O investigador Jorge Lage tem consagrado anos de estudo e enaltecimento do fruto/pão das gentes transmontanas que outrora tinham na castanha elemento primacial para o fabrico do pão ganho com o suor do rosto e o sangue das mãos escalavradas no espinhoso amanho dos campos.
Se a castanha era o elemento principal das parcas, apagadas e persistentes refeições no denominado reino maravilhoso, maravilhoso apenas para alguns, os povos de onde predominava o montado, azinheiras e sobreiros, tal como os castanheiros, ajudavam a manter as crianças, mulheres e homens tinham na bolota – crua, assada, cozida, frita e estufada – a matéria-prima que lhes saciava a fome de remota ancestralidade. Ora, a Antologia de Jorge Lage pode ser entendida na consumação do desejo de alargar o universo dos amantes e amigos da milenar árvore através do ponto de vista de outros autores, vivos, acerca da árvore que enquadro no universo das hierofanias vegetais que o Homem criou ao longo dos séculos e séculos de existência a lutar contra toda a sorte de medo, terrores e catástrofes que não conseguia decifrar ou entender.
O fecundo sábio Mircea Eliade legou-nos profundas reflexões sobre o Sagrado e Profano que obrigam ao cogito e a dizer-nos que existimos. Este propósito agregador de Lage desequilibra/desequilibrou a Antologia porque vários autores não concederam grande atenção ao espírito do Coordenador escrevendo conforme lhe deu na real gana, desde o furoco temático às notas biográficas prenhas de presunção e água benta, porque nestas matérias cada qual expande o que quiser – vanidades, auto-elogios e minúcias de prosápias – cujo ridículo é patente e notório.
Obviamente, o antologiador nada podia atalhar, na justa medida de respeitar as regras de boa educação a impedi-lo de sugerir ou proceder a rejeições dado ter solicitado empenhadamente a colaboração aos autores que deram corpo à obra. Como todos sabemos existem Antologias de múltiplos matizes e fórmulas, lembro as famosas Antologias da extinta Portugália, concebidas ao gosto e conhecimento dos organizadores, José Régio, Jorge de Sena, Cabral do Nascimento entre outros escolheram e trouxeram à tona da água do reconhecimento autores que sem integrarem as referidas Antologias ainda agora estariam a jazer no alçapão do esquecimento.
Obviamente, as Antologias também são fautoras de invejas e até raivosas ciumeiras de quem não as integra, uma delas, a do também itinerante cultural Herberto Helder (foi responsável pela Biblioteca Itinerante de Santarém, episodicamente de outras quando Serviço de Bibliotecas estava a ser lançado) intitulada Edoi Lella Doura produziu ruído e acrimónias perduráveis no tempo e modo ou não fosse o universo das letras um mundillo no qual até os peões de brega querem ser diestros do talante de Manolete.
Estas considerações, talvez impertinentes, escrevo-as correndo o perigo de ser apodado de invejoso ou mal agradecido visto ser um dos antologiados. Sopesei os prós e contras, decidi o acima escrito, procurei contribuir para a qualidade e formosura da Maria Castanha dentro do possível, a mais não fui obrigado em virtude da lhaneza de Jorge Lage a quem testemunho o meu apreço. A obra justifica, ampla, e atenta leitura, morigerada ao gosto de cada um, neste tempo os castanheiros largam a folhagem caduca à espera de nova floração. Reviver superando a maligna peste.
PS. Ao contrário do inserido na Antologia acerca da minha pessoa não nasci em Vinhais, sim em Bragança e vim ao Mundo no ano de 1945, ao contrário do indicado ano de 1965. Menos vinte anos agora seriam como princípio do elixir da longa vida!
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