figura na curta lista de culturas eleitas por mim, para plantar na borda da horta, pois a sua manutenção é mínima!  E claro está, durante os meses de outono, brinda-nos com um dos meus frutos favoritos “o marmelo”!
Proveniente da Ásia Ocidental e trazida até nós pelos romanos, esta planta arbustiva da família das rosáceas, cultiva-se desde os tempos babilónios. A produção do seu fruto, o marmelo, continua a ter grande impacto na economia de algumas regiões do globo. Até por cá o cultivo do marmeleiro tem vindo a aumentar!
Aclamado pelos seus inúmeros benefícios medicinais e pela sua riqueza nutricional, este fruto amarelo-dourado foi também, na antiguidade, símbolo de fortuna, fertilidade e amor. O marmelo tem figurado à mesa de reis e aristocratas e as mais antigas receitas com marmelo e mel remontam ao sec. VII a.c.  A confeção mais tradicional deste fruto é, sem dúvida, por terras Ibéricas, a marmelada, que há séculos ocupa à nossa mesa lugar de destaque.
As apreciações que aqui vos irei fazer sobre a confeção deste fruto não são assim tão antigas e remontam apenas aos tempos em que era garota. A meio do mês de outubro começavam a aparecer, lá em casa, cestas e baldes aborbinados de marmelos que, sem esse propósito, iriam aromatizar a casa inteira.
A riqueza gastronómica dos meses de outono é fantástica e compõem o menu pratos como as nabiças, o pote das castanhas, as pinheiras refogadas, o guisado de cabaçote, o doce de cabaça,  o marmelo assado e, está claro, a tão afamada marmelada.
Lá em casa, a empreitada de transformar a polpa deste fruto numa pasta doce requeria a criação de uma linha de produção. O processo era simples. Sentadas no escano, eu e a irmã mais nova procedíamos, com um rodelo velho, à limpeza dos marmelos que a mãe iria botar a cozer na caldeira, pendurada no gantcho do tchupão.
Com cautela ia-se testando a cozedura dos marmelos e retiravam-se os que já estavam prontos. Depois, com a ajuda de um garfo espetado no marmelo cozido e uma nabalha, impeçava-se a esbulhar e a cortar a fruta aos cibos para o tacho de esmalte. A fase seguinte envolvia o extraordinário utensílio de cozinha, passe-vite, que depois de manuseado por uma das operárias mais novas - por norma, eu - iria transformar os pedaços de marmelo em puré!
Terminada esta parte, pesava-se o puré obtido e calculava-se a quantidade de açúcar a juntar-se-lhe. Usava-se para estas ocasiões a maior caçoula que houvesse na casa, onde a mãe botava o açúcar e acrescentava um pouco de água. Depois, era só esperar até obter uma calda e aí, então, acrescentava o puré de marmelo ao açúcar em ponto. Em lume brando, deixava-se ferver, o puré, mas sempre com a cautela de ir mexendo a caçoula para que se não esturrasse a marmelada! Entretanto, cascavam-se alguns marmelos que tinham sido assados à borda do lume, seriam cortados aos cibos para um prato e polvilhados com açúcar e um pouco de canela! Era certinho serem a nossa merenda e era, sem dúvida, a melhor parte da empreitada.    
Por fim, o fogão era desligado e, sem demora, a mãe, com a colher do caldo, lançava aquela pasta doce para as malgas, que ficariam a arrefecer na sala, junto aos frascos com o doce de pabia. Depois de arrefecidas, as malgas de marmelada iriam figurar à mesa e na cesta da merenda durante todo o inverno.
A água da caldeira, bem como os caroços do marmelo, seriam aproveitados para se fazer a geleia que serviria, mais tarde, de recheio às deliciosas filhoses de Natal.
Já em adulta, e depois de desenvolver as minhas aptidões culinárias, comecei a confecionar o marmelo em doces para tartes e purés para acompanhar carnes assadas. Além disso, a mais recente criação é o crumble de marmelo que vos confesso ser sublime. Mas estas são outras histórias que vos contarei numa próxima vez!

Ângela Bruce

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