Estas estranhas formações, compostas por cogumelos, são partes visíveis de um mundo que se esconde debaixo do solo, longe da nossa vista. Rui Simão, da Ecofungos Associação Micológica, ajuda-nos a desvendar o mistério.
Cogumelos do género Agaricus. Foto: Dr Hans Gunter Wagner / Wiki Commons |
Na cultura irlandesa, acreditava-se que os anéis de fadas – conhecidos por fairy rings – estavam “associados a portais mágicos entre o reino dos humanos e os reinos dos elfos, dos duendes ou das fadas”, conta Rui Simão, especialista em cogumelos.
Os anéis de fadas são conjuntos de cogumelos que surgem em ambientes florestais ou em prados e relvados, incluindo parques e jardins urbanos, como o Jardim Gulbenkian. Na maioria das vezes, esse conjunto de cogumelos assume o formato de um anel – daí o nome. E essa forma tem uma explicação que nada deve ao mundo sobrenatural – tem tudo a ver com a vida misteriosa dos fungos.
Anel de fadas formado por gaiolas-de-bruxa (Clathrus ruber). Foto: Rui Simão, Ecofungos Associação Micológica |
Anel de fadas composto por cogumelos do género Clitocybe. Foto: Henk Monster / Wiki Commons |
Um cogumelo é uma pequeníssima parte de um fungo que costuma ser visível por um curto espaço de tempo, normalmente no Outono. O resto do fungo (quase tudo o que o compõe) permanece no subsolo ao longo do ano: os seus fios microscópicos (conhecidos como hifas), vão-se dividindo e espalhando em comprimento, formando uma rede chamada de micélio.
Os anéis de fadas “derivam do crescimento radial e mais ou menos concêntrico do micélio”, explica Rui Simão. “O aparecimento dos corpos frutíferos (cogumelos) surge na zona mais recente do micélio – nas pontas da estrutura – e daí podermos observar a formação do anel.”
A maior parte destes “anéis” são formados por cogumelos de espécies saprófitas – fungos que se alimentam da matéria em decomposição no subsolo, ajudando com a reciclagem desses nutrientes no mundo natural. É o caso da espécie Marasmius oreades, exemplifica o especialista.
O responsável da Ecofungos também já encontrou anéis de fadas formados por outras espécies, como a gaiola-de-bruxa (Clathrus ruber), e ainda em cogumelos dos géneros Clitocybe (muito comum), Agaricus e Hebeloma.
Cogumelos Clitocybe odora. Foto: Holger Krisp / Wiki Commons |
Assim, se se deparar com uma destas estranhas formações de cogumelos, já sabe que são apenas a “ponta do icebergue” de uma vasta rede subterrânea ligada aos fungos (e também às raízes das árvores), que se estende por debaixo da terra.
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