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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira..
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

Pode seguir…

 Não passava nenhum carro em Outeiro, em frente ao tronco que servia de assento, à entrada da Taberna do Chino, raros eram, que não “recebesse”, do Armandico,  a indicação.

 PODE SEGUIR!

Não se sabia bem para onde seguiriam até chegarem ao cruzamento, a seguir ao café do Chico Emílio. Ou iam para os lados de Pinelo ou para as bandas de Argozelo. Também não era importante saber. Que fossem em paz, com calma e segurança para chegarem bem ao destino.

Mas, o mais importante estava feito. O Armandico já os tinha autorizado a seguirem caminho.

Nas tardes de Verão, poucos entravam para dentro da taberna do Chino. Cá fora era o espaço privilegiado para ouvir, falar, aprender e rir… e até por vezes, sentir humedecer os olhos…

Sentados no velho tronco, em cima do toro, numa qualquer grade de cervejas virada ao contrário. O mais importante eram os sempre presentes e as histórias de vida que iam contando.

Umas verdadeiras, outras fantasiadas. Outras mais que verdadeiras mas com um enfeite de fantasia que as tornava únicas. O Chino, com a sua simplicidade e carácter, era mestre na arte de saber receber e de agradar.

A maioria dos presentes, nessas tardes de Verão, tinham rostos cansados e enrugados. Cansados por anos e anos de trabalho duro e pouco compensado… cá, pelas Franças e pelas Espanhas. É engraçado, recordo neles os olhos claros e brilhantes… uns olhos que revelavam muita mais juventude que os corpos, já curvados…

Quando um contava uma história, nem que fosse mais uma vez das mil vezes repetidas, fazia-se um silêncio sepulcral. Uns só ouviam, outros acenavam que sim, com a cabeça.

Era duro, nas minas em Espanha. Não havia dia nenhum em que não pensasse em regressar…

Fui um escravo em França. Se soubesse o que sei hoje nunca tinha ido…

De vez em quando, faziam-se uns grandes silêncios até alguém ter a coragem de o quebrar. Um dos corajosos, de voz tonante,  era o rapaz do talho ambulante…

Traz-me uma baldeirada dizia o Armandico. Faz-me uma mistura. Tira-me um café.

- Um café a esta hora? Peguntava  o Chino.

Tens razão, tráz-me um copo… mas só a meio.

Para mim um traçado.

Bom, aproximava-se a hora de ir merendar e a “rapaziada” lá ia debandando na eterna e lenta caminhada. A pressa para chegar a qualquer lado já não era muita.

Fiquei eu e o Tio António… (O Chino). Penso que o Malaquias também ficou mais um bocado.

Vamos merendar? Pergunta ele.

- Vamos, também já comia qualquer coisa... Vou buscar uma cerveja.

Entra em casa e passados 5 minutos sai com a caçadeira nas mãos. Pensava eu que tinha ido buscar um naco de presunto, ou coisa que o valha.

Fiquei a olhar.

Atravessa a estrada, em 4 passos rápidos e largos e aponta para um bando de pombos que andava “a bailar” pelas alturas nas fraldas do Sto Cristo. Dispara. Caíram dois. Lá os foi buscar junto às amoreiras. – Estes não têm dono.

- Acende o lume, diz-me.

E eu acendi… e lá merendámos uns pombos assadinhos na brasa.

Que os Deuses nos perdoem se cometemos algum crime. Não foi por mal.

P.S. Estas curtas linhas que surgiram agora, vindas de largos, saudosos e cada vez mais continuados pensamentos, são dedicadas ao Tio António (Chino) ao Tio Armando (Armandico), a todos os que sentiram e ficaram tristes com o fecho da Taberna… e aos Netos do Tio António, o Paulo e João Pedro.

HM

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