O presidente da câmara de Vila Flor está preocupado com o desmatamento de vários terrenos no Monte das Capelinhas, designado localmente por Serra. A encosta na direcção da aldeia de Roios, no concelho de Vila Flor, outrora preenchida maioritariamente por pinheiros e outras espécies florestais, está agora mais despida. A proximidade com as casas da povoação deixa o autarca apreensivo em relação à segurança da localidade.
Pedro Lima teme que a situação possa provocar deslizamento de terras, com a chuva mais abundante, ou então potencie incêndios. “O que me preocupa é se esta situação vier a ser um problema de protecção civil. Que pode ter duas vertentes, ou por chuva haver uma movimentação de terras para cima do aglomerado urbano, da aldeia, ou, por outro lado, pelo não planeamento de um repovoamento adequado, haver o crescimento de espécies de mato e daqui a uns anos haver o perigo de um incêndio florestal que pode também afectar a aldeia”, afirma o autarca. O corte começou a ser feito há cerca de três meses. “Já há algum tempo que estão a fazer este desmate, um corte raso, e está a ser feito de uma forma contínua”, refere, acrescentando que “há hoje uma área na serra, de cerca de 300 hectares, que está completamente nua”.
Cortes noutras áreas
Outra preocupação do executivo municipal é que o corte em larga escala não fica por aqui. “O problema está a alastrar. Já começou o desmate na serra por cima de Vila Flor, as moto-serras são audíveis aqui da câmara municipal, preocupa-me sobremaneira que haja esta abate indiscriminado sem haver um planeamento futuro e que, depois, tenha de ser accionada a protecção civil para acudir, seja a uma movimentação de terras ou, igualmente perigoso, a um incêndio florestal”. A madeira terá sido vendida pelos proprietários dos terrenos e os trabalhos são realizados por uma empresa, que por esta altura continua a cortar árvores, mas na encosta virada à sede de concelho.
Segundo Pedro Lima, o corte das árvores tem as autorizações necessárias das entidades competentes nesta matéria, no entanto, considera que este tipo de gestão florestal pode ter consequências no futuro e enquanto responsável autárquico e da protecção civil municipal não fica descansado com a situação. “Está tudo dentro da lei, porque caso contrário tínhamos tomado outras medidas. Por estar tudo dentro da lei, mas que a olho nu parece errado, estamos a tentar despertar consciências e formar uma opinião pública para que a gestão florestal seja feita de outra maneira”, afirmou.
O presidente da câmara não sabe qual o motivo da venda de tão grande quantidade de madeira, no entanto, admite que pode, perante “a pressão de fazer a limpeza da floresta”, haverá “proprietários que, dada a opção, fazem um desmate contínuo e total, o que é do ponto de vista ambiental e paisagístico, terrível”. O autarca considera que alguma entidade deveria ter uma palavra a dizer sobre este tipo de desmatamento e sobre as obrigações de repovoamento florestal. “O que me parece lógico é que alguém, fosse a câmara municipal ou qualquer outra entidade, deveria, quando é um abate total, ter uma palavra a dizer, ter um plano de repovoamento aprovado no mínimo. A câmara municipal talvez fosse a entidade a ser tida em conta, porque é sempre a entidade a ter em conta, pelo menos quando as coisas correm mal, que é o que eu temo nesta situação, porque é a entidade responsável pela protecção civil”, alega.
Pedro Lima considera que, para evitar essas situações, “caso haja um abate total, devia haver um plano de repovoamento florestal”, ou então “incentivar os proprietários a fazerem um abate parcial, deixando faixas que seriam de segurança, para reter terras ou até para uma limpeza mais adequada da floresta”. O autarca de Vila Flor afirma ter sido alertado para esta situação pela junta de freguesia de Roios, “que transmitiu a preocupação do próprio executivo da junta e que é apoiada pela população”.
Habitantes preocupados
António Amaral Sousa tem uma casa logo abaixo do muro que sustenta a encosta da serra, em Roios, onde mora desde que regressou de França. Inicialmente, o corte até lhe pareceu boa ideia, porque os pinheiros estavam já muito altos e próximos da habitação, mas a verdade é que ficou “com pena que os deitassem abaixo”. “Talvez pudessem ter encostado mais um bocadinho para trás, para fora da casa, porque também estava aqui muito ao redor, mas agora até parece que nos falta o ar”, afirma. “Ainda não há muito tempo, ao pé de uma casa ali em baixo, escorreu muita água. A gente o que tem medo é que se for mexida a terra, pode vir um dia a água e rebentar com o muro e tudo. Estamos à espera a ver o que isto dá, um dia que venha aqui uma enxurrada boa de água, pronto… Porque o monte pegava muito na água”, afirma. E também o preocupa o mato que pode crescer agora que não existe a sombra do pinhal. “Podem nascer outras árvores ou mato, depois é mais baixo, o lume apanha- -o muito mais rápido”, teme. O habitante de Roios admite que sendo terrenos privados, os proprietários podem vender o que entenderem, no entanto, acredita que “podiam não vender assim tanto, deixar de quando em onde algumas árvores, em 10 deixar uma”.
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