Muitos turistas acham curioso o monumento mas por vezes não alcançam o que estão a ver e o seu real valor.
Bem, avancemos então com a nossa narração antes que o leitor se enfade.
Pois amigo leitor, o pelourinho de Bragança engasta numa tosca estátua zoomórfica um “berrão”, conhecida como “a porca da vila” da Idade do Ferro, muito mais antigo que o pelourinho.
No entanto o “berrão” ou porca dever ser um raro Urso, apesar de pertencerem aos mesmos povos que também esculpiram os conhecidos berrões de Murça e de Torre de D. Chama.
Este original e notável pelourinho medieval, este símbolo do municipalismo de Bragança esculpido em granito como habitual encontra-se espetado no urso. Este assenta sobre um soco com quatro degraus de planta octogonal. As patas são curtas, fruto da demolição causada pelo arranque da obra do seu primitivo lugar. A meio do corpo existe uma corcova que foi usada para nele implantarem o pelourinho.
A data da construção do pelourinho é incerta, alguns leitores indicam que data do séc. XIII. Também Bragança teve foral dado por D. Manuel I em 1514; à doação de foral manuelino seguia-se habitualmente a construção de um pelourinho novo neste estilo, e assim aconteceu na maioria dos casos, em todo o país, mas em Bragança manteve-se o pelourinho antigo.
“Sendo certo que não é possível datar com exatidão este pelourinho, tem sido aceite pela generalidade dos autores tratar-se de obra do século XIII. Note-se que a sua tipologia românica não seria desagradável ao gosto manuelino, nas primeiras décadas de Quinhentos, quando elementos do repertório artístico dos primeiros séculos da nacionalidade eram frequentemente reproduzidos.
O dorso do berrão é trespassado pela coluna do pelourinho, que assenta no degrau superior da plataforma, e seria adicionalmente fixado à escultura através de um espigão atravessando-a na horizontal, vendo-se os respectivos orifícios no seu flanco. O fuste da coluna é cilíndrico e liso, elevando-se a mais de seis metros de altura, e interrompido no terço superior por um anel de pedra; no seu topo encaixa um capitel em largo anel cilíndrico, de onde irrompem quatro braços em cruz. Cada braço, semelhante a uma gárgula, é rematado por representações morfológicas e zoomórficas, figurando duas carrancas opostas, e ainda uma ave e um cão. Os intervalos entre os braços são preenchidos com relevos dificilmente legíveis, aparentemente cenas de suplícios. Sobre o capitel eleva-se uma grande figura fantástica- de bocarra aberta, que serve de tenente a um brasão, apresentado entre as suas quatro patas em garra: de um lado vêem-se cinco quinas e um castelo (torre) ou seja as armas da cidade Bragança”.1
Em 1860 dá-se a transferência do Pelourinho de Bragança, este encontrava-se junto à “Domus Municipalis”, edifício com que estaria em consonância, dada a sua relação com o poder municipal e quiçá fossem construídos na mesma época, sendo levado para o espaço outrora ocupado por uma igreja desaparecida. Seria nesse ano que o Pelourinho de Bragança seria encastrado no Urso totémico?
O certo é que esta união deu um conjunto estranho, mas inédito e de grande valor simbólico.
Depois de o leitor analisar ao vivo e em fotografia a figura zoomórfica, o que acha dela, é um porco ou um urso?
O Pelourinho de Bragança deveria ser restaurado com o expurgo dos musgos e das outras criaturas botânicas que não permitem fiel leitura do mesmo.
1- Texto retirado do IGESPAR
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