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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 18 de dezembro de 2021

O que procurar no Outono: a boca-de-lobo

 As bocas-de-lobo chamam a atenção pelas suas pequenas e coloridas flores, numa época do ano em que as flores são raras.


Estão por todo o lado: nas fendas de rochas, paredes e muros, em locais rochosos ou pedregosos, na berma de caminhos. Em meio urbano facilmente as encontramos nas fendas de paredes e muros degradados.

Ainda que os registos fenológicos indiquem que a época principal de floração ocorre entre abril e julho, as bocas-de-lobo (Antirrhinum majus subsp. linkianum) encontram-se em flor praticamente o ano todo, incluindo durante o inverno.

Venham descobrir esta espécie endémica da Península Ibérica.

Boca-de-lobo

A boca-de-lobo pertence à família Plantaginaceae e é também vulgarmente conhecida como erva-bezerra, erva-de-zorra, focinho-de-coelho ou papões.

Foto: Carsten Niehaus / Wiki Commons

É uma planta herbácea, perene, que pode crescer entre 30 a 60 centímetros de altura. É formada por caules lenhosos, simples, ou geralmente muito ramificados, ascendentes ou erectos, e glabros, às vezes esparsamente pubescentes na parte inferior. O indumento da base é composto por pêlos translúcidos, amarelados e lisos.

As folhas são verdes e glabras, ainda que por vezes esparsamente pubescentes na página superior e de tonalidade púrpura na página inferior. Possuem forma ovada a lanceolada, são subagudas, truncadas ou em forma de cunha na base. São delgadas, flexíveis e planas e surgem dispostas ao longo do caule de forma distinta. 

As folhas inferiores são opostas e as superiores alternadas. Possuem um pecíolo curto, que tem apenas até três milímetros de comprimento.

Já a floração ocorre ao longo de todo o ano, ainda que tenha uma maior profusão nos meses de primavera e de verão. As flores surgem em inflorescências densas, pubescentes, semelhantes a cachos terminais, e cada uma destas inflorescências é composta por 10 a 30 flores dispostas alternadamente. Estas últimas estão protegidas por brácteas – folhas modificadas localizadas na base da flor, que a protegem enquanto está fechada, e que são marcadamente diferentes das restantes folhas que a espécie apresenta.

Foto: Luis nunes alberto / Wiki Commons

Quanto às flores são hermafroditas (masculinas e femininas na mesma flor), pentâmeras, zigomórficas e solitárias, e surgem na axila das brácteas. Possuem um pedicelo mais ou menos reto e flexível, mais longo que a bráctea.

O cálice é profundamente fendido, composto por cinco sépalas verdes, com tons púrpura, densamente recobertas por pelos.

No que respeita à corola, esta é simpétala, ou seja, as suas pétalas encontram-se todas fundidas. Possui cor rosa a púrpura, é pubescente e tubular (constituída por um tubo que se abre em dois lábios, bilabiada), e por vezes esbranquiçada na base e com veios rosados ou púrpura e com palato amarelo.

O fruto é uma cápsula deiscente, oblonga a ovóide, com uma parede lenhosa, pubescente e com pedúnculo curto. Em cada cápsula existem numerosas sementes, muito pequenas, reticuladas e negras. 

Endémica da Península Ibérica

A boca-de-lobo é um endemismo Ibérico, presente sobretudo na parte ocidental da Península Ibérica. Em Portugal é mais comum nas regiões do Centro e Sul, sobretudo na faixa do Litoral, ainda que também se possam encontrar nas regiões do Norte em pequenos núcleos, preferencialmente em sistemas dunares e arribas.

Em Espanha só ocorre naturalmente no Litoral Oeste da província galega da Corunha.

É uma planta bem adaptada a diferentes condições edafo-climáticas, com preferência por locais de exposição solar plena, ainda que se desenvolva em ambientes de meia-sombra.

É comum em solos soltos, afloramentos e paredes rochosas, com preferência por substratos calcários, mas também presente em substrato silicioso. Prefere solos ricos em matéria orgânica e bem drenados, mas também suporta bem os solos secos.

Cresce igualmente em ambientes costeiros, nomeadamente sistemas dunares e ambientes ripícolas. E suporta bem o frio.

Flores sofisticadas

A intensa floração das suas belas e delicadas flores, que ocorre durante quase todo o ano, tornam a boca-de-lobo uma planta ornamental interessante para a decoração de jardins e outros espaços verdes. Pode ser plantada em canteiros, bordaduras e vasos, e até ser cultivada como flor de corte.

Estudos recentes apontam para que a boca-de-lobo seja uma alternativa interessante, adequada e bem adaptada à implementação de coberturas verdes (telhados, muros e outras coberturas) pela baixa necessidade de manutenção, valor estético e reduzido consumo de água.

Hoje em dia, existem muitas variedades e cultivares, com flores de cores e combinações diversas.

A combinação desta planta com outras espécies, ou a sua plantação de forma isolada, criam ambientes coloridos muito particulares, muito devido ao formato característico das suas flores.

Foto: Miguel Porto / Flora-On

Com um olhar mais atento, é possível ver que as flores destas plantas têm algo de sofisticado. Quando apertadas lateralmente abrem, lembrando a “boca” de um lobo, de um leão ou de um dragão, e daí o seu nome comum – boca-de-lobo. Já para os Ingleses é conhecida como ‘snapdragon’.

Esta não é nada mais do que uma estratégia da flor para dificultar a saída dos seus polinizadores e assim facilitar a polinização. A entrada da flor está fechada, e apenas os insectos mais fortes e pesados (insectos Hymenoptera, Lepidoptera ou Diptera) a conseguem abrir.

O vento também é um bom agente dispersor de pólen, assim como o beija-flor, que consegue “abrir a tampa” da flor e chegar ao néctar que existe no seu interior. Néctar que é também muito apreciado pelas abelhas.

Uma flor de nariz grande

Esta planta também tem sido explorada pelas suas possíveis propriedades medicinais, por ser rica em glicosídeos e iridoides.

Os glicosídeos podem garantir uma ação calmante, emoliente, diaforética, diurética e anti-inflamatória e os iridoides podem apresentar propriedades antimicrobianas e antifúngicas e um possível papel como aleloquímico.

Estas substâncias (iridoides e glicosídeos) têm como principal função a defesa contra predadores, ainda que não haja evidências de que tenha função defensiva em relação à alimentação herbívora de insectos e de outros animais vertebrados.

Segundo a medicina popular, esta planta pode ser usada em aplicações tópicas, para o tratamento de queimaduras e semelhantes, podendo acalmar queimaduras solares, por exemplo. E também pode ser usada em infusões para tratar as mais diversas inflamações e úlceras.

A designação científica desta espécie está muito associada às suas flores. O nome do género Antirrhinum deriva da combinação de duas palavras gregas: antí, que significa “semelhante” ou “semelhante a”, e rhín ou rhinós, que significa “nariz”, e que se refere à forma particular da corola – semelhante ao nariz de certos animais, como o lobo ou o leão.

Já o restritivo específico majus deriva do latim magnus, que significa “grande, maior ou mais longo”, comparativamente a outras espécies do mesmo género.

Outros Antirrhinum em Portugal

O género Antirrhinum tem uma área de distribuição nativa muito localizada, ocorrendo naturalmente na região oeste e central do Mediterrâneo (em países como Portugal, Espanha, França, Itália, Argélia, Tunísia, Marrocos, Líbano, Síria, Líbia, Sicília e Baleares).

Das 21 espécies aceites atualmente em todo o mundo, seis estão presentes em Portugal, um pouco por todo o território continental, ainda que algumas tenham um habitat muito particular.

Destas, cinco são espécies endémicas da Península Ibérica: a Antirrhinum majus subsp. linkianum (antes classificada como A. linkianum), a A. graniticum, a A. cirrhigerum, a A. molle subsp. lopesianum (antes A. lopesianum), a A. meonanthum e a A. graniticum subsp. graniticum (antes A. onubense).

O dragão-das-arribas (A. molle subsp. lopesianum) está classificado como uma espécie Vulnerável em Portugal Continental, segundo a IUCN – União Internacional para a Conservação da Natureza. De acordo com a Lista Vermelha da Flora Vascular de Portugal Continental, a sua área de distribuição natural em Portugal está “restrita ao Nordeste Transmontano, ocorrendo exclusivamente nas escarpas do rio Douro e de alguns dos seus afluentes”.

Dragão-das-arribas. Foto: Carlos Aguiar / Flora-On

A Antirrhinum rothmaleri destaca-se das restantes por ser uma espécie endémica da região de Trás-os-Montes. Segundo a Lista Vermelha da Flora Vascular de Portugal Continental, “é um táxon endémico do nordeste de Portugal, adaptado a um tipo de habitat muito específico, afloramentos em rochas ultrabásicas. A população é constituída por um número reduzido de núcleos populacionais (seis) …”. É avaliada como Em Perigo porque se estima que a população seja constituída por menos de 250 indivíduos maduros.”

Antirrhinum rothmaleri. Foto: Carlos Aguiar / Flora-On

Basta um olhar atento para encontrar bocas-de-lobo e as suas flores de tantas cores em qualquer altura do ano. Até mesmo no inverno.

Dicionário informal do mundo vegetal:

Ascendente – ramo que se desenvolve na posição horizontal ou quase, mas que tende a verticalizar.
Glabra – sem pelos.
Pubescente – que tem pelos finos e densos.
Ovada – folha com a forma de um ovo mais larga perto da base.
Lanceolada – cada folíolo apresenta a forma de lança.
Subaguda – quase aguda.
Truncado – que termina por uma linha ou plano perpendicular aocomprimento ou à altura.
Pecíolo – pé da folha que liga o limbo ao caule.
Inflorescência – forma com as flores estão agrupadas numa planta.
Bráctea – folha modificada, localizada na base da flor que a protege enquanto está fechada.
Hermafrodita – flor que possui órgãos reprodutores femininos (carpelos) e masculinos (estames).
Pentâmera – as peças florais apresentam-se em conjuntos de cinco ou em múltiplos de cinco.
Zigomórfica – flor cuja corola possui apenas um plano de simetria, ou seja com simetria bilateral.
Pedicelo – “pé” que sustenta a flor.
Cálice – conjunto das peças florais de proteção externa da flor – sépalas.
Sépala – peça floral, geralmente verde, que forma o cálice.
Corola – conjunto das pétalas, que protegem os órgãos reprodutores da planta (os estames e o pistilo).
Simpétala – corola cujas pétalas se encontram unidas (“soldadas”) entre si.
Pétala – peça floral, geralmente colorida ou branca, que forma a corola.
Tubular – flor cuja corola possui um tubo muito alongado.
Bilabiada – corola simpétala ou cálice sinsépalo com segmentos dispostos em duas partes – os lábios – opostas.
Palato – saliência do lábio inferior da corola personada (simpétala e bilabiada), a qual encerra a fauce (tubo da corola) por se encostar ao lábio superior.
Deiscente – fruto que, quando maduro, se abre naturalmente para libertar as sementes.
Oblongo – fruto com forma aproximadamente retangular, com polos arredondados.
Pedúnculo – “Pé” que sustenta o fruto.

Carine Azevedo

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