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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

Um cheque contra o despovoamento do Interior. Câmaras dão prémio para incentivar natalidade

 Autarcas de Vimioso, Carrazeda de Ansiães e Boticas admitem que a medida não resolve problema, mas também é um sinal de protesto contra o alegado abandono do Interior por parte do Governo.
Fernando Queiroga
distribui os cheques de mil euros
Foto Câmara de Boticas
Os presidentes dos municípios de Vimioso e Carrazeda de Ansiães (distrito de Bragança), e Boticas (Vila Real) juntam-se nas críticas aos sucessivos governos por terem abandonado o Interior do país. Dizem que, se isso não tivesse acontecido, as câmaras que dirigem não precisariam de dar subsídios para incentivar o nascimento de crianças.

Os autarcas admitem que nenhum casal decide ter um filho para receber mil euros da Câmara. No entanto, os apoios à natalidade são como que um prémio a quem permanece na terra, resistindo à saída para procurar vida melhor noutro sítio.

No concelho de Vimioso, o presidente da Câmara, Jorge Fidalgo, refere que, quando a autarquia decidiu apoiar os nascimentos, fê-lo para "alertar o governo central para o grave problema demográfico" que afeta concelhos como o seu. "Temos uma grande área, mas uma baixíssima densidade populacional", explica.

Fidalgo está convencido de que, "enquanto não existirem políticas direcionadas para estes territórios", vai ser "muito complicado contrariar o problema" geral de despovoamento. Para este contribuem outros mais específicos, como a falta de ensino secundário. "Dificulta muito a fixação de pessoas e é incompreensível", critica o presidente do município de Vimioso. Acrescenta que, "a partir dos 15 anos, os jovens têm de sair do concelho para poderem frequentar a escolaridade obrigatória, uma vez que o Governo não lhes dá a possibilidade de o fazerem na sua terra". A situação traduz-se num "verdadeiro fardo para as famílias".

O presidente da Câmara de Boticas, Fernando Queiroga, diz que estão a ser desenvolvidas políticas que promovam a criação de emprego para que as pessoas não vão embora do concelho. Porém, está convencido de que, "se o Terreiro do Paço olhasse para o país de forma equitativa", em termos de investimento público, seria mais fácil evitar o despovoamento do Interior.

Queiroga dá o exemplo da Linha SNS 24. "Porque é que tem de ficar na periferia de Lisboa e não pode vir para um dos concelhos do Interior?" O autarca sugere que os "dois mil enfermeiros deste serviço criariam uma grande dinâmica à volta" do local onde o serviço estivesse instalado, "aumentando o número de nascimentos".

Em Carrazeda de Ansiães, onde as ajudas à natalidade variam entre os 500 euros para o primeiro filho, mil euros para o segundo e 1500 euros a partir do terceiro, o presidente da Câmara, João Gonçalves, salienta a "diminuição de serviços públicos" como um dos convites à saída dos residentes para outras paragens. Acrescenta-lhe o "menor investimento público" para criticar que são "sinais dados às pessoas e às empresas" que "têm de ser contrariados pelos municípios".

No caso de Carrazeda de Ansiães, os apoios à natalidade são atribuídos apenas a famílias carenciadas. João Gonçalves destaca outros, nomeadamente ao nível dos impostos. "Tentamos levar a fiscalidade ao mínimo possível, precisamente para contrariar o facto de sermos um país com uma das maiores cargas fiscais dos países europeus", sublinha.

A Câmara de Vimioso começou a apoiar a natalidade no concelho em 2002. Desde então já investiu mais de 700 mil euros. Por cada bebé que nasce a Câmara dá um cheque de mil euros aos pais. Este ano foram 17. Depois paga as vacinas não comparticipadas, com um custo de 400 a 500 euros por bebé, e continua a ajudar até ao ensino superior. A partir de 2022, a frequência da creche vai passar a ser gratuita, o que vai custar à Câmara 25 mil euros por ano.

Mesmo sabendo que estas ajudas não são suficientes para travar a saída de pessoas do concelho, o presidente Jorge Fidalgo nota que "vão continuar", porque "aqueles casais que continuam a viver, trabalhar e a constituir família em Vimioso merecem este esforço e reconhecimento por aquilo que têm feito".

Em Boticas, onde este ano nasceram 17 crianças, a Câmara já investiu 400 mil euros em 12 anos de ajudas à natalidade. Além dos mil euros por nascimento, os pais ainda recebem 50 euros mensais, entre os três meses e os três anos do bebé. Para o autarca, Fernando Queiroga, "é uma forma de premiar os resistentes que continuam a acreditar no concelho". Se assim não for, dentro de alguns anos, Boticas poderá ser um município "muito bonito, mas sem gente".

Apesar de todos os apoios à natalidade, nestes pequenos concelhos transmontanos a tendência é para continuarem a envelhecer e a perder população.

Eduardo Pinto

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